Mesmo após TSE, novela da eleição de 2014 ainda não acabou

A chapa Dilma-Temer foi absolvida pelo TSE, depois de quatro dias de julgamento. Será que agora, finalmente, a eleição de 2014 acabou?

Talvez tenha sido o final de uma temporada, mas o House of Cards brasileiro ainda parece longe da season finale.

Relembre o que nos trouxe até o julgamento do TSE, e se prepare para os próximos capítulos:

Eleições conturbadas

O fato mais marcante do processo eleitoral foi uma morte: o pernambucano Eduardo Campos (vice: Marina Silva), do PSB, despontava como um concorrente importante, mas morreu em um acidente de avião no dia 13 de agosto, em Santos, litoral de São Paulo.

Após a morte de Campos, a campanha dele foi encampada pela candidata a vice, Marina Silva. Ex-petista, Marina Silva tinha uma imagem ligada ao meio ambiente, mas, apoiada por alguns setores do mercado financeiro, fez uma campanha focada em medidas econômicas.

Marina foi ganhando espaço como uma “terceira via”, alternativa à polarização entre PT e PSDB, e começou a ameaçar os outros candidatos: tanto Dilma Rousseff (vice: Michel Temer) quanto Aécio Neves (vice: Aloysio Nunes) dirigiram sua carga contra a nova ameaça.

A campanha, então, partiu para uma estratégia de terror: em suas propagandas eleitorais, o PT dizia, em tom de ameaça, que Marina Silva ia tirar o feijão da mesa dos brasileiros; e que dar autonomia ao Banco Central levaria a um aumento nas prestações e arrocho dos salários.

A estratégia deu certo e Marina realmente perdeu espaço, ficando de fora do segundo turno. Mas o nível da campanha já tinha começado a baixar, tanto nas propagandas, recheadas de denúncias, quanto nos debates da televisão.

Uma propaganda de Dilma Rousseff foi suspensa, na época, pelo então ministro substituto Admar Gonzaga (hoje um dos que votou pela absolvição no julgamento no TSE) por ter sido considerada “difamatória a Aécio”.

O tucano, por sua vez, chegou a comparar João Santana a Joseph Goebbels, o homem por trás da propaganda na Alemanha nazista de Hitler.

O resultado dos ataques foi uma eleição apertada e marcada pela descrença: Dilma foi reeleita com apenas 3 pontos percentuais à frente de Aécio Neves, o resultado mais acirrado da história.

Após a eleição, Aécio Neves encaminhou um processo ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), alegando irregularidades no financiamento da campanha dos adversários.

A ressaca duradoura

Dilma foi reeleita, mas o cenário já era desfavorável: o PMDB, de Michel Temer e de Eduardo Cunha, estava descontente com o governo por achar que a petista não estava fazendo concessões suficientes ao partido, e à “governabilidade”.

Além disso, depois de ter atacado, durante a campanha, a agenda econômica tucana e de Marina Silva, simpáticas ao mercado, o governo Dilma Rousseff tentou aplicar os mesmos remédios neoliberais, nomeando o então diretor do Bradesco, Joaquim Levy, para o Ministério da Fazenda.

A população foi às ruas para pedir o impeachment. A insatisfação de Eduardo Cunha pesou, e o então presidente da Câmara dos Deputados aceitou o pedido de impeachment, aberto por Helio Bicudo e Janaina Paschoal, com base em irregularidades nas contas do governo em 2014.

Dilma Rousseff foi destituída, o vice Michel Temer ascendeu à presidência. Com maioria na Câmara e no Senado, apoiado pelo PSDB, o governo Temer tenta implantar profundas reformas nas contas públicas.

Tudo isso em meio às turbulências da operação Lava Jato. A investigação acertou o núcleo do governo Temer e o próprio presidente.

A linha sucessória, caso Temer também caia, se embaralha: tanto Rodrigo Maia, presidente da Câmara, quanto Eunício Oliveira, o do Senado, são alvos de  inquérito no STF.

O último personagem remanescente também afundou: Aécio Neves, o segundo colocado da disputa de 2014, teve a irmã presa pela Polícia Federal quando foi deflagrada a operação baseada em depoimentos da JBS. Ele foi afastado do mandato como senador.

Cenas dos próximos capítulos

Nos próximos capítulos, a história pode tomar contornos mais dramáticos, desta vez tendo a JBS como protagonista. Temer, portanto, ainda não pode respirar aliviado.

O deputado Rodrigo Rocha Loures, o “homem da mala”, pode fechar acordo de delação premiada, detalhando suas relações com o presidente.

Ou, Rodrigo Janot pode denunciar Temer no STF com base nas delações de Joesley Batista, mas dependendo de autorização do Congresso para torná-lo réu.

Ou ainda, a governabilidade do presidente pode ser ameaçada caso o PSDB, um de seus principais apoiadores, decida abandonar o barco.

A eleição de 2014 pode se estender até 2018; só acompanhando para ter certeza.

 

Fonte: Exame

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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