Gigante na China, Baidu quer presença global maior

O Baidu, segundo site de busca mais usado no mundo, desafia estereótipos ligados a empresas chinesas. Instalado em um prédio de formas onduladas na periferia de Pequim, é uma usina de inovação e empreendedorismo.

Nos últimos meses, enquanto as atenções se voltaram para a estreia na Bolsa de Nova York do gigante chinês de comércio eletrônico Alibaba, o Baidu não parou de ampliar seus domínios, incluindo no Brasil.

A compra do portal de ofertas Peixe Urbano, anunciada no último dia 9, é só uma das muitas ações recentes que mostram as ambições globais da empresa. São iniciativas que apontam para múltiplas direções, da parceria com a alemã BMW para desenvolver um carro sem motorista à criação de uma versão própria do Google Glass, batizado de BaiduEye, que deve chegar às lojas em 2015.

A Folha visitou o QG da empresa, localizado numa área de Pequim conhecida como o “vale do silício da China”, pela alta concentração de empresas de tecnologia. Entre câmaras de repouso de aspecto futurista e mesas de ping-pong, funcionários circulam de bermuda e chinelo, num clima de descontração.

A maioria das pessoas ali está na casa dos 30 anos. Ou nem isso, como o criador do BaiduEye, Gu Jiawei, 28. “O conceito é bem diferente do Google Glass”, diz Gu à Folha, evitando a comparação.

Ao contrário do rival, o BaiduEye não tem tela, mas um leitor que fornece informações sobre o que está no campo de visão do usuário, uma espécie de “terceiro olho”.

O investimento em pesquisa e tecnologia é uma marca do Baidu, fundado em 2000 por Robin Li, 45, hoje um dos homens mais ricos da China, com fortuna estimada em US$ 17 bilhões. Filho de operários, fez doutorado em computação nos EUA, onde patenteou seu sistema de buscas em 1997, mesma época em que Sergey Brin e Larry Page desenvolveram o Google.

HERÓI

Li é um herói para a geração de chineses nascida após a abertura econômica iniciada na década de 80, que sonha em seguir seus passos e fazer fortuna. Tanto que, no recém-inaugurado museu de cera Madame Tussauds de Pequim, Li já tem uma estátua.

“Ele é um modelo para os jovens, e o Baidu é um motivo de orgulho, por ser 100% chinês”, diz Michael Zhang, 31. Ao lado de outros recém-contratados da firma, vestido com uma camiseta camuflada em estilo militar, Zhang fazia exercícios diante da sede, para pegar o espírito de equipe. Sinal de que mesmo uma das mais modernas empresas do país conserva traços tipicamente chineses como a ação coletiva.

Hoje o Baidu tem 42 mil funcionários e é responsável por 75% das buscas na internet chinesa, um universo de 600 milhões de usuários. A liderança foi favorecida pela saída do Google da China em 2010, por não aceitar as regras da censura no país.

Para Kaiser Kuo, diretor de comunicação internacional do Baidu, embora o mercado doméstico ainda tenha enorme potencial de crescimento, já que a penetração da internet na China mal chega a 50%, a empresa busca a expansão internacional como estratégia de longo prazo.

Ele reconhece que lutar contra a imagem de que tudo o que vem da China é cópia barata e de má qualidade será um dos grandes desafios.

“Temos consciência de que a marca ‘made in China’ não ajuda”, diz Kaiser. “A única forma de mudar essa impressão é com provas irrefutáveis de que a imagem é falsa. Não com relações públicas, mas com o próprio produto.”

Americano de origem chinesa, guitarrista de rock e jornalista, Kaiser diz que o Baidu não tem alternativa a não ser cumprir a lei chinesa e aceitar a censura.

“Fazemos mais que qualquer outra empresa para ampliar os horizontes dos usuários e forçar os limites da censura”, diz, acrescentando que não tem dilemas morais. “Eu durmo bem à noite.”

A censura chinesa, ele garante, não será exportada para o site do Baidu no Brasil.

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Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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