Governo estuda injetar R$ 5 bilhões para financiar veículos
O pacote para impulsionar a venda de veículos no país inclui uma injeção de R$ 5 bilhões para financiar a aquisição de carros novos e esvaziar o pátio das montadoras.
O setor vive uma crise decorrente de queda nas exportações e nas vendas no Brasil, com corte de produção e ameaça de demissões.
A Folha apurou com representantes da indústria que a ideia do governo é utilizar parte do dinheiro que os grandes bancos são obrigados a reter no Banco Central, o chamado compulsório, e direcioná-lo para que os bancos de montadoras ampliem seus empréstimos.
A maior parte das montadoras é dona de instituições financeiras, que respondem por 60% do crédito para veículos novos.
CARTEIRAS DE CRÉDITO
A injeção de recursos seria feita por meio da compra de carteiras de crédito, ou seja, dos empréstimos concedidos. Os grandes bancos colocariam o dinheiro do compulsório em um fundo de investimento, que compra a carteira do banco de montadora.
Isso valeria por cinco meses, com estimativa de liberar até R$ 1 bilhão por mês em empréstimos, o que representa aumento de 13% na oferta.
O devedor continua a pagar a prestação no banco em que pegou o dinheiro. Este repassa o recurso para o fundo.
A ideia é usar o compulsório sobre recursos a prazo, que ficam no BC e rendem taxa Selic. O banco grande receberá essa rentabilidade mais 1% ao ano.
Para a montadora, a vantagem é receber o dinheiro do empréstimo de volta antes da quitação e, dessa forma, ter recursos para novos financiamentos. Em troca, essa instituição assumirá o risco em caso de inadimplência.
A operação precisa do aval do BC, que resiste, pois a liberação de compulsório aumenta a circulação de dinheiro, pressionando a inflação.
Para a indústria e outros setores do governo, é necessário salvar um dos setores que mais empregam e mais têm peso na economia. Há ainda o risco político de demissões em ano eleitoral.
RESERVA
O pacote prevê outra medida para liberação de crédito. O governo quer permitir que os bancos reduzam a reserva de capital exigida para financiamentos de veículos.
A redução seria gradativa, conforme o pagamento das prestações. Se o cliente se mostrar um bom pagador, o banco reduz a reserva para aquele empréstimo. Isso possibilita à instituição emprestar mais e até reduzir juros.
Na média, o banco precisa de capital equivalente a, no mínimo, 11% dos empréstimos. Para veículos, a exigência é menor, de 8,5%. A proposta é que ela possa cair para até 5,5%.
Outra medida prevê agilizar a retomada de veículos de clientes inadimplentes, o que depende de mudança na legislação. Hoje, só 12% dos automóveis são recuperados.
Fonte: Folha de São Paulo