Inspirações literárias e políticas dominam mesas na Flica

O terceiro dia da Flica – Festa Literária Internacional de Cachoeira foi marcado pela presença de autores internacionais nas mesas de discussão, que começaram às 10h, no claustro do Convento do Carmo, com a presença do português Gonçalo M. Tavares e da escritora e jornalista baiana Mariana Paiva.

Tavares falou sobre a rotina de sua produção e a necessidade que tem de estar só quando escreve: “Eu escrevo num escritório que chamo de ‘bunker’, sem telefone nem internet. Até meus pais, quando querem falar comigo, não abrem a porta. Eles apenas mandam um bilhete por debaixo da porta, perguntando: ‘Você está bem?’”.

O escritor português Gonçalo M. Tavares falou sobre criação na Flica
(Foto: Egi Santana)
Gonçalo chegou a ser apontado por José Saramago, há 10 anos, como um dos grandes escritores da atualidade e, numa ocasião, brincou, falando sobre o romance Jerusalém: “Ele não tem o direito de escrever tão bem apenas aos 35 anos. Dá vontade de lhe bater”.

Gonçalo fez questão de diferenciar o ato de escrever do de publicar: “Alguns escrevem bem, mas não estão prontos para publicar, no sentido de tornar públicas suas obras. Foram tão elogiados que acabaram se bloqueando”. Mariana Paiva contou como decidiu se tornar escritora: “Fui a uma feira de livros na escola aos 6 anos e conheci a escritora Mabel Velloso. Voltei para casa com a convicção de que queria ser escritora. E o que me move hoje para escrever é a inquietação”.

Às 15h, o diretor teatral baiano Marcio Meirelles se juntou ao dramaturgo romeno Matéi Visniec. A política e a liberdade de expressão foram os principais temas do debate. O dramaturgo criticou a massificação dos meios de comunicação:

“Estive dando uma volta na cidade e notei que os pobres têm TV em casa. Mas a TV só devia chegar depois da cultura, da arte, da música e dos livros. Queria escrever um texto sobre essa ‘ditadura sutil’ (dos meios de comunicação), que muitas vezes a gente não percebe. Quando eu era jovem, eu criticava o regime porque o mal era visível. Hoje não é. Ser engajado hoje é mais difícil que na época de Stalin”.

O dramaturgo Matéi Visniec lança livro hoje, às 18h, no teatro Vila Velha
(Foto: Egi Santana)
Marcio Meirelles, que dirigiu quatro textos de Visniec, completou: “O Brasil tenta construir uma democracia, mas a ditadura não acabou de fato. A ditadura destroçou a educação e a entregou a uma rede de comunicação”. Hoje, às 18h, Visniec lança o livro Por que Hécuba, de sua autoria, no Teatro Vila Velha, no Campo Grande.

A última mesa, às  19h, reuniu o filósofo lituano Leonidas Donskis e o crítico de literatura e poeta paulista Nelson Ascher. As crianças, na Fliquinha, tiveram conversas com autores como Débora Knittel e Heloisa Prieto, além de oficina de desenho com Athos Sampaio.

O dia terminou com Claudia Cunha, Aloisio Menezes e outros cantores no show do Samba Chula ao Samba Reggae.

Fonte: Correio

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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