Mercado não vê Banco Central agindo para segurar dólar
A possibilidade de o Banco Central frear a queda do dólar, que chegou a testar o patamar de R$ 3,10 nesta semana, é vista com ceticismo no mercado.
Para eles, uma ação forte para ditar os preços no câmbio não faz parte da cartilha da equipe do BC comandada por Ilan Goldfajn.
O mercado não espera um BC totalmente passivo no câmbio, mas considera que eventuais intervenções ocorrerão apenas para amenizar a volatilidade, sem interferir na tendência.
“As intervenções do BC nunca tiveram e não têm o poder de reverter a tendência do dólar”, diz Rodrigo Borges, chefe de renda fixa na Franklin Templeton Invest Brasil.
Para ele, a tendência continua sendo de valorização da moeda brasileira e o dólar pode cair a R$ 3,00 ou até menos com continuidade das reformas do governo Temer.
“Essa equipe do BC não é tão intervencionista quanto a anterior”, diz Nathan Blanche, sócio-diretor da Tendências Consultoria.
Para ele, além das reformas de Temer, o ajuste das contas externas, com melhora da balança e queda do déficit em conta corrente, visto desde o ano passado, também ajuda a fortalecer o real.
E Blanche não vê problema na possibilidade de a queda do dólar levar o déficit em conta corrente a aumentar em 2017. Para o consultor, um real mais valorizado ajuda a economia, ao contribuir para reduzir a inflação e abrir espaço para o BC cortar mais os juros.
Os investidores estrangeiros têm demonstrado crescente otimismo com as reformas no Brasil. Acreditam que a PEC que fixa teto para gastos será aprovada e que a reforma da Previdência acabará passando, ainda que num processo demorado e com mudanças em relação ao projeto do governo.
Apesar das turbulências políticas como as verificadas nesta semana, o “cenário básico” do mercado é de que as reformas vão continuar avançando, diz Matheus Gallina, da Quantitas Gestão de Recursos.
O risco de Temer ser atingido pela Lava Jato é monitorado, mas o mercado vê o tempo jogando a favor do presidente, diz Borges, da Templeton.
Além de sua habilidade política para a aprovação das reformas, Temer também pode ver um aumento em sua capacidade de defesa à medida que a economia confirme as expectativas de recuperação, o que deve resultar numa maior aprovação do governo.
O aumento das expectativas de alta dos juros americanos é outro potencial fator de risco para o real e outras moedas de países emergentes.
No entanto, este risco só vai se materializar se o Fed fizer algo inesperado, diz Borges. Uma alta de juros em dezembro, por exemplo, já está precificada e só afetará o mercado se o BC americano adotar um discurso muito duro, o que não é esperado.
Os juros baixos do Japão e Europa também jogam a favor da moeda brasileira. “O pano de fundo externo continua muito positivo.”
Nesta semana, além das reformas, a queda do dólar tem sido alimentada adicionalmente pela expectativa de fluxo com a repatriação de recursos.
A Receita disse nesta quinta-feira que impostos e multas pagos por brasileiros para legalizar dólares no exterior já somam R$ 40,1 bilhões, R$ 7 bilhões a mais do que o valor informado no começo da semana.
O prazo para adesão ao programa de repatriação termina em 31 de outubro.
O BC estendeu em quatro horas o prazo para o registro das operações, o que foi visto por alguns participantes do mercado como evidência de que o próprio BC está se preparando para um maior fluxo de entradas de dólares na reta final do programa.
Fonte: Exame