José Ronaldo: “Sempre trabalhei com a verdade”

Ex-prefeito de Feira de Santana por quatro mandatos, José Ronaldo de Carvalho assumiu o desafio de disputar o governo da Bahia pelo DEM, após desistência do prefeito de Salvador, ACM Neto. Nesta entrevista ao A TARDE, Zé Ronaldo declarou que estava preparado para a disputa e que a decisão era motivo de grande orgulho para ele. O democrata cobra a definição de uma única candidatura das oposições e espera contar com a adesão dos tucanos.

Como o senhor avalia a decisão do prefeito ACM Neto, que desistiu da eleição para o governo faltando um dia para o fim do prazo de desincompatibilização?

A vantagem de Neto durante todo esse tempo foi que ele nunca afirmou que seria candidato. Como o prazo (desincompatibilização) estava expirando, ele tinha que decidir. Houve uma reunião no dia anterior onde vários amigos disseram para ele aceitar e se candidatar. Porém, no dia seguinte, ele anunciou que não seria candidato. Nem tudo na vida é o que parece, principalmente no mundo político. No caso dele, a história vai mostrar a decisão de um político jovem, de 39 anos, muito bem avaliado, com um governo positivo e que teve coragem de não assumir uma candidatura ao governo do estado.

O senhor sempre se colocou como candidato ao Senado. Esse ‘atraso’ não lhe prejudicou?

Não. Quando Neto conversou comigo sobre a possibilidade de eu assumir essa candidatura, refleti em poucas horas, conversei com algumas pessoas, porque é uma decisão muito pessoal, já que envolveu uma renúncia, que deveria ser feita aquele dia. Se Neto não era mais candidato e eu não seria mais senador, tinha que afirmar a minha pré-candidatura ao governo naquele momento. A partir daquele momento [anúncio da pré-candidatura] a conversa foi para outro ângulo. Neto, Bruno Reis, deputados federais, estaduais, prefeitos e vices e os vereadores estão participando.

O foco da oposição é ter uma única candidatura. A resistência do pré-candidato João Gualberto, do PSDB, pode levar a um racha na oposição?

Não vejo sentido em ter duas candidaturas. O mundo político tem muitas tendências ideológicas. A minha visão pessoal é que temos que decidir logo essa questão da candidatura única. A desistência dele não significa um racha. João é um cara determinado, trabalhador, de muita garra, mas não para fazer esse tipo de coisa.

Já existiu alguma predisposição com o PSDB, no sentido de alinhar uma única candidatura?

Conversas estão existindo. Posso assegurar que são conversas cordiais com pessoas que têm o mesmo objetivo.

Quais os possíveis nomes que devem compor a Chapa?

Definiremos os nomes do vice-governador, senadores, deputados e suplentes após conversa com a base aliada.

Existe algum tipo de agenda na sua pré-candidatura?

Já fiz algumas viagens e fui muito bem recebido em alguns municípios da Bahia, como na região do Recôncavo, sisaleira e metropolitana de Salvador. Camaçari, houve uma espécie de lançamento da minha pré-candidatura. Porém afirmo que não foi completa, pois sinto a ausência do PSDB. Durante toda a minha vida política eu tive o PSDB por perto, com Jutahy [Magalhães Jr., deputado federal] perto de mim. Inclusive, ele é um ótimo nome para o Senado. Tenho desejo muito forte que ele esteja comigo.

Durante essas visitas ao interior, quais os problemas o senhor tem encontrado e que soluções propõe?

