Investimento na construção encolhe 25% de janeiro a março

Embora o segmento residencial seja a face mais visível da desaceleração na construção civil, foram os empreendimentos industriais e comerciais que apresentaram maior retração no primeiro trimestre deste ano em termos de investimentos. Um levantamento feito pela consultoria brasileira ITC a partir de dados de 3.020 obras espalhadas pelo país estima em US$ 215,34 bilhões o total desembolsado no país em projetos residenciais, comerciais e industriais de construção entre janeiro e março. O montante investido é 25,2% inferior ao registrado no mesmo período de 2014 (US$ 287,99 bilhões).

No segmento industrial, o número de obras encolheu quase um quinto na comparação anual. Passou de 912, nos primeiros três meses de 2014, para 736, em igual período deste ano. O recuo dos investimentos foi ainda mais expressivo: o montante caiu 33,7%, para US$ 69,21 bilhões. Os recursos destinados a empreendimentos comerciais diminuíram 20,5% e terminaram o primeiro trimestre de 2015 em US$ 136,12 bilhões. “Temos diversos indicadores do setor despencando este ano. Entre janeiro e maio, o número de empregados com carteira na construção diminuiu 8,4%. E a tendência é que esse quadro piore: na comparação entre maio deste ano e maio de 2014, a queda é de 10,3%. O setor perdeu quase 400 mil trabalhadores”, diz Ana Castelo, coordenadora de Projetos da Construção, da Fundação Getúlio Vargas (FGV-Ibre). Dos 400 mil postos perdidos, 164 mil foram na área de edificações, que inclui os segmentos comercial, industrial e residencial. Outros 94 mil perderam emprego em obras de infraestrutura.

De acordo com o ITC, o segmento residencial contabilizou US$ 10,01 bilhões em investimentos nos primeirostrês meses do ano. A cifra é 18,75% inferior à registrada no mesmo período de 2014, quando o montante registrado foi de US$ 12,32 bilhões. Na comparação entre o número de obras, o “tombo” foi maior: 24,5%. Entre as razões para a diminuição está o drástico enxugamento do crédito imobiliário, destaca José Carlos Martins, presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC). “A Caixa (Econômica Federal), que era responsável por 70% do crédito para este mercado, recolheu os flaps, deu uma freada total. Está cuidando apenas dos contratos em andamento e não de fechar novos contratos”, argumenta Martins.

No ano passado, a preparação para a Copa do Mundo ajudou a movimentar o setor de construção entre janeiro e março. De acordo com a ITC, ao longo do período, foram investidos US$ 10,7 bilhões em 230 empreendimentos, entre hotéis, resorts e estádios. O dinheiro destinado a obras no setor energético também foi relevante no primeiro trimestre de 2014. Ao todo, 199 empreendimentos consumiram US$ 27 bilhões. Já no primeiro trimestre de 2015 havia 239 obras em curso no setor energético, mas com um valor consolidado menor (US$ 11,64 bilhões).

O ajuste fiscal promovido pelo governo federal — somado a um cenário macroeconômico que já era desfavorável — afetou tanto os investimentos públicos como privados este ano, lembra Ana Castelo, do InstitutoBrasileiro de Economia (Ibre), da FGV. “A indústria enfrenta uma situação conjuntural difícil que não aponta para uma retomada. Ainda não se visualiza o fundo do poço”, comenta ela. Na avaliação de Ana, como o ciclo da construção é mais longo, uma melhora nas condições só deverá vir apenas no segundo semestre do próximo ano. “Já estão falando em 2017”, ironiza Martins, da CBIC. “Mas nós somos mais otimistas, aguardamos uma recuperação ainda em 2016.”

A dispersão geográfica das obras analisadas pelo ITC — cerca de 80% do total existente no país — praticamente não se alterou de um ano para outro. O Sudeste continuava a concentrar a maior parte dos projetos (1.705, somados os segmentos industrial, comercial e residencial) no período de janeiro a março deste ano. As regiões Norte/Nordeste aparecem em segundo (600), seguidas pela Sul (537) e, por último, pelo Centro-Oeste (178).

No cômputo geral, o número de obras distribuídas por todo país alcançou um patamar de 3.020 no primeiro trimestre deste ano, o que representa uma retração de 22,2% frente ao resultado contabilizado em igual período de 2014 (3.882). “Os problemas estão se refletindo em todos os níveis de governo: federal, estadual e municipal. Há atraso no pagamento das obras e faltam recursos para investir em novas”, ressalta o presidente da Câmara Brasileira da Indústria da Construção.

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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