Presidente da Fieb diz que Estado atravessa um problema de gestão
Embora o cenário financeiro estadual seja de contenção de despesas, o presidente da Federação das Indústrias do Estado da Bahia (Fieb), José Mascarenhas, acredita que não se trata de crise, mas um problema de gestão que pode ser superado. “Não há nenhum fator estrutural que determine que o Estado tenha uma crise. Na verdade, até a receita de ICMS, que é o principal imposto do governo, vem aumentando de maneira que é só ajustar a despesa à receita e tudo ficará bem de novo”, sugeriu. Nesta entrevista à Tribuna, o dirigente da entidade admite que esse quadro na economia baiana preocupa o empresariado “na medida em que o Estado é um bom comprador”. Segundo o dirigente da Fieb, o principal gargalo para o crescimento do Estado é a precariedade na área de infraestrutura, a exemplo dos portos. Candidato à reeleição, o presidente frisa ainda a contribuição que a entidade tem dado ao Estado. Confira:
Tribuna – Como a Fieb vê o cenário de crise financeira no país, que atinge agora a economia do Estado? Preocupa o empresariado da Bahia?
José Mascarenhas – Crise financeira mesmo não há. O que há é um problema local. Pelo que eu tenho visto, não é um problema de receita, mas sim de despesa, e isso significa gestão, o que faz com que não tenhamos muito a opinar, pois não conhecemos o que está envolvido. Agora, nacionalmente, digamos que não há nenhuma crise financeira. O que há é um problema de instabilidade e volatilidade, principalmente na área do câmbio, mas que aparentemente já vem se estabilizando, pelo menos é o que se espera. Também a balança comercial está com um desempenho ruim, mas isso também é derivado da crise internacional que fez com que os países mais compradores do Brasil, como a China e os EUA, decrescessem em suas atividades e com isso de fato houve não só redução de volume, como redução de preço. Agora o Brasil tem um problema geral de baixa competitividade. Esse sim é um problema estrutural e que deve ser resolvido de uma forma ou outra, se o país quiser fazer parte desse concerto de nações mais avançadas no panorama internacional. A indústria está sofrendo muito com essa crise de competitividade, e ela está voltada para esses assuntos todos que temos conhecimento.
Tribuna – Preocupa ao empresariado e à indústria baiana esse momento que o Estado atravessa?
Mascarenhas – Preocupa sim, na medida em que o Estado é um bom comprador. Em seu volume de compras e de atividades, ele é um agente importante. Na medida em que ele deixa de comprar ou não paga, isso preocupa e traz problemas para o conjunto das empresas, que vão ter que se adaptar a essas novas circunstâncias. Mas também eu acho que o Estado pode superar essa crise. Eu não tenho detalhes de como está sendo conduzido, mas eu espero que o Estado supere esse momento em breve.
Tribuna – Seria muito mais um problema de gestão do que algo generalizado?
Mascarenhas – Com certeza. Não há nenhum fator estrutural que determine que o Estado tenha uma crise. Na verdade, até a receita de ICMS, que é o principal imposto do governo, vem aumentando, de maneira que é só ajustar a despesa à receita e tudo ficará bem de novo.
Tribuna – Qual a avaliação do governo Wagner? Qual o principal erro e acerto da gestão?
Mascarenhas – Olha, é muito difícil fazer essas avaliações porque todas têm um caráter não objetivo, mas a gente sente o governo muito voltado à atração de indústrias e, do ponto de visto nosso, isso é absolutamente importante, de maneira que eu considero esse um bom mérito do governo. Eu não tenho o que falar de débitos para falar no sentido contrário da palavra porque isso aí termina sendo uma análise política e eu não quero me envolver neste campo. Mas eu acho que o governo nos deve uma ação mais efetiva no campo da infraestrutura. O problema do Porto de Aratu não está resolvido. Esse é um problema importante para a indústria do Estado resolver. A questão da gestão dos centros e distritos industriais deve ser resolvida. Ou seja, o governo atrai indústrias, mas não resolve a infraestrutura. Enfim, na nossa empresa temos uma máxima de que o empresário nunca deve estar satisfeito. Então, se você perguntar se estou satisfeito até conosco mesmo, eu vou dizer que não estou. Portanto, temos sempre coisas que consideramos que podem melhorar tanto no governo, quanto nas empresas.
