Ex-executivo da Odebrecht possui rede de offshores

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Peça-chave na fase Acarajé da Operação Lava Jato, o ex-executivo da Odebrecht Fernando Migliaccio da Silva possui uma rede de empresas offshore espalhada por diversos países.

Nos documentos da operação, os investigadores da PF listam pelo menos cinco empresas controladas por Migliaccio, abertas em locais como Ilhas Virgens Britânicas, Antígua e Panamá e contas em três bancos da Suíça.

Uma das offshores foi usada para comprar uma casa onde morou na Flórida ao se mudar para os Estados Unidos. A mudança para o exterior foi vista pelas autoridades como uma forma de afastá-lo das investigações da Lava Jato –há provas mostrando funcionários da empreiteira o auxiliando com a documentação americana.

Preso na Suíça desde a semana passada, Migliaccio, 47, tinha como função, nas palavras do juiz federal Sergio Moro, “administrar contas secretas” da empreiteira, incluindo repasses de propina a agentes públicos.

Entre os suspeitos de receber os pagamentos, estão réus já condenados, como os ex-executivos da Petrobras Paulo Roberto Costa e Pedro Barusco. Moro cogita que ele tivesse uma atuação “informal” na empreiteira, embora os documentos o apontem como funcionário contratado desde 1998 –um dos cargos foi o de “diretor financeiro”.

A prisão na Europa foi pedida pelo Ministério Público suíço, que suspeita que ele estivesse esvaziando contas em um banco em Genebra. Simultaneamente, o executivo tinha um mandado de prisão expedido no Brasil, que seria cumprido na última segunda-feira (22), quando a fase Acarajé foi deflagrada.

Na Lava Jato, ele é apontado como autor da planilha que mostra supostos pagamentos milionários da empreiteira a “Feira”, “Prédio (IL)” e “JD”.

Para a Polícia Federal, esses apelidos podem ser referências, respectivamente, ao marqueteiro João Santana, ao Instituto Lula e ao ex-ministro José Dirceu.

Embora a Odebrecht já seja alvo de duas ações penais da Lava Jato, Migliaccio não tinha sido implicado nas investigações até agora.

PELA AMÉRICA DO SUL

A mulher de João Santana, Mônica Moura, detida nesta semana na fase Acarajé, disse aos investigadores que, ao trabalhar em campanha eleitoral na Venezuela, foi orientada a procurar Migliaccio para receber pagamentos.

Outro episódio atribuído a ele é o suborno em obras na Argentina. E-mails interceptados com o executivo mostram um diretor da Odebrecht no país vizinho e um assessor do ex-secretário de Transportes da Argentina discutindo problemas de pagamento.

Os repasses, aponta a investigação, partiam da conta Klienfeld, a mesma que é investigada como origem de repasses para João Santana.

A PF também suspeita de pagamentos no Peru, já que há referências na planilha de Migliaccio a “OH”, o que foi entendido como uma referência ao presidente Ollanta Humala. O governo peruano contesta essa conclusão.

Ainda não há uma definição sobre a extradição do executivo. O juiz Sergio Moro disse estar ciente da prisão, mas ainda não se manifestou sobre a vinda dele ao Brasil.

OUTRO LADO

A Folha não localizou os advogados do investigado. Procurada, a Odebrecht disse apenas que ele deixou a empresa em dezembro de 2015. Também afirmou que a transferência do funcionário para os Estados Unidos ocorreu cinco meses antes da 14ª fase da Lava Jato, que tinha a Odebrecht e a Andrade Gutierrez como um dos alvos.

“Todos os integrantes transferidos para o exterior têm suas despesas arcadas pela empresa, prática usual do mercado”, disse, em nota.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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