Emissoras mudam programação em guerra pela audiência

As emissoras de televisão sempre estiveram atentas ao que acontece com suas concorrentes e tentam tirar proveito das escolhas, dificuldades e até dos sucessos alheios. Isso faz parte de uma lógica comercial. A novidade é que essa disputa nunca esteve tão acirrada.

Diversas atrações ao vivo podem se estender ou serem encurtadas conforme a audiência, caso de programas de auditório e policiais que dependem muito do que está sendo apresentado e do carisma, talento e capacidade de improvisação de seus apresentadores, como Faustão ou Datena, por exemplo, no Domingão do Faustão, da Globo; e no Brasil Urgente, da Band, respectivamente.

No chamado horário nobre, a Record colhe os louros de Os Dez Mandamentos, enquanto a Globo reformula o tradicional Jornal Nacional, a fim de ocupar a faixa por mais tempo. A estratégia ainda é uma saída para evitar o confronto entre a trama de Vivian de Oliveira e a de João Emanuel Carneiro, A Regra do Jogo.

Sobrevida

Os bons números de audiência da trama bíblica fizeram com que os personagens tivessem uma espécie de sobrevida. Vivian de Oliveira, de Os Dez Mandamentos, diz que houve uma vontade da empresa de encerrar a novela só no final de novembro.

“A novela foi esticada e me pediram 20 capítulos a mais. Foi uma decisão da casa e não minha”, explica a autora. Ela argumenta que acabou sendo bom, porque a história, agora, é contada com mais tranquilidade.

O autor Marcílio Moraes diz que a decisão de aumentar o tempo de duração dos capítulos é a mais cruel para um autor de novela.

Vidas Opostas, de 2007, assinada por ele, era frequentemente alongada pela direção da Record em função dos índices de audiência. Roque Santeiro, da TV Globo, seu primeiro trabalho como colaborador em um folhetim, tinha sido prevista para 166 capítulos e terminou com 214.

“Quando os diretores da emissora resolvem que a novela tem que ficar mais tempo no ar, isto significa que a estrutura dos capítulos que o autor montou será sacrificada em prejuízo da dramaturgia. Isso dói. Mas quem escreve novelas tem que estar preparado para essas eventualidades, não pode reclamar”, opina.

Vivian diz que pensou em seu cansaço quando o tal pedido foi feito. “Você para a sua vida social e pessoal quando escreve uma novela. Eu tive que fazer um novo planejamento do desenrolar dos capítulos e dos personagens”, conta.

Para o crítico de televisão e professor do Departamento de Teoria e História da Arte da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Mauro Trindade, o público é a razão de ser dos espetáculos, a despeito de qualquer outra intenção dos autores, técnicos e artistas envolvidos.

“No teatro brasileiro, Irma Vap ficou em cartaz por onze anos. Os seriados norte-americanos também sobrevivem de acordo com a audiência. Law & Order está no ar desde 1990 e já deu muitas crias. The Walking Dead vai pelo mesmo caminho. Na tevê brasileira, Chiquititas (do SBT) é um bom exemplo”, relembra.

Só que a