Mais uma vez, o direito à cidade é jogado no lixo – Alagoinhas 2016

O site recebeu artigo escrito pelo Alagoinhas 2016 – PSTU, PSOL e simpatizantes – no qual o grupo se posiciona contrariamente às obras no centro da cidade, anunciadas no dia 9 pela administração municipal. Com a publicação do artigo, o Alagoinhas Hoje abre o debate e coloca seu espaço à disposição daqueles que defendem as intervenções urbanas. É um bom e necessário debate, que soma, estabelece novos parâmetros e permite contraditórios fundamentais na discussão acerca da cidade que queremos. 

“… se  a cidade é o mundo que o homem criou, então é nesse mundo que de agora em diante ele está condenado a viver. Assim, indiretamente, e sem nenhuma ideia clara da natureza de sua tarefa, ao fazer a cidade, o homem refez a si mesmo.” David Harvey. 

O prefeito Paulo César cedeu à pressão da chamada força empresarial da nossa cidade para que a rua que hoje é um calçadão, no centro da cidade, e que só transitam pedestres, fosse aberta para que os veículos de pequeno porte trafeguem, em face de justificativa de que os comerciantes desta rua estão a somar, ano a ano, “prejuízos”.

Há décadas que existe esta reivindicação. Mas, é a partir da compra e reforma do prédio do Hotel Denver por uma das famílias mais ricas da nossa cidade, proprietária de inúmeros imóveis e com muita influência na administração municipal do Sr. Paulo César, é que a preocupação em alterar o traçado urbano ganha maior destaque e se torna realidade. Não descartamos a possibilidade de uma bela e oportuna coincidência, porém, esta possibilidade é ínfima diante de uma gestão municipal que, segundo alguns meios de comunicações da nossa cidade, vive no campo de inúmeras suspeitas de malversação da coisa pública.

Neste projeto aprovado perante a força empresarial, no Hotel Áster, no dia 9 de fevereiro, os verdadeiros interessados (os usuários) da nossa cidade não estavam presentes e não foram convidados para opinarem. Verdade, na democracia de César, que não é de Roma, o povo fica de fora esperando a banda passar. A foto abaixo é a prova cabal de que o povo, para o gestor Paulo César, só é importante na  hora de votar.  Qual o impedimento em abrir para todos opinarem sobre este projeto?  Somos motivados a suspeitar que existem motivos bizarros por detrás desta iniciativa.  De uma coisa temos certeza: com a implementação deste projeto, o imóvel – antigo Hotel Denver – passa a ser supervalorizado e com facilidades imensas de ser alugado. Quem, em sã consciência, irá acreditar em coincidência?

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 Imagem da reunião de apresentação e aprovação por “unanimidade” do projeto de intervenção no centro da cidade

A Prefeitura alega, insistentemente, que não há recursos financeiros para atender, por exemplo, as demandas contidas de saúde e água do povo mais sofrido que se localiza na nossa periferia, mas vai arcar com um volume considerável de dinheiro para fazer uma obra de engenharia para atender, basicamente, aos que já têm dinheiro. Mais uma vez, o povo fica a chupar o dedo, enquanto os mais abastados se beneficiam do dinheiro público. Será que tem mais alguma coisa nisto? As boas ou más línguas, inclusive do governo, revelam que já houve conversas para que alguma secretaria municipal se instalar nesse prédio.

A secretária Sônia Fontes é quem está a frente deste “belo” e “importante” projeto para a nossa cidade.  Mais uma vez, o direito ao lucro é supervalorizado em detrimento ao direito a cidade. A Política urbana correta é descentralizar as atividades econômicas e não concentrá-las. A mudança proposta apenas agrava os problemas já existentes no centro da cidade.  Todos nós sabemos que há soluções que exige menos recursos financeiros para reduzir o caos no centro comercial. Quanto mais administramos para o carro circular melhor, mais carros aparecerão. Outro aspecto relevante, é que a nossa cidade dispõe de espaços à vontade para expandir as suas atividades econômicas. Tal atitude da Secretária de Infraestrutura vai no sentido oposto  das políticas urbanas implementadas nas cidades mais avançadas do mundo, que estão a retirar o carro individual dos centros nervosos da cidade e, em contrapartida, estão  valorizando o transporte público gratuito e de boa qualidade, além de criar vias destinadas ao uso de  bicicletas.

Não podemos concordar e ficar calado com o descaso desta administração para com a coisa pública. A mercantilização de tudo que é público é a regra, o que é uma estupidez, uma insanidade.  Este projeto é totalmente desnecessário, consequentemente, não é prioritário. A maternidade, sim, é prioritária, mas, certamente, não é para o Prefeito e a secretária Sonia Fontes. A força empresarial é super prioritária, afinal de contas é quem financia as suas ricas campanhas eleitorais.

ALAGOINHAS 2016

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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