‘Não sabia enviar email’, diz ex-preso que foi parar na ONU

Hoje aluno de faculdade de marketing, Edson da Silva, 35, não tinha formação nem sabia enviar emails quando começou como agente da Avante em Paraisópolis, na zona sul de São Paulo. Seu trabalho era levar a proposta de microcrédito humanizado do negócio social aos estabelecimentos de uma das maiores favelas da América Latina.

“A Avante mudou minha vida totalmente. Ela se importou demais com a minha pessoa e não com meu passado”, relata o hoje analista de qualidade no escritório da avenida 9 de Julho, no centro da capital.

A trajetória até a iniciativa, fundada por Bernardo Bonjean, finalista do Prêmio Empreendedor Social 2017, inclui o envolvimento com crack e a condição de ex-presidiário. “Por mais que tivesse todas essas barreiras, eles me deram uma oportunidade de me tornar uma pessoa do bem.”

Leia seu depoimento à Folha.

Comecei como agente em janeiro de 2015, foi quando inaugurou a loja aqui na favela. Fiquei um ano fazendo prospecções, indo até os estabelecimentos levar a proposta de microcrédito da Avante para ajudar a vida desses empreendedores.

Passado um ano, fomos para o escritório, onde comecei a atuar na área de cobrança. É uma cobrança totalmente diferente, humanizada, onde procuramos entender o lado do nosso cliente antes de qualquer coisa, de cobrar um juro exorbitante.

Quem é empreendedor precisa de crédito, e a Avante facilita. Hoje, se um empreendedor vai ao banco, ele requer de muitas garantias para adquirir um crédito. Já a Avante traz facilidade, crédito, meios de pagamentos para esse empreendedor para que ele possa crescer cada vez mais.

[Essa atuação] Impactou bastante Paraisópolis porque, a partir do momento que você acredita naquele empreendedor que ninguém mais acredita, que está inadimplente, e a Avante chega de braços abertos, alavanca o negócio do empreendedor.

Automaticamente ele vai conseguir dar uma condição melhor de vida para sua família e vai impactar toda a família. Impacta no comércio local e na vida das pessoas. Esse é o legado que eles deixam aqui. 

A diferença da Avante para empresas convencionais é que, lá, eles realmente te veem só como um número. A visão é sempre ganhar, não tem um propósito. Já a Avante impacta vidas porque vai até onde os bancos convencionais não vão. Ela atende esses nanoempreendedores se colocando no lugar deles. Calça o sapato do cliente e trabalha muito com a empatia. Eu me identifiquei por causa disso. 

A Avante mudou minha vida totalmente. Ela se importou demais com a minha pessoa e não com meu passado. Nasci aqui em Paraisópolis, quando perdi minha mãe em 1999, acabei me aprofundando nas drogas. Fui viciado no crack dez anos, já trabalhei no tráfico, sou ex-alcóolatra.

E por mais que tivesse todas essas barreiras, eles me deram uma oportunidade de me tornar uma pessoa do bem, ter um emprego digno e mostrar minha família que posso mudar. Se não tivesse acontecido nada disso do passado, eu não teria conhecido a a Avante. 

Vejo como uma vitória, que passei por tudo isso porque eu acho que não tinha que ser fácil mesmo. Agora estou conseguindo conquistar tudo. Eu não tinha formação alguma quando comecei na Avante, não sabia enviar um email. Hoje, estou cursando marketing. Nunca imaginei que eu voltaria a estudar. Estou muito feliz, conhecimento sempre é bom. 

Tinha perdido também o contato com minha filha. Hoje, eu reconquistei esse contato através da Avante, que me deu todo esse suporte, acreditou em mim até mesmo como ex-presidiário. Tantos lugares que as pessoas não dão oportunidade, e a Avante me deu.

Nunca imaginei que o cara da favela ia sair daqui de Paraisópolis e ir lá para Nova York [receber com o presidente da Avante, Bernardo Bonjean, o prêmio GSC 3 Awards], para um local tipo a ONU [apoiadora da premiação], que se preocupa com os problemas do mundo. Me senti o Will Smith de Bell Air. É fantástico, isso daí é inesquecível, não tem grana que pague. É um legado que vou levar para minha vida.

Eu tinha feito uma postagem no Facebook três anos atrás, quando choveu granizo em Paraisópolis. Fiz uma foto com minha filha e mandei para a avó dela, falei que estávamos em Nova York. Por coincidência, no mesmo dia, embarcamos para lá [três anos depois]. Foi algo que se materializou. 

Quero levar de tudo isso que eles [colegas de Paraisópolis] me vejam como um exemplo porque há outros caminhos, é possível mudar. Tenho certeza que, se o Brasil tivesse mais empresas como a Avante, que dá oportunidade para as pessoas das favelas, de menor renda, de ter uma carreira de trabalho, vai melhorar bastante nosso país.

 

Fonte: Folha de São Paulo

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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