Tribuna – Qual o maior gargalo que dificulta o crescimento do Estado?
Mascarenhas – Olha, basicamente a infraestrutura mesmo. O maior problema para a indústria é a infraestrutura e principalmente, de novo, o porto, pois a Bahia é essencialmente produtora de bens intermediários e importadora de bens intermediários. Ela não tem o mercado que você possa dizer que tenha escala para trazer produtos finais e ser absolvida internamente. Essa convivência com importação e exportação na Bahia é muito grande. Aqui na região, o maior movimento de importação e exportação é a Bahia, exatamente pelo fato de a economia dela ser produtora de commodities e produtora de bens, como exemplo, automóveis que no fundo você tem que exportar porque o mercado não absolve. Os petroquímicos e de celulose são intermediários. Por isso tudo é crucial ter um porto de boa qualidade aqui na Bahia para a área industrial, e basicamente é Aratu. Faltam ligações com o Porto. Por exemplo, começou-se a fazer a ligação ferroviária de Camaçari com o porto e parou. Não temos notícias de retomada. Enfim, tem que dá um crédito, por exemplo, a essas estradas que foram concessionadas da área do Polo Petroquímico, a CIA – Aeroporto, mas de uma maneira geral esse é um item que a gente sempre tem sentido falta.
Tribuna – Na visão do senhor, qual a dificuldade para destravar projetos importantes como a Ferrovia Oeste Leste (Fiol) e o Porto Sul?
Mascarenhas – Esse é um problema muito sério, um problema nacional de gestão da área de logística do governo, que tem feito um esforço grande de modificação de padrão. Ainda ontem (quinta) eu fiz uma palestra para os secretários de Planejamento do país e eu dizia que era preciso aproximar o sonho da realidade. O governo criou uma série de projetos no campo da infraestrutura, na área de transportes, ferrovias, rodovias e portos, que eu chamo isso de sonho, mas isso não está aproximado da realidade, que é a execução desses projetos. Começa pela própria elaboração desses projetos que é ruim, o que cria grandes problemas na execução porque vem as fiscalizações de órgãos como a CGU e o TCU que levantam problemas, parando as obras. O projeto da Fiol, por exemplo, apresentou muitas deficiências. Isso é muito ruim porque se para o projeto, desemprega as pessoas, o custo sobe. Mas esse é o estágio do Brasil. Reconheçamos que não é um problema só da Bahia. Vários outros projetos sofrem o mesmo problema.
Tribuna – Como vê a insegurança jurídica na Bahia? Isso afasta investidores?
Mascarenhas – Não se pode dizer que há uma insegurança jurídica generalizada. Ao contrário, o governo até tem se jactado todos os níveis de cumprir os contratos. De certa forma isso existe. O que há são marcos regulatórios ainda não suficientemente maduros, capazes de atrair os investidores de uma maneira tranquila, mas isso tem melhorado. O que há é certa forma de confiança e certas intervenções do governo onde não deve, por exemplo, há uma certa intervenção para tentar regular a rentabilidade das empresas e isso não é bom. Claro que deve haver competição e investimento em cada um desses projetos, mas é preciso garantir que essas competições sejam bem feitas para que se dê um menor preço, mas com uma melhor qualidade. Essa coisa do governo administrar as taxas que estão se introduzindo aqui no Brasil não é bom e isso é um impeditivo a uma maior participação dos empresários. Agora é preciso dizer que o governo vem tentando melhorar esse relacionamento, até porque esses investimentos muito grandes que têm sido planejados necessitam que haja um relacionamento bom entre o governo e as empresas sob pena de o governo não realizar o que ele precisa.
Tribuna – A iniciativa privada não poderia dar uma contrapartida maior à população, através de parcerias com o poder público?
Mascarenhas – O governo já alertou para essa necessidade, um pouco tardiamente, mas já se atentou para isso. O governo vem abrindo a possibilidade de um relacionamento mais amplo com a iniciativa privada. Agora a coisa tem que ser um pouco passo a passo. Há ainda algumas coisas a serem feitas, a melhoria dos projetos e a melhoria contínua de rentabilidade dos negócios para que as empresas participem das concorrências com garantia de que os negócios serão executados com a qualidade e com os valores negociados.
