Quase ninguém ainda sabe direito o que é o “Mensalão”! Por quê?
1. Em três “saraus” recentes, em que os presentes eram todos de nível universitário, foram feitas as mesmas perguntas por três pessoas diferentes. O que fez o Marcos Valério para ser condenado por tantos anos? Ninguém sabia? Qual a culpa da presidente do Banco Rural que a levou a essa condenação? Ninguém sabia. O Zé Dirceu foi condenado por formação de quadrilha. Como ele operava esse mensalão? Como procedia? Ninguém sabia. O que fez o Genoíno, presidente do PT? Ninguém sabia.
2. Mas há duas exceções: Roberto Jefferson e Delúbio Soares. Vários disseram que Jefferson denunciou o esquema. Mas ninguém sabia que esquema é esse que ele tinha entregado. E Delúbio Soares, vários disseram que era o “tesoureiro” do esquema, embora não soubessem como funcionava o esquema.
3. Qual a razão dessa perda de memória depois da autópsia feita pela CPI dos Correios e das acusações do Procurador Geral e do Ministro-Relator Joaquim Barbosa? Bem, a CPI dos Correios ocorreu há 8 anos. E foram tantos os casos e depoimentos que não há memória de como o esquema funcionava. Já as acusações sublinham os elementos da ordem jurídica que foram violentados e os nomes dos responsáveis e são esses momentos os destacados pela mídia.
4. Mas há uma razão maior que essa. O foco da mídia não foram os réus, o que fizeram e como fizeram, mas o julgamento em si e o protagonismo dos Ministros do STF e do Procurador Geral e, em especial, seus conflitos e expressões fortes entre eles.
5. Reler “Eichman em Jerusalém”, uma reportagem de Hanna Arendt para a revista “The New Yorker”, ajuda a entender enfoques de mídia tão diferentes. Arendt focalizava basicamente o réu, sua história, seus procedimentos, suas responsabilidades. Fez isso de tal forma que é impossível a quem leu seu livro esquecer até aos detalhes o que fez Eichman.
6. Espera-se que quando do encerramento do julgamento do Mensalão, a mídia, de forma detalhada, em edição especial, descreva os crimes perpetrados, as responsabilidades e as funções de cada qual. De outra forma, em breve, os condenados serão vitimizados e absolvidos pela opinião pública. O que dará lastro para a liberdade.
Fonte: Ex-Blog de Cesar Maia