Marina terá de agradar evangélicos sem espantar o voto jovem progressista

Pronta para ser ratificada oficialmente nesta quarta-feira (20) como a nova candidata do PSB à Presidência da República, a evangélica Marina Silva terá de encarar questionamentos sobre a contradição de se colocar como opção ao eleitor progressista ao mesmo tempo que professa uma fé que rejeita bandeiras como aborto e casamento gay, típicas de quem rejeita o conservadorismo na hora de votar

Preservada sobre esses temas enquanto vice de Eduardo Campos, ela agora terá de explicar como conseguirá se viabilizar como candidata “do novo” e ao mesmo tempo despontar como a favorita dos cobiçados 35 milhões de eleitores evangélicos, notoriamente conservadores.

Em julho de 2011, Marina deixou o PV – partido pelo qual disputou a eleição presidencial em 2010 – e decidiu montar a Rede Sustentabilidade evocando “uma nova política”. Sua legenda ainda não saiu do papel, mas busca homologação em 2015 atraindo candidatos e eleitores com viés progressista, com especial atenção à preservação ambiental.

Enquanto a candidata é encarada como vanguarda no assunto, sua posição é controversa em temas igualmente atuais. Na última campanha, Marina afirmou ser contra o termo “casamento gay”, uma instituição religiosa, mas defende a união civil entre pessoas do mesmo sexo como forma de preservar direitos garantidos em qualquer união estável.

Apesar de ser contra descriminalização do aborto, Marina prefere entregar a decisão para a população por meio de um plebiscito. Ela tem a mesma postura em relação à legalização da maconha.  Defensores dessas bandeiras, os eleitores progressistas se incomodam com esta atitude da candidata socialista, entendendo que a maioria da população ainda é conservadora e deve votar desfavoravelmente a qualquer mudança neste sentido numa consulta popular.

Professor de filosofia política da Unicamp, Roberto Romero acredita que Marina reúne em si traços tanto progressistas quanto conservadores. “Tem socialista que é favorável ao aborto, mas bate na mulher todo dia”, aponta. “Dom Odilo Scherer prefere as missas em latim, mas lutou contra a ditadura”, prossegue Romero, falando do arcebispo de São Paulo ao exemplificar. 

De acordo com ele, o eleitor que defende o aborto ou a descriminalização da maconha pode se afastar da candidata, que deve ser bem recebida não apenas por evangélicos, como católicos e espíritas. “Marina faz bem em dizer o que pensa. Ela só não pode tentar impor sua opinião se vencer. Aí seria um ataque à democracia.”

Essa não deve ser a única saia justa que Marina terá de vestir. Uma parcela do PSB acredita que ela só deveria ser ratificada na cabeça de chapa se fizesse campanha pelas coligações do PSB costuradas por Campos e até aqui rechaçadas por ela, como as candidaturas de reeleição dos tucanos Beto Richa, no Paraná, e Geraldo Alckmin, em São Paulo.

No que depender do seu candidato a vice, o deputado federal Beto Albulquerque (RS), Marina não será pressionada nem a apoiar essas candidaturas nem a desistir de fundar a Rede, outra reivindicação de muitos socialistas. “Ela tem suas posições pessoais e será respeita. O principal é que ela defenda o nosso programa de governo, e isso já acontece porque ela ajudou a criá-lo”, argumenta o socialista.  

O professor da Unicamp afirma que Marina chega a ter uma “visão autoritária” ao rejeitar alguns acordos políticos. “Para ela deve ser banido qualquer um que não apoie sua visão. Essa foi a dificuldade no começo da aliança com o Campos, que aprendeu com Miguel Arraes a fazer política de composição: ele se sentava com usineiros mesmo dizendo-se socialista.”

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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