Estrangeiros já são 10% dos médicos de Roraima
Enquanto o governo federal e a classe médica discutem se vale a pena incentivar a atuação de profissionais formados no exterior em hospitais do interior do país, em Roraima a presença de estrangeiros já faz parte do dia a dia do sistema de saúde.
Muitos se casaram com brasileiras, falam um português compreensível, passaram por consultórios e atuam em cargos burocráticos.
Médicos de outras nacionalidades representam hoje cerca de 10% do total do quadro de profissionais do Estado, no extremo norte do país.
Com experiência em clínica médica, obstetrícia e pediatria, são em torno de 60.
A maioria é de cubanos, mas há também colombianos, venezuelanos e alguns de países africanos.
Há oito anos em Roraima, Julio Meneses, 40, é um desses cubanos. É diretor do único hospital geral do Estado e acumula funções na Prefeitura de Boa Vista e na iniciativa privada. “Casei com uma brasileira, tive filhos brasileiros e hoje sou cidadão brasileiro. É fácil se adaptar.”
Antes de Roraima, passou por países africanos, Guatemala, Colômbia e Venezuela.
Hoje diz que recebe R$ 10 mil só do governo do Estado. Em Cuba, segundo ele, o salário não chegaria a R$ 1.000. “O salario aqui é muito bom.”
Outro exemplo é Francisco Monteiro, 45. Cubano e também casado com uma brasileira, é médico concursado no governo e na capital, além de diretor do Samu.
“Cheguei por um convênio entre Roraima e o governo de Cuba. Ficaria apenas dois anos, mas conheci uma brasileira, tive filhos brasileiros e me adaptei ao país”, disse.
DIPLOMA E IDIOMA
A ideia em discussão no governo federal é criar meios para incentivar médicos formados no exterior a entrar no Brasil e atuar em locais onde há poucos profissionais, em especial no Norte e Nordeste.
Para isso, como já acontece hoje, esses profissionais terão de passar pelo exame nacional de revalidação de diplomas, atualmente com baixo índice de aprovação.
Em Roraima, os estrangeiros há mais tempo no Brasil superaram a dificuldade com o idioma. Os recém-chegados, porém, incomodam os pacientes. “Não consegui entender o que ele [médico estrangeiro] receitava”, disse o agricultor João Marcos, 55.
Para o governo local e o CRM (Conselho Regional de Medicina) de Roraima, a presença desses estrangeiros tem sido fundamental para atender à demanda da saúde.
“A Amazônia tem suas peculiaridades, e todos sabem o quanto é difícil fixar um médico. Roraima tem necessidade. Não temos como colocar vários profissionais e especialistas no interior”, disse o secretário estadual de Saúde, Leocádio Vasconcelos.
Presidente do CRM local, Wirlande da Luz afirma que todos os médicos estrangeiros que atuam no Estado estão inscritos legalmente e habilitados para o exercício profissional. “São médicos com os mesmos direitos e deveres dos médicos brasileiros.”
Fonte: Folha de São Paulo