Lídice aposta em Marina para decolar

Em entrevista exclusiva à Tribuna, a candidata ao governo baiano pelo PSB, Lídice da Mata, mostrou-se confiante com a reta final da campanha e disse acreditar que a subida da presidenciável Marina Silva ainda pode impactar positivamente na sua avaliação no estado.

Enfrentando dificuldades financeiras em sua chapa, Lídice critica a tentativa de desqualificação dos adversários e o abuso do poder econômico para a campanha eleitoral.

Ex-prefeita de Salvador e ex-aliada do PT, a postulante afirma que a ideia do Partido dos Trabalhadores ficar 20 a 30 anos no poder é equivocada e não se baseia em ideais democráticos.

Sempre apontando a polarização da disputa pelos adversários, Lídice disse que sua candidatura representa uma mudança no cenário político baiano.

Ela afirmou também que tanto o DEM como o PT adotam as mesmas práticas, como as negociações de votos e a tentativa de desqualificar e desmoralizar os adversários.

Para a socialista, democratas e petistas já não são mais tão opostos assim.

Tribuna da Bahia – Como avalia a disputa até agora e qual a estratégia que a senhora coloca para esta reta final de campanha?
Lídice da Mata – Intensificar as visitações ao interior, intensificar o contato com a imprensa e com o cidadão. Eu acredito que essa é a luta histórica do milhão contra o tostão. Estamos vendo um derrame de recursos nesta campanha, na Bahia e no Brasil, mas especialmente na Bahia, como nunca foi visto antes. A quantidade de placas que tem na rua de candidatos a deputados e candidatos a governo do estado dos dois lados, do lado do governo e de Paulo Souto, é uma coisa inimaginável há algum tempo atrás. O luxo dos comitês eleitorais de candidatos proporcionais é uma coisa absurda. Então eu me pergunto: será que o Tribunal Regional Eleitoral tem condições de analisar o que é abuso de poder econômico na Bahia? Abuso de poder econômico é isso que estamos vendo nas ruas. Então, a minha posição vai ser cada vez mais denunciar essa situação que se tornou a campanha eleitoral em nosso estado. Com a briga de dois gigantes econômicos.

Tribuna – A candidata ao Senado, Eliana Calmon, já tinha feito a denúncia sobre a negociação de votos por parte de lideranças da capital e do interior. Essa é uma prática que esta se tornando crônica?
Lídice – Parece uma prática comum que se torna crônica, mas o problema não é a existência da negociação. É a aceitação e o nível em que essas negociações estão. Quando o segmento de esquerda começa a aceitar isso, e aceita no valor em que está colocado no chamado mercado… Aí fica sem lei nenhuma porque a quem cabia denunciar e fiscalizar passou a se incorporar. E isso é grave para a sociedade brasileira, para a democracia brasileira. Acho contraditório falar-se em reforma política e continuar com uma prática dessa que nós estamos assistindo na Bahia.

Tribuna – Como combater as máquinas dos governos estadual, federal e da prefeitura de Salvador? Os recursos da campanha do PSB continuam curtos? Isto deixa sua campanha pequena?
Lídice – Claro. Infelizmente, e lamentavelmente, estamos vivendo uma grande dificuldade financeira, e isso se dá também porque nós vivemos essa interrupção da campanha, de Eduardo pra Marina. Isso interrompeu o fluxo de contribuições e mesmo do ponto de vista administrativo e jurídico. Foi preciso encerrar a campanha de Eduardo, depois reabrir o comitê financeiro de Marina, tudo isso impedindo repasses e contribuições. Mas também sinto que há uma certa política de desestimular contribuições para uma campanha como a minha. Desestimular pelos grandes, pelas duas máquinas que estão no poder na Bahia.

