Partidos de centro não descartam apoio a governo Lula para manter controle sobre 250 cargos e verbas de R$ 95 bilhões

Partidos de centro já se mostram dispostos a negociar a adesão ao futuro governo, de olho na possibilidade de manter o controle sobre órgãos que concentram 250 cargos e um orçamento total de R$ 94,7 bilhões em 2023. Boa parte dessas legendas integra a base de apoio do presidente Jair Bolsonaro e foi agraciada com cadeiras importantes da máquina federal em troca do apoio que garantem nas votações no Congresso Nacional.

Mesmo as siglas do Centrão — PP, Republicanos e PL, ao qual Bolsonaro está filiado — não descartam abrir diálogo com o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Siva, na tentativa de selar a permanência de seus indicados em braços do Executivo. Os três partidos formam um grupo conhecido pelo pragmatismo político e, embora hoje estejam com o atual titular do Palácio do Planalto, já integraram os governos petistas de Lula e Dilma Rousseff. Publicamente, no entanto, líderes de PL e Republicanos têm indicado que não devem aderir ao futuro governo, ao menos no primeiro momento.

Um dos órgãos que está sob a influência do Centrão é a Companhia de Desenvolvimento dos Vale do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), responsável por obras de infraestrutura país afora, sobretudo no Nordeste. A estatal abriga afilhados de personagens do União Brasil, PP e PSD. A Companhia foi alvo de diferentes investigações por suspeitas de irregularidades com recursos do orçamento secreto, o instrumento por meio do qual parlamentares destinavam verbas da União sem serem identificados.

Internamente, políticos do PP, principalmente de estados do Nordeste, têm trabalhado para levar a legenda rumo à base de Lula. O próprio presidente da sigla, deputado federal Cláudio Cajado (BA), não descarta a adesão do partido à futura gestão.

— É prematuro. Você não pode criar hipóteses (sobre os cargos). Tem que ver se o PP vai ser base de governo ou não — afirmou.

Ao longo dos últimos quatro anos, em busca da governabilidade, Bolsonaro também partilhou o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs), hoje sob comando de PP e Avante, o Banco do Nordeste, do PL, e a Fundação Nacional de Saúde (Funasa), que está com o PSD. Entregou ainda a aliados diretorias e coordenadorias do Dnit (infraestrutura), Incra (regularização agrária), Ibama, Sesai (saúde indígena) e Iphan (patrimônio), segundo levantamento do GLOBO.

O partido que apresenta mais resistências para mudar de lado é o PL, de Bolsonaro. Comandada pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, a legenda ocupa postos no FNDE e no Banco do Nordeste, além de cadeiras de órgãos federais nos estados. Valdemar deve formalizar hoje a decisão de levar a sigla para a oposição. Não há consenso, contudo, a respeito do melhor caminho a ser tomado. Dos 99 deputados do PP, aproximadamente 40 deles estariam dispostos a fechar com o governo.

O líder do PL na Câmara, Altineu Côrtes (RJ), reitera a posição de se antagonizar a Lula e afirma que seus correligionários não devem se guiar por cargos.

— O governo Bolsonaro vai até 31 de dezembro. Depois disso, o PL mantém a oposição ao governo eleito, então nenhum deputado pode ter interesse em nada se quiser continuar do nosso lado. Perdemos e eleição, somos oposição.

O Republicanos comandou o Ministério da Cidadania durante o atual governo. A legenda já sinalizou que não deve aderir a Lula, ao menos no primeiro momento, sobretudo porque elegeu o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, aliado de primeira hora de Bolsonaro.

Fora do Centrão, as negociações tendem a fluir ainda com mais facilidade. O PSD, por exemplo, já aceitou o convite dos petistas para se sentar à mesa de negociações. Embora não integre formalmente o atual governo, personagens da legenda emplacaram indicados em cargos da administração federal nos estados. Agora, a expectativa é que o presidente da sigla, Gilberto Kassab, negocie um ministério para o PSD comandar a partir de 2023. Dessa forma, compensaria eventuais perdas de postos que o partido ocupa atualmente.

Fonte: O Globo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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