Martelo de Joaquim Barbosa, cutelo de Dilma Rousseff – Vitor Hugo Soares
Basta olhar o andar da carruagem para ver: perde tempo e anda redondamente enganado quem pensa ou diz que nada mais se faz ou se resolve no País antes de março. Mais exatamente, depois de assentada a poeira do carnaval .
Puro engano ou ilusão de ótica, segundo revelam os fatos.
A presidente Dilma Rousseff fez o diabo e aconteceu nos últimos dias de janeiro, durante o movimentado périplo entre Davos, na Suíça e Havana, na costa do Caribe. Com direito a misteriosa e custosa parada lusitana (em termos financeiros e de credibilidade para a viajante e o País) de descanso e prazer gastronômico de fim de semana na européia Lisboa. Sempre repleta de encanto e beleza para as vistas e o paladar, à beira do Tejo.
O “recorrido” de Dilma – a palavra é dos vizinhos argentinos, ao falar sobre o caso brasileiro e a viagem também da sua própria presidente, Cristina Kirchner, na rota Buenos Aires-Cuba. Lá e cá, o assunto segue dando o que falar a causando consequências, além dos protestos retóricos e ações jurídicas dos tucanos, com pedidos de explicações convincentes do governo sobre os gastos e seus motivos. O arrobo da explicação pessoal de Dilma, se assemelha a vaia de bêbado: não vale.
No planalto central do Brasil ou nas margens do Rio da Prata.
Ao aportar de volta, no Palácio do Planalto, a presidente brasileira não perdeu tempo: começou a reformar o primeiro escalão de seu governo. Nas primeiras jogadas no tabuleiro do poder, evidências de que Dilma se movimenta com um olho técnico de gestora, e um olho político de candidata petista que tenta reforçar o palanque da campanha na qual buscará renovar seu mandato nas eleições deste ano. E se manter por mais quatro sentada na principal cadeira de mando do Brasil.
Trocou Gleisi Hoffman por Aloísio Mercadante, na chefia da estratégica Casa Civil. Chamou o amigo de Lula no ABC, médico Arthur Chioro, para a Saúde e deixou Alexandre Padilha livre e solto para o palanque petista na disputa pelo crucial governo de São Paulo. Para o lugar de Mercadante, na Educação, escalou o petista José Henrique Paim. Tudo em casa, já se vê, o que faz tudo mais fácil.
De quebra, Dilma aproveitou para executar plano há muito traçado, mas sempre protelado: cortou com um golpe certeiro de cutelo afiado, o pescoço da ministra da Comunicação Social, Helena Chagas, que assim paga o pato pelos ruídos incômodos e desgastantes da recente viagem presidencial. Helena será substituída pelo atual porta-voz do Palácio do Planalto, Thomas Traumann. Vida que segue, até a próxima etapa da reforma ministerial.
Quem acaba também de retornar de viagem fora do País – não menos movimentada, polêmica e geradora de fatos merecedores de títulos de alto de página -, é o presidente do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa. O ministro relator do processo do Mensalão, que tem tocado praticamente sozinho a hercúlea e corajosa tarefa essencial de aplicação das penas dos réus condenados.
Os substitutos eventuais, Carmen Lucia e Ricardo Lewandowski, quase não se moveram na ausência do chefe do Poder Judiciário brasileiro. Barbosa chegou de volta na quinta-feira. Segunda que vem, reassume o posto e vai, mais que provavelmente, retomar em suas mãos e atitudes decididas, boa parte das atenções e das expectativas mais legítimas do País .
Enquanto esteve na Europa, no entanto, de férias ou fazendo conferências, o presidente do STF, “foi sempre presença”, como gostava de dizer Raimundo Reis, o notável cronista do cotidiano da Bahia. Esteve sempre atento, ligado e atuante em relações as coisas do seu tribunal, e ao debate nacional: jurídico, político e ético.
Produziu pelo menos uma frase lapidar em Londres, ao ser perguntado se não tinha nada a dizer sobre os ataques que vem sofrendo no Brasil por parte do deputado João Paulo Cunha (PT), um dos réus condenados do Mensalão, ainda solto. E pelo advogado do político condenado em um dos maiores processos de corrupção de sempre no país.
“Eu tenho algo a dizer: eu acho que a imprensa brasileira presta um grande desserviço ao país ao abrir suas páginas nobres a pessoas condenadas por corrupção. Pessoas condenadas por corrupção devem ficar no ostracismo. Faz parte da pena”, respondeu o ministro.
Martelada forte de princípios, aplicada pelo chefe do Poder Judiciário do Brasil. Merece reflexões sérias, atentas e cuidadosas por parte de todos: juízes, jornalistas, políticos e governantes. Rapidamente e antes dos novos levantes das ruas que já se ensaiam em São Paulo, Rio de Janeiro, São Luis do Maranhão, Recife, Salvador e Brasil afora.
Antes também que seja tarde, pois está a caminho, e cada dia mais próximo, o veredicto popular das urnas nas eleições quase gerais deste ano.
A conferir.
Vitor Hugo Soares, jornalista, é editor do blog Bahia em Pauta. E-mail: vitor_soares1@terra.com.br
Fonte: Blog do Noblat