O que vi durante as visitas se encontra na Bahia inteira: problemas na saúde, educação e na segurança pública. Na saúde, é um absurdo o que acontece com a Central de Regulação para uma internar uma pessoa hoje. Morre gente e mais gente esperando uma vaga. Quando não é isso, vemos casos de pessoas que esperam por seis meses para realizar uma cirurgia de ortopedia. Precisa melhorar a estrutura hospitalar para melhorar condições para os pacientes. Na educação, pesquisei se houve construção de escola em 150 municípios durante o governo Rui Costa e constatei que não. Pelas minhas contas, pode chegar a 400 municípios sem nova escola durante quatro anos. Os aposentados também reclamam sobre a falta de reajuste nos últimos quatro anos. Já os servidores estão completando cinco anos sem aumento. Na segurança pública, a Bahia é campeã de mortes. Embora a violência aconteça também nos demais locais, o governo tem que buscar soluções para isso. Questionei numa cidade com cerca de 10 mil habitantes qual o principal problema, e responderam que era a segurança pública. Mostra que a segurança não é apenas um problema dos grandes centros urbanos. A mesma coisa acontece com o concurso. Anunciaram nova frota de viaturas, o que não é verdade. Os veículos são para substituir os que foram retirados ou os que estão com problema. Eles dizem que colocaram mais três mil policiais, mas esses substituirão os aposentados e os policiais que foram para a reserva.

Como avalia os seus quatro mandatos em Feira de Santana e quais as experiências pretende agregar ao governo?

Digo sempre que a maior avaliação do político é o resultado das urnas. Investimos muito na educação, saúde e na infraestrutura da cidade. A maior marca à frente da prefeitura foi ser gente e conviver com gente e respeitar o dinheiro público, com contas sempre 100% aprovadas, assim como os convênios. Eu sempre trabalhei com a verdade. A minha campanha será baseada na verdade.

Quais os planos até o início da campanha?

Estou fazendo contato com a Bahia inteira e pretendo visitar o maior número de municípios possível. Vou ser ouvido pelo pessoal do interior e da capital. Inclusive, já visitei Vila Canária e a Cidade Baixa, em Salvador. Estive em Iaçu e Jequié, participando de eventos regionais ao lado de alguns deputados. Fui Milagres Mangabeira e Mutuípe. Próximo final de semana visitarei oito municípios.

O governador Rui Costa declarou, durante entrevista, que 50 gestores já haviam manifestado apoio a ele e o número aumentou para 90 após desistência da candidatura de ACM Neto. O senhor enxerga essa suposta debandada como um problema?

De maneira alguma. O fato não reflete a conversa que venho tendo com os gestores do interior. Lembro-me da minha primeira campanha a deputado estadual onde houve a campanha de governador de Waldir Pires e vice Nilo Coelho. Na oportunidade, cerca de 400 municípios apoiavam Josafá Marinho e ele perdeu a eleição. Isso mostra que, embora prefeitos e vereadores sejam figuras importantes na busca do voto, eleição se resolve é com o cidadão, na urna.

As pesquisas apontam que Rodrigo Maia (DEM) tem chances mínimas na eleição presidencial. Na sua avaliação, seria melhor o DEM desistir e apoiar Alckmin, por exemplo?

O quadro nacional ainda está indefinido. Rodrigo seguirá com a campanha. Até junho, quem passar de 10% deve manter.

Se a senadora Lídice da Mata (PSB) ficar de fora da chapa do governador Rui Costa, existe chance de conversa com ela?

Lídice tem uma trajetória política muito bonita. Independentemente de nunca termos feito política do mesmo lado, tenho que reconhecer o valor dela como política e como mulher. Já disse isso a ela em outra oportunidade. Ela tem grande personalidade, sempre agiu e vai agir com base no seu ponto de vista.

Qual a sua avaliação sobre a prisão do ex-presidente Lula?

Lula foi um presidente bem avaliado, mas não constituiu um governo cuidadoso. Evidentemente que as denúncias de corrupção que tomaram conta deste país, ele tem culpa desse processo, pois era comandante do governo. Como presidente da República, ele teria que permitir que essas coisas não acontecessem. Embora o governo seja grande, as pessoas deveriam ter sido demitidas e eu não vi fazer isso com ninguém e hoje paga por isso.

Como o senhor avalia o governo Temer?

Nunca falei sobre ele desde a época do impeachment até quando ele realmente assumiu a Presidência. Temer segue cumprindo o que prevê a Constituição Brasileira. Creio que deve concluir o mandato até o final do ano. Depois ele deve saborear os conhecimentos jurídicos de um grande constitucionalista sem estar exercendo outra função pública.

 

Fonte: A Tarde SP

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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