“…o novo sempre vem” – Maurílio Fontes
Quando coordeno campanhas políticas tenho muitas preocupações e algumas perguntas, mas uma indagação ao cliente e a assessores mais próximos é básica para evitar situações inesperadas: Qual adversário, por ser novo em disputas eleitorais, poderá nos surpreender?
Em larga medida as estrátegias são implementadas a partir da resposta e dos atributos do (a) adversário (a) definido (a) como novidade na política.
É sempre mais fácil disputar com quem tem longos anos no exercício de mandatos eletivos em razão do natural desgaste.
As recentes eleições – 2018 e 2020 – são pródigas em exemplos que sustentam a argumentação.
Em 2022 não faltarão resultados para demonstrar que no embate entre o passado e o presente o eleitor fará opções em prol do segundo (a força eleitoral de Lula é uma excepcionalidade, ponto fora da curva, e não é objeto da análise).
Em Alagoinhas, três candidatos disputam a eleição para a Assembleia Legislativa com maiores chances, embora tal assertiva sempre poderá ser desmentida pelos fatos (o que é improvável dada a complexidade da disputa e do quantitativo de votos necessários para garantir uma cadeira no parlamento estadual): Ludmilla Fiscina (PV), Radiovaldo Costa (PT) e Paulo Cezar (SD).
Velho político, que disputa em 2022 sua décima terceira eleição, Paulo Cezar nada contra a corrente da renovação e tenta a difícil conciliação entre passado e presente, sem a força pretérita e nem aliados que encorpem sua candidatura e assegurem mais certezas do que dúvidas acerca do sucesso de sua empreitada eleitoral.
Paulo Cezar disputou em 1988 e 1992 e venceu as eleições para a Câmara de Vereadores. Em 1996 foi vice de Harnoldo Azi na disputa do Executivo. Dois anos depois, em 1998 ganhou a eleição para deputado estadual. Em 2000, quando disputou a Prefeitura de Alagoinhas pela primeira vez como cabeça de chapa perdeu para Joseildo Ramos. Renovou o mandato de deputado estadual em 2002. Em 2004, perdeu mais uma disputa majoritária. Na sequência, outra derrota: ao disputar o terceiro mandato na Assembleia Legislativa não logrou êxito, apesar da expressiva votação. Ganhou as eleições de 2008 e 2012.
A eleição de 2008 inaugurou aquilo que se poderia chamar dos anos de ouro de Paulo Cezar do ponto de vista eleitoral (mas com sérias ressalvas): dois mandatos na chefia do Executivo, sem, no entanto, em 2014 conseguir eleger seu escolhido na disputa por uma cadeira da Assembleia Legislativa e nem em 2016 a sua escolhida para sucedê-lo.
As vitórias em 2008 e 2012 não o transformaram em líder de fato do complexo processo político e foram sucedidas por derrotas em 2014, 2016, 2018 e 2020 (as duas últimas perdidas por Paulo Cezar), demonstrando mais fragilidades do que potências.
Agora, ao mesmo tempo que em ressalta o “passado de glórias” à frente da Prefeitura de Alagoinhas (2009-2016), o ex-prefeito tenta esconder tudo aquilo que depõe contra sua imagem, principalmente em Alagoinhas, numa complexa equação cujo resultado o tempo nos mostrará, mas que de antemão não parece que será favorável.
Se não é novato na política, tendo disputado diversas eleições, Radiovaldo Costa (PT) dispõe de base social construída ao longo de mais de 30 anos de militância sindical e dos três mandatos de vereador em Alagoinhas, que lhe garantiram visibilidade, nível de conhecimento e avaliação positiva de parte dos eleitores alagoinhenses. As eleições para o Executivo disputadas em 2016 e 2020 aumentaram seu recall.
Outro fato importante para Radiovaldo: não ter o nome vinculado a escândalos em 12 anos de exercício de mandatos no legislativo alagoinhense ajuda na construção discursiva de sua candidatura à Asseembleia Legislativa.
O petista consegue mediar satisfatoriamente passado e presente, sem a necessidade de artimanhas para esconder sua história política.
Ludmilla Fiscina disputa a primeira eleição e demonstra intimidade com o “mundo da política” e espontaneidade no contato com os eleitores.
Além disso, alguns de seus atributos estão em consonância com o tempo presente e as demandas de eleitores que não querem requentar o passado, que desejam olhar para o futuro com esperança e querem a renovação dos detentores dos mandatos eletivos, sob novas perspectivas e exigências que parecem se adequar àquilo a que ela se propõe nesta caminhada inicial na política.
O sorriso largo e espontâneo, o lugar da mulher na política e a energia demonstrada nas atividades de campanha são elementos importantes. Afinal, a disputa eleitoral é uma batalha pela conquista de corações e mentes.
O novo tem uma força motriz própria, atrai interesse justamente por não ter estado no jogo eleitoral e estabelece, mesmo que tacitamente, comparações com o passado, resultando em desvantagens para aqueles que, carcomidos pelo tempo, não conseguem projetar um futuro mais palpável em que as pessoas possam acreditar.
O cantor e compositor Belchior, dentre tantas perólas da música popular brasileira, na canção “Como nossos pais” escreveu versos que podem ser usados utilizados em várias situações, inclusive na política:
Mas é você que ama o passado
E que não vê É você que ama o passado E que não vê Que o novo sempre vemO futuro será construído com as decisões tomadas no presente. Quem ama o passado não irá a lugar algum.
Termino o artigo com uma indagação mais ou menos semelhante àquela registrada no início do artigo: quem poderá nos surpreender na eleição de 2 de outubro?
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