Exportação cai e Brasil perde a onda do mercado africano

As exportações brasileiras para a África, uma das regiões com maior potencial de crescimento no mundo, estão em queda pelo terceiro ano consecutivo.

De janeiro a setembro, o Brasil embarcou US$ 7 bilhões à região, segundo dados do Mdic (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior). No mesmo período em 2011, foram vendidos US$ 8,7 bilhões.

A pasta exclui do cálculo o desempenho das vendas para o Oriente Médio. Mas, para lá, o resultado também cai ano após ano.

Após ter sido eleita pelo ex-presidente Lula como região prioritária na política comercial brasileira, as vendas para a África deram um salto a partir de 2003. Desde 2011, contudo, já no governo Dilma Rousseff, só fazem cair.

Não é um problema de demanda. Dados da OMC (Organização Mundial do Comércio) mostram que a África segue aumentando as importações do mundo de forma consistente nos últimos anos.

Apesar do peso pequeno na pauta exportadora do Brasil (apenas 5% dos produtos embarcados para o exterior rumam ao continente), trata-se de uma região estratégica.

A África registra crescimento médio acima de 5% nos últimos cinco anos e é onde a população mais cresce no mundo, segundo dados compilados pelo BNDES.

Somente na Nigéria, a maior economia da região, o número de famílias de classe média cresceu 600% em 10 anos e alcançou 4,1 milhões, de acordo com o Standard Bank, da África do Sul.

O banco estima que a classe média de 11 países da África subsaariana saltará dos atuais 16 milhões de famílias para 40 milhões até 2030.

Dirk Van Hoomissen, diretor para o Brasil da Safmarine, empresa sulafricana de transporte, diz que essa nova classe média está demandando mais fortemente produtos nos quais o Brasil é competitivo: os alimentos. Mas, mesmo assim, as empresas brasileiras não estão conseguindo aproveitar a oportunidade.

“O continente africano está crescendo a um ritmo mais rápido que o mundo. E quem está aproveitando a onda de desenvolvimento da África são as empresas asiáticas”, diz Hoomissen. Segundo ele, 27% dos contêineres que chegam ao continente africano saem da Ásia, enquanto apenas 4% chegam do Brasil.

Dos dez principais produtos vendidos pelo Brasil para a África, seis são alimentos. Destes, apenas a soja conseguiu aumentar as vendas este ano. No caso do açúcar, que responde por cerca de 30% das vendas totais do país para a região, há retração nas exportações desde 2011.

PRESENÇA INCIPIENTE

O governo lembra que houve queda nos preços este ano. Mas as quantidades vendidas também diminuíram.

Na avaliação do Mdic, falta interesse das empresas em investir na região. “Elas estão esperando que o governo faça esse esforço. Temos de fazer, porque a África é complicada mesmo. É preciso um esforço de diplomacia, mas elas podiam ter participado da licitação ampla que o governo nigeriano fez no setor elétrico, por exemplo. Nenhuma empresa brasileira participou”, disse à Folha em agosto o secretário-executivo do Mdic, Ricardo Schaefer.

Um dos maiores entraves ao investimento na região é o temor dos empresários sobre as regras locais e conflitos internos nos países. Acordo de cooperação e facilitação de investimentos vêm sendo negociados desde o ano passado pelo Mdic para ajudar a dar garantias e mais segurança aos empresários que desejam investir na região. As propostas foram apresentadas a Àfrica do Sul, Angola, Argélia, Malaui, Marrocos, Moçambique, Nigéria e Tunísia. Os acordos, contudo, ainda não foram finalizados.

Levantamento do BNDES, que criou uma diretoria dedicada à África no ano passado, mostra que a presença das empresas brasileiras nos oito países eleitos como prioritários pelo governo brasileiro ainda é “pequena” ou “incipiente” —limitada, em geral, às construtoras e à mineradora Vale.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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