Na internet, atos mobilizam 136 milhões

O escritório do consultor de vendas e ativista online Lúcio Amorim fica em posição privilegiada, no 18.º andar de um prédio na Avenida Rio Branco, no centro do Rio. Na noite de segunda-feira passada, uma das principais vias da cidade estava tomada por milhares de pessoas. “Quando vi que estava muito maior que qualquer coisa que já tinha visto, preferi esperar só para fazer este registro histórico”, disse. O resultado foi um vídeo de seis segundos, registrando a passeata de ponta a ponta, transmitido pelo aplicativo de vídeos criado pelo Twitter chamado Vine.

Rapidamente, o vídeo virou hit na internet e se tornou uma das imagens mais divulgadas dos protestos no Rio. Foi transmitido pelo Wall Street Journal, pela emissora canadense CNBC e pela britânica BBC, que entrevistou Amorim.

É um exemplo de como os protestos das últimas duas semanas consolidaram a importância da internet e das redes sociais como ferramentas de comunicação no País. Muitos recorreram aos serviços para se informar, a partir de relatos no Twitter e no Facebook. Vídeos como o de Amorim simbolizaram os eventos tanto ou mais do que as imagens feitas por redes de televisão.

O fluxo paralelo de informação possibilitou fazer comparações com as versões das autoridades. “Muitos representantes do poder não são atualizados sobre as ferramentas,” disse a jornalista e blogueira Sam Shiraishi, especializada em ativismo social.

Um exemplo foi o vídeo amador que mostra um policial quebrando o vidro de uma viatura, sugerindo tentativa de forjar uma ação de vandalismo. “A violência que se viu na quinta-feira (dia 13) foi em grande parte desmascarada por esses vídeos”, diz o professor Pablo Ortellado, do Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas para o Acesso à Informação da Universidade de São Paulo (USP).

Audiência.
Na terça-feira passada, durante as horas mais tensas do confronto entre manifestantes e a Tropa de Choque na Rua Augusta, em São Paulo, a única transmissão ao vivo ficou a cargo do canal online PosTV, com imagens feitas por um iPhone. A exclusividade da cobertura se refletiu nos acessos, que chegaram a 180 mil. O link da transmissão foi compartilhado à exaustão – incluindo pelo jornalista Jorge Pontual, da TV Globo, que elogiou a transmissão no Twitter.

O jornalista Bruno Torturra, da PosTV, diz que a rede veio ocupar um espaço vago. “A gente fez o que se espera que a imprensa faça no mundo conectado das redes.”

O uso das mídias sociais no País tem números grandes e as redes sociais são cada vez mais acessadas na rua, graças ao avanço dos smartphones, que deverão ser 50% dos aparelhos celulares neste ano. De acordo com monitoramento da empresa Scup, publicações sobre os protestos impactaram mais de 136 milhões de pessoas nas redes sociais. Entre 13 e 21 de junho, foram mais de 2 milhões de menções no Facebook, Twitter e YouTube e Google. No mesmo período, a Copa das Confederações teve 214 mil menções. O monitoramento foi feito com base em palavras-chave como #passe livre, #vemprarua e #ogiganteacordou – são as hashtags.

Para Ortellado, no entanto, as ferramentas também servem para repercutir discursos preestabelecidos. “Na rua, vemos uma difusão de pautas. A internet responde com um novo significado o que aparece nos meios de comunicação. Estamos vendo uma espécie de guerra simbólica.”

A jornalista Sam Shiraishi ainda vê uma falta de maturidade política nas redes. “Uma rede como o Facebook favorece a confiança no que os amigos falam, na curadoria de conteúdo deles. Passa-se para frente coisas que nem se leu direito.”
Para Iran Giusti, do grupo Mobilizados, criado no Facebook, as ferramentas digitais podem extrapolar o “ativismo de sofá” e unir pessoas em torno de objetivos. “Estávamos nas ruas e a pergunta era como chamar mais gente. Não somos da turma ‘sai do Facebook’. Somos da turma ‘use o Facebook para fazer coisas reais’.”

Fonte: O Estado de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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