Tribuna – Uma onda de violência estaria impactando nas indústrias do Polo? Isso preocupa?
Mascarenhas – A indústria do Polo foi uma generosidade de sua parte, mas uma onda de violência existe no Estado todo e no Brasil todo. Isso depõe contra a atratividade do Brasil, muitos investidores têm reclamado disso. Isso é um problema complexo e que precisa ser resolvido. A violência no Brasil e na Bahia, que é o que nos interessa, atinge índices inaceitáveis, quando se compara a outros países. É claro que as áreas onde há possibilidade maior de retorno são as mais atingidas e possivelmente o Polo seja uma dessas, mas não é só no Polo. São os bancos, é tudo que signifique estoque de atacado e dinheiro e até mesmo as pessoas físicas.
Tribuna – Como fica a petroquímica baiana, devido o gás dos EUA ser muito mais barato que o usado no Brasil? Perdemos competitividade?
Mascarenhas – Essa questão é de novo um problema nacional. Todo o Brasil reclama disso. Não é só a indústria petroquímica, mas a indústria por excelência porque há o uso do gás como matéria prima. Nós temos feito sempre uma pressão para encontrar uma solução, pelo menos há cinco setores que se unem para encontrar uma solução. Basicamente, o que se diz é que isso não resolve porque o Brasil não tem tido gás, mas agora, com a ideia do pré-sal, essa coisa vai mudar e o que se quer é estabelecer uma política nova a partir das disponibilidades maiores que o pré-sal significa. Tem que se entender é que com esse gás americano não há condições de ser competitivo, exceto se nós tivermos a mesma condição de extração do gás de onde eles extraem. Nesse ponto, a Bahia aqui no Brasil é um lugar privilegiado, mas ainda não se supõe que mesmo a gente tendo essa rocha significa que a gente vai extrair esse gás ao preço dos americanos. Isso tudo por uma questão basicamente de infraestrutura, pois os americanos têm uma infraestrutura enorme de poços, perfurados, de conhecimentos geológicos, de gasoduto, de estradas e nós não temos. Isso tudo significa custos na hora da exploração que você que vai ter que agregar ao produto, mas mesmo assim pode sim haver uma política nova. Nós estamos todos pedindo ao governo que faça uma política de gás e aí queríamos que fosse considerada a remuneração do barril, como um todo para não prejudicar os produtores, basicamente a Petrobras, mas também admitir que a gente possa ter gás. Vai haver agora em novembro uma concorrência da Agência Nacional de Petróleo toda ela voltada para gás e a Bahia está bem posicionada com alguns campos, mas depende de a natureza oferecer gás pra podermos explorar. Vamos rezar para que isso ocorra.
Tribuna – Como está o desempenho do Cimatec. Há algum plano para expansão?
Mascarenhas – A expansão do Cimatec vai de vento em popa, numa velocidade grande e ampla que nos preocupamos em ordenar esse processo porque, na medida em que o Cimatec foi assumindo competência para resolver uma serie de problemas, ele foi atraindo várias demandas diversificadas. Estamos aí trabalhando com os alemães, fazendo um planejamento estratégico para os próximos 20 anos, discutindo exatamente como deve ser as prioridades que o Cimatec deve se dedicar com mais intensidade. Quando isso tiver pronto, o que vai demorar um pouco vai ser um trabalho muito bom para a Bahia. Isso vai incentivar uma série de indústrias que nós temos mais propensão a desenvolver. O Senai já dobrou de tamanho nesses últimos anos e a expectativa é de dobrar de novo em breve. Então há um crescimento muito grande, muito rápido e que a gente tem que ter um pouco de cuidado na administração desses conjuntos. Mas, tudo vai indo bem e este ano vamos concluir o Cimatec 3 e 4 que estão no final da execução e já estamos tratando de começar 5 e 6. São projetos novos, voltado para a inovação.
Tribuna – A falta de mão de obra qualificada na Bahia é um problema ou essa questão não preocupa?
Mascarenhas – Olha, hoje nós temos garantido a todas as indústrias que se instalam aqui na Bahia que não deixem de funcionar aqui por falta de mão de obra. Nós garantimos trabalhar em conjunto e preparar e qualificar pessoal para não deixar que nenhuma deixe de funcionar, mas o problema é mais complexo. O problema é que você precisa de qualificação de uma mão de obra porque a indústria é cada vez mais exigente. Digamos até que você tenha os trabalhadores, mas eles não estão suficientemente qualificados, e isso é um problema permanente. Nós temos que investir mesmo na indústria existente para você melhorar a qualificação dos trabalhadores. Esse é o nosso problema constante de você estar reciclando, treinando pessoal novamente e fazendo com que a indústria melhore. A indústria que mais tinha esse problema era a construção civil, mas ela entrou em um período de menor volume de atividades. Esse sim é um problema maior aqui na Bahia, principalmente em Salvador por causa da Louos e do PDDU, que estão atravancando o crescimento da construção civil, de maneira que isso deixou de ser um problema premente, mas nós continuamos o trabalho de melhorar o preparo desse pessoal.
Tribuna – O prefeito ACM Neto vai conseguir modificar a realidade de Salvador e destravar, inclusive, esses impasses referentes à Louos e ao PDDU?
Mascarenhas – Nós estamos acreditando e torcendo que sim, que ele consiga. Estamos vendo os esforços dele para que isso ocorra, mas eu diria que esse é um problema muito mais relacionado a uma decisão da Justiça do que à vontade do prefeito. Realmente tem que destravar esse problema para que não haja mais prejuízos ainda em Salvador.
Tribuna – O senhor é candidato natural à reeleição para a presidência da Fieb? Há quem diga que o alagoano Carlos Gilberto Faria, irmão de PC Farias, que é diretor da Agrovale, poderá bater chapa com o senhor. Há alguma articulação nesse sentido?
Mascarenhas – Pois é. Isso eu também ouço. Na verdade, eu demorei um pouco para tomar uma decisão porque, eu tinha entendido que o meu trabalho já deveria estar terminado na Fieb, mas acontece que estamos no meio de muitos programas simultâneos, de interiorização desses programas do Senai, queremos melhorar a eficiência aqui e tantas outras questões que fizeram com que eu entendesse que era importante ficar por mais um período. Portanto, estou submetendo meu nome aos companheiros no sentido de buscar essa reeleição. Mas ouço também que tem um candidato fazendo oposição. Essa é a regra do jogo democrático.
Tribuna – O senhor acredita que a Fieb tem cumprido o papel dela no suporte aos negócios e no apoio à indústria da Bahia?
Mascarenhas – Nunca podemos estar satisfeitos. Nunca vamos dizer que chegamos ao estágio ideal. O que temos feito é um trabalho grande. Acredito nos resultados do trabalho que está sendo feito. A Fieb hoje ampliou substancialmente suas áreas de ação para atendimento ao interior e que está no inicio prático de implantação, depois da elaboração de projetos, essa ampliação de qualificação e na área de inovação. O Cimatec hoje é uma referência nacional, a oferta desses trabalhos técnicos e pesquisas tecnológicas de inovação. Há um imenso campo de trabalho que nós desenvolvemos. Na área de sustentabilidade, estamos dando um suporte, uma assistência grande às empresas. Há uma estrutura voltada ao desenvolvimento do comércio exterior. Para tudo isso nós sempre temos condições de melhorar e vamos melhorar. Com o tempo vamos aprendendo como fazer mais e melhor.
Tribuna – Como o senhor avalia a implantação do Parque Tecnológico? Por que ainda não saiu do papel?
Mascarenhas – O parque tecnológico é uma atividade do Estado, mas nós estamos acompanhando na medida do possível e procurando também incentivá-lo. O próprio Senai já se comprometeu a ter atividade lá, mas são definições que devem ser dadas pelo Estado. Eu acho que a Secretaria de Ciência e Tecnologia está preparada para tocar até numa expectativa melhor do que a que tivemos recentemente. Temos notícias de que várias empresas já aderiram ao programa do Parque e eu acho que agora, fisicamente, eles estão realizados. É preciso apenas estabelecer a governança para que isso tenha uma projeção no futuro.
Fonte: Tribuna Bahia