Muçulmanos no Brasil: ‘É preciso dizer não ao ódio’
A comunidade muçulmana no Brasil repudia qualquer manifestação que incite o ódio religioso e a intolerância racial e de culturas e deplora os confrontos no Centro de São Paulo no início da semana envolvendo palestinos e simpatizantes de movimentos da direita. Essa é a posição defendida pela Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fembras).
Em entrevista à Sputnik Brasil, o presidente da entidade, Ali Houssein El-Zoghbi, se referia ao confronto entre integrantes do movimento Palestina para Tod@as e militantes da Direita São Paulo, que protestavam contra a nova Lei de Migração, aprovada no Congresso em 18 de abril e que espera apenas a sanção do presidente Michel Temer. Durante a manifestação, partidários de ambos os grupos se enfrentaram com violência, deixando feridos de ambos os lados. No confronto, uma bomba de fabricação caseira chegou a explodir. Mour Alsayyd e Hasan Zarif foram detidos, assim como os brasileiros Roberto Gomes Freitas e Nikolas Ereno Silva. Os dois últimos foram liberados pela Justiça no mesmo dia e os dois palestinos soltos na quarta-feira.
Integrantes da Direita São Paulo criticam a Lei de Migração, proposta em 2015 pelo então senador Aloysio Nunes(PSDB-SP), hoje ministro das Relações Exteriores. A nova lei revoga o Estatuto do Estrangeiro, de 1980, ainda da época do regime militar. Um dos principais pontos da nova legislação é justamente o repúdio e a prevenção à xenofobia, ao racismo e a outras formas de discriminação. El-Zoghbi diz que a comunidade islâmica no Brasil tem uma posição bastante favorável à Lei de Migração, considerada um avanço não só do ponto de vista do Brasil, como também no mundo, onde surgem hoje legislações extremamente protecionistas.
“Nesse momento, o Brasil assume uma vanguarda que está diretamente ligada à forma como o Brasil faz política externa, que respeita diferenças, de acolhimento, de que o conteúdo da misericórdia se sobrepõe a qualquer outro conteúdo. Não vejo que a Lei de Migração traga qualquer tipo de risco”, diz o líder muçulmano, lembrando a forma como o país vem acolhendo os refugiados do Haiti que buscam asilo no país.
Para El-Zoghbi, a comunidade islâmica defende a liberdade de expressão e manifestação desde que pautada por uma conduta adequada. Segundo ele, o grupo Direita São Paulo tem característica criminosa, principalmente nas manifestações dirigidas contra o islamismo, que se caracterizam pela intolerância e pelo preconceito, dai o porquê da necessidade de as autoridades de segurança terem de agir para coibir esse tipo de manifestação.
“Queremos desconstruir essa ideia de que o Islã está aqui para fazer proselitismo, para poder ter mais adeptos. Queremos desconstruir a ideia de que o Islã não é compatível com a democracia e, acima de tudo, com a cidadania. A cidadania brasileira não deve nunca vir acompanhada da origem. Temos que integrar todas as pessoas e não discriminar. O momento é preventivo. Devemos dizer não a qualquer atitude de força. Temos que esclarecer para os nossos jovens, que não passaram pelo período da ditadura, o que isso significa. A liberdade se impõe como prioridade na vida de qualquer cidadão, temos que preservar isso que conquistamos com muito custo”, finaliza El-Zoghbi.
Por dois dias, a Sputnik entrou em contato com representantes da Direita São Paulo e do movimento Palestina para Tod@as, mas não teve resposta aos pedidos de entrevista.
O confronto ocorrido em São Paulo acontece na mesma semana em que a Justiça brasileira condenou oito pessoas a penas de cinco a 15 anos de prisão por “promoção de ações terroristas” arquitetadas com o Daesh às vésperas dos Jogos Olímpicos da Rio 2016. As oito pessoas, com idades entre 19 e 33 anos, foram detidas em julho com base na nova legislação antiterrorista promulgada em março de 2016 pela presidente Dilma Rousseff. O grupo, segundo a Justiça, arquitetava diversos atentados durante os jogos, visando homossexuais, muçulmanos, xiitas e judeus, incluindo o envenenamento do sistema de distribuição de água da cidade do Rio de Janeiro.
Fonte: Sputnik Brasil