Previsibilidade pode contaminar governo Paulo Cezar – Maurílio Fontes

Em política, como em algumas situações da vida cotidiana, a previsibilidade é um mal com grande poder de letalidade. Indica zonas de conforto, leva ao comodismo e estabelece horizontes aquém das possibilidades momentâneas.  Constrói avaliações descuradas da realidade concreta, embotando a relação governo e sociedade.

Romper com o previsível, encantar os eleitores e satisfazer as demandas da sociedade são caminhos que precisam ser trilhados a cada momento pelo governo. Não é fácil manter ao longo de sete anos o mesmo ímpeto. Quem governa, é desnecessário ressaltar, enfrenta desafios a cada minuto e o segredo é saber superá-los.

As correntes da previsibilidade não podem amarrar o governo, deixando o refém do que fez, refreando seu élan e impondo um envelhecimento precoce, que impacta diretamente na imagem percebida pelos cidadãos. Política e percepção caminham juntas.

Quem não se der conta disso e não for capaz de agir chegará nos estertores do governo sem capacidade de impor as agendas política e administrativa, balançando ao sabor dos ventos e navegando em mares tempestuosos.

A agenda política, com a hipertrofia história do Executivo, deve caber ao gestor da prefeitura e não às outras forças políticas, aliadas ou oposicionistas. Abrir mão desta prerrogativa é quase como deixar um barco sem leme em mar aberto.

De outro lado, a agenda administrativa, atribuição praticamente indelegável do governo, deve apresentar fatos que repercutam na qualidade de vida dos cidadãos.

O governo municipal, sob certos aspectos, está enredado em uma teia de fatos, discursos e percepções difícil de desenrolar: A SMTT aplicará multas em demasia no decorrer de 2015. Vai faltar água em alguns bairros de Alagoinhas. As obras sob a responsabilidade da Secretaria de Infraestrutura não serão concluídas dentro do cronograma inicial. A Caixa Econômica será responsabilizada pela demora de conclusão das obras. O prefeito está fazendo um grande esforço para captar recursos. A administração municipal buscará novas parcerias com o governo do estado. Estamos pensando em Alagoinhas 2030. Os postos de saúde não conseguirão atender as demandas das localidades de referência. A relação com a Câmara de Vereadores manterá a mesma lógica.

Estes itens, bem como outros que poderiam ser citados pelo articulista, compõem a agenda da previsibilidade do governo Paulo Cezar e podem contaminar o seu último biênio de administração.

Não há, aqui, exercício de futurologia, até porque esta não é tarefa de quem faz análise política. Os fatos estão aí.

O governo tem uma grande oportunidade para romper com a previsibilidade: a nomeação do novo titular da SEGOV deveria sair do lugar comum, agregando um nome fora dos círculos mais íntimos do prefeito e que tenha capacidade de articulação política e social, estabelecendo um fato político para a administração municipal, que se revigoraria, sob certos aspectos, com o ingresso de alguém que detenha visão estratégica, capacidade de ação e vontade de aglutinar em torno do governo novas forças.

Sair de um certo faz de conta é o caminho. Velhas peças, já desgastadas pelo tempo, não possuem credibilidade e capacidade discursiva para convencer a sociedade alagoinhense sobre as boas intenções do governo.

A crise que a cada dia ganha contornos de um tsunami econômico exige competência e eficiência daqueles que comandam o Executivo.

Sair da previsibilidade é mais difícil, complicado e extenuante, mas certamente uma nova agenda se impõe. Queira ou não o governo.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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