Média Estadão Dados das pesquisas mostra resiliência de Lula a ataques e efeito de deslizes

O agregador de pesquisas do Estadão indica que, apesar do noticiário carregado de polêmicas, a corrida presidencial tem sido marcada pela monotonia. De acordo com a Média Estadão Dados, que calcula o cenário mais provável a cada dia com base em pesquisas presenciais e telefônicas,Luiz Inácio Lula da Silva (PT) está mais ou menos no mesmo lugar há seis meses, com taxas de intenção de voto flutuando em torno de 44%. Agora, no final de maio, ele até oscilou para cima, chegando a 47%.

Nesse meio tempo, o petista deu declarações controversas que chegaram a preocupar seus aliados. No início de abril, ele tocou em um assunto tabu para muitos políticos ao afirmar que o aborto deveria ser questão de saúde pública e direito das mulheres.

Lula se manifestou sobre o tema em um evento na Fundação Perseu Abramo. Para ele, apenas as mulheres pobres são de fato privadas do direito de abortar, já que “madame pode fazer um aborto em Paris” ou “ir para Berlim procurar uma clínica boa”.

Dias depois, o ex-presidente se explicou e voltou a colocar a questão em um contexto de injustiça social: “Eu sou contra o aborto, mas o que eu disse é que as pessoas têm esse direito. Mesmo eu sendo contra o aborto, ele existe. Quando a pessoa tem poder aquisitivo bom, ela busca tratamento bom e até vai para o exterior fazer o procedimento. Mas e a pessoa pobre?”

Além de a média das pesquisas não ter detectado danos ao candidato, sondagens específicas com o segmento evangélico mostraram o mesmo. Na pesquisa Datafolha divulgada na semana passada, Lula teve 36% de taxa de intenção de votos entre os evangélicos e 54% entre os católicos. Em março, antes das declarações contra o aborto, essas taxas eram de 34% e 48%, respectivamente.

O ex-presidente também apareceu negativamente no noticiário no final de abril, ao afirmar que o presidente Jair Bolsonaro (PL) “não gosta de gente, mas gosta é de policial”. Em um discurso no dia 1º de maio, Lula se retratou: “Quero aproveitar e pedir desculpa aos policiais desse país, porque, muitas vezes, cometem erros, mas muitas vezes salvam muita gente do povo trabalhador. Temos que tratá-los como trabalhadores nesse país.”

Na mesma época o PT viveu uma crise interna na área de comunicação, que culminou na demissão do marqueteiro Augusto Fonseca.

Nas redes sociais, grupos bolsonaristas aproveitaram o episódio em que um jovem foi morto durante um roubo de celular para espalhar vídeos com falas editadas de Lula em que ele parecia estar defendendo bandidos.

Nem os deslizes, nem os ataques parecem ter afetado o candidato. Lula tem focado declarações recentes na crise econômica e na comparação de seu governo com o atual. Se as pesquisas são um indicativo de acerto, é provável que estratégia seja mantida.

Sobre o agregador

O agregador de pesquisas eleitorais do Estadão é um aplicativo interativo online que usa dados de todas as pesquisas, considerando suas peculiaridades metodológicas, para calcular a Média Estadão Dados – o cenário mais provável da disputa a cada dia, de acordo com nosso modelo.

No momento, segundo a Média Estadão Dados, Lula tem 47%, 18 pontos porcentuais a mais que Bolsonaro, com 29%. Ciro vem a seguir, com 8%. Há um empate entre André Janones (Avante) e Simone Tebet (MDB), ambos com 2%. Outros concorrentes, somados, chegam a 3%.

A média de cada candidato não é a simples soma dos resultados e divisão pelo número de pesquisas. O agregador controla diversos parâmetros e dá pesos diferentes aos levantamentos para impedir que números destoantes ou desatualizados puxem um dos concorrentes para cima ou para baixo.

Metodologia

Nosso modelo considera que, na média, as pesquisas presenciais são mais precisas ao atribuir a taxa de intenção de votos de cada candidato. Por outro lado, as pesquisas telefônicas são feitas com maior frequência e podem captar melhor eventuais mudanças de tendência. A Média Estadão Dados considera o desempenho de cada candidato nos dois tipos de pesquisas, mas depois que essas últimas são submetidas a um fator de correção. Veja algumas das principais características do agregador:

1) São calculadas separadamente as médias de pesquisas presenciais e telefônicas. A média das primeiras é usada como parâmetro para estimar eventuais vieses das demais. Um fator de correção, que pode variar ao longo do tempo e é calculado para cada empresa, é aplicado para compensar esses possíveis vieses.

2) A linha de tendência de cada candidato, ou seja, a evolução de seu desempenho nas duas pesquisas mais recentes de um mesmo instituto, é levada em conta para calcular sua taxa a cada dia.

3) Há anteparos para evitar que números destoantes afetem o resultado final. Se uma pesquisa traz resultados muito diferentes de outras feitas em datas próximas e com metodologia semelhante, seu peso é reduzido no cálculo da média. O mesmo acontece quando uma determinada linha de tendência destoa das demais.

4) Quanto mais recente é uma pesquisa, maior é seu peso na definição da média final. Se uma empresa fica muito tempo sem divulgar pesquisas, suas taxas e linhas de tendências deixam temporariamente de ser consideradas, até que novos números sejam publicados. Atualmente só entram na conta dados de institutos com pesquisas divulgadas nos últimos 77 dias. Essa “janela de inclusão” vai diminuir com o tempo para que, na data do primeiro turno, sejam considerados apenas os resultados dos três dias anteriores.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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