Tribuna – Como lidar diante dessa máquina pesada que está indo de encontro à sua campanha? Há o que ser feito a esta altura do campeonato?
Lídice – Continuar na denúncia é o que deve ser feito. Intensificar o contato direto com o cidadão, o que já estamos fazendo. E também através da campanha de Marina, que é irreversível mesmo com todo ataque que ela vem sofrendo do lado do PSDB e PT. Aliás, o que eu acho engraçado nas redes sociais é que os dois lados bebem na mesma fonte. As mesmas fontes de informação que criam a campanha de tentativa de desmoralização e desqualificação de Marina. Os mesmos argumentos são usados pelos dois lados. Há alguma coisa errada nessa história, quando os dois que se dizem opostos, se encontram e começam a não ser tão opostos assim. E me parece absurdo o fato daquilo que o PT no passado considerou um acinte à democracia, que foi instalar o medo na sociedade, feito por parte do PSDB e pelas forças conservadoras do nosso estado, agora se repete, com o apoio e a iniciativa dele, sobre Marina. Isso é muito lamentável e nós vamos continuar buscando trazer Marina à Bahia, para colar mais na nossa campanha e poder ajudar mais na manutenção do nosso crescimento.

Tribuna – A morte de Eduardo Campos e chegada de Marina mudou o jogo eleitoral com a bola no campo. Como avalia essa mudança, já que foi diretamente impactada?
Lídice – Olha, havia uma candidatura competente, com uma experiência de gestão a mostrar para o Brasil, com capacidade de diálogo. Eu tenho certeza que Eduardo nos debates iria crescer muito. Nas entrevistas de televisão também. Aliás, ele teve oportunidade de demonstrar isso com seu desempenho na última entrevista na Rede Globo.

Então, o eleitor que ficou em dúvida se Eduardo representaria essa possibilidade de mudança, e até o eleitor que não o conhecia e ainda não alavancava sua candidatura, se sentiu estimulado quando Marina voltou à cena política, principalmente porque acompanhou a sua tentativa de ser candidata pelo próprio partido e o quanto ela foi frustrada. Creio que aqueles que trabalharam lá atrás para impedir que a legalização do partido de Marina ocorresse agora estão percebendo que deram um tiro no pé. Quem sabe como seria se, lá atrás, Marina tivesse sido candidata com seu partido, um partido menor, sem grande impacto na cena do ponto de vista de uma novidade no processo político eleitoral? Talvez ela não tivesse a oportunidade de ter o desempenho que está tendo. Tudo isso impactou: o desejo do seu eleitor de que ela fosse candidata, mais a tragédia de Eduardo, e a expectativa de uma nova candidatura que surge num jogo pronto que não estava satisfazendo a opinião pública. Toda pesquisa qualitativa indicava um desejo de mudança. E esse desejo não estava se realizando através da presidente Dilma. Se olharmos as pesquisas, veremos que antes de Marina entrar no jogo eleitoral havia um grande percentual de eleitores que diziam que não iam votar, ou que iam votar em branco. Esse percentual já diminuiu, Marina cresceu em cima dos que estavam desiludidos, frustrados e não viam alternativa. Ela cresceu também em cima do eleitor que estava à procura de uma candidatura onde se enxergasse mudança. Por isso caiu um pouco o Aécio.

Tribuna – O Ibope mostrou uma queda na sua intenção de votos. O eleitorado não associa sua candidatura à de Marina, já que ela faz o caminho inverso e cresce no estado?
Lídice – Não, eu acho que tem dificuldades, mesmo porque Marina surge como candidata no momento mais difícil de nossa candidatura do ponto de vista de sua estruturação. Tínhamos começado uma campanha Eduardo, com placa, com sinalização, com identificação fácil porque ele era tradicionalmente do meu partido. Marina vem como uma onda por cima que não tem relação com nada que está aí embaixo. Tanto que ela tem um desempenho de ser a primeira mais votada em São Paulo, num universo em que o nosso partido está com outra candidatura e não tem nenhuma relação com ela do ponto de vista da campanha eleitoral. Marina não participa da campanha do partido em São Paulo. É uma onda, o ‘’tsunami marinaço’’. E pode impactar nas campanhas regionais na medida em que a gente consiga essa integração de campanhas. Para se ter uma ideia, só agora estamos botando placas minhas com Marina porque não tivemos condição financeira, antes disso, de viabilizar.

Tribuna – Como avalia a informação de que o eleitorado associa seu projeto político ao PT, já que eram aliados até pouco tempo? Como reverter essa situação, faltando menos de um mês para a disputa?
Lídice – Olha, eu não acho que é bem por uma associação do projeto do PT. Isso era lá atrás. A minha candidatura se consolidou. A nossa pesquisa qualitativa demonstra isso. Agora, num espaço em que desde o início as duas candidaturas buscaram a polarização. A candidatura do PT insistia não só em ignorar a nossa campanha, ao não se referir a ela e tratá-la como se fosse uma coisa menor, como também utilizava da pressão sobre a nossa base. O próprio jornal Tribuna da Bahia deu por diversas vezes notícias de adesão de lideranças do PSB à candidatura do governo, muito sustentada por uma política de estímulo ao fisiologismo, a uma política não republicana. E isso provoca impacto sobre nossa candidatura, sobre nossa campanha. Vai diminuindo os espaços de crescimento até mesmo porque eles têm 10 minutos de TV e eu tenho 1 minuto e 50 segundos. Esperávamos que a campanha seria uma, até o dia do início do programa de televisão, e outra, a partir  do programa de televisão. O número de inserções que os candidatos do PT e do DEM têm é absolutamente superior ao nosso. Esse sistema de distribuição de tempo é antidemocrático e injusto, a reforma política precisa tratar desse assunto. Aliás, esse sistema é antidemocrático e injusto em razão de uma parte da corrupção eleitoral que estamos presenciando no Brasil.

Tribuna – A gente viu no último debate a senhora direcionando ataques muito firmes ao candidato do PT. Isso causou um rebuliço grande entre seus ex-aliados. A estratégia é desconstruir e mostrar esses pontos fracos de Rui Costa?
Lídice – Foi uma coincidência. Eu realmente tenho diferenciações e era necessário colocá-las no debate. E não tive oportunidade de perguntar a Paulo Souto. Então, eu queria lembrar aos companheiros do PT um poema de Brecht, Rio Imparável, que diz: “O rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas às margens que o comprimem”. Falar que eu ataquei a candidatura do PT esquecendo-se da atitude com que o PT tratou minha candidatura desde o início, é um absurdo. Todas as atitudes da candidatura do PT foram sempre de desconsideração em relação à minha. Mas nada disso abala minha convicção. Primeiro, de que não temos arrependimento de termos apoiado e participado o governo Wagner. Temos convicção de termos dado uma enorme contribuição para a área que ficou sob nossa responsabilidade na gestão. Ao mesmo tempo, isso não quer dizer que nós tivéssemos oportunidade, ou mesmo devêssemos ter concordância com os mínimos detalhes de um conjunto de ação de governo. Diferente do que eles dizem, eu não faço crítica à gestão do governo. Eu tenho muito mais feito uma crítica política ao PT. A forma como ele se comporta no momento político do Brasil. A ideia de um projeto ficar 20, 30 anos é equivocada e não se baseia nos ideais democráticos. É equivocada a ideia de que, estando no governo, os aliados servem para apoiar, mas não podem ser apoiados. E não aceito essa história de dizer “nós apoiamos Lídice para o Senado”. E daí? Quantas vezes eu apoiei no interior, na capital e no governo as candidaturas do PT? Eu e o meu partido? Então não venham com essa conversa afiada. Reflitam sobre sua prática democrática antes de me cobrarem qualquer coisa.

Tribuna – Há uma fadiga muito grande com relação ao PT. Como avalia esse sentimento da população por mudança?
Lídice – Eu avalio justamente dentro de uma observação que sinto ao conversar com pessoas simples. Não é a elite. Não é a elite de direita do país. Essa eu conheço, identifico e sei as razões para estarem contra o PT. São mais pelos, digamos assim, os projetos positivos. Mais pelas qualidades que o PT tinha e que alguns partidos ainda têm, do que pelos seus erros. Mas o povo simples se posiciona querendo a saída do PT, ele busca por quem cumpra as expectativas que não foram atingidas. Se coloca com críticas e frustrações à postura do PT. E é isso que PT tem que avaliar. É isso que o conjunto da esquerda brasileira tem que analisar.

Tribuna – O novo escândalo de corrupção da Petrobras vai impactar nas campanhas nacionalmente e aqui na Bahia?
Lídice – Acho que mais no segundo turno. Agora, o movimento de campanha está tão grande que você não consegue identificar o que é que realmente sai daí. Além de uma delação premiada equivocada, pois não oferece provas ao cidadão para que ele se posicione. Provavelmente no segundo turno já se terá tempo de fazer uma análise mais detalhada dessas questões. Agora, temos que compreender que para vencermos a direita na eleição no Brasil, e os conservadores na Bahia, representados pela candidatura de Paulo Souto, é preciso ser a antítese deles. E antítese deles em todos os sentidos. Antítese na postura política. Porque senão ficamos iguais a eles. O jogo fica misturado e as pessoas não identificam quem é quem.

Tribuna – E a disputa pelo Senado? A candidata Eliana Calmon tem chances? Há favoritos nessa disputa, que é de um turno só?
Lídice – É uma disputa dificílima a de Eliana, ela sempre soube disso. E ela se mostra cada vez mais com uma capacidade de entendimento do seu papel como cidadã política, na denúncia do momento político no Brasil e do sistema político atual, do sistema eleitoral brasileiro. Essa sua postura tão corajosa serve de referência para o eleitorado, e tenho a sensação de que Eliana vai virar esse jogo até o final da eleição.

Tribuna – Acredita que o candidato do PSDB, Aécio Neves, foi liquidado da disputa e que o segundo turno está garantido entre Dilma e Marina?
Lídice – Eu acho que diminuíram as chances de Aécio, o que não quer dizer que não haja função para sua candidatura. Ele representa um partido que esteve no governo. Ele representa ideias, portanto, deve continuar candidato, deve expressar essas ideias, e deve buscar colocá-las no processo eleitoral. É claro que Marina quando surge é com uma força de ser algo novo no processo político eleitoral. Surge com o acúmulo da eleição passada, com a ideia de uma nova política, de um novo relacionamento da política com as pessoas, de uma nova forma de comunicação política e de uma nova postura política. Isso entusiasma a população. Não adianta vir com essa conversa de que Marina não tem experiência administrativa porque a redemocratização do Brasil demonstrou que o povo brasileiro se movimenta em torno e nas buscas de líderes que encarnem ideias. Isso esta comprovado com a eleição de Fernando Henrique Cardoso, que nunca governou nada, nunca foi prefeito, nunca foi governador. De Lula, idem. E de Dilma, que também chegou a ser ministra, secretária, mas não tinha uma experiência de conhecer uma administração municipal ou estadual por dentro, na responsabilidade de comandar. Com Dilma, vendeu-se a ideia de uma grande gerente, de uma gerentona, e justamente aí se situa uma parte das frustrações do seu governo.

Tribuna – Onde Wagner errou e a senhora não erraria, caso seja eleita governadora da Bahia?
Lídice – Eu não situo as coisas nessa história do erro. Eu acho que Wagner é um líder político que ajudou muito a Bahia, e principalmente libertou a Bahia do jogo das forças conservadoras, do atraso, da perseguição política que o carlismo representou. O grande problema é que talvez o governo tenha ido pra uma busca de unanimidade excessiva, de agregação excessiva. Alguém poderá dizer que política é isso, que é agregar, porque é isso que significa ganhar a eleição. E eu direi que política não é isso. Porque se a gente agrega indefinidamente, a gente deixa de ter a nossa identidade política. Nelson Rodrigues já dizia que toda unanimidade é burra. Eu diria que na política ela não é burra, ela é artificial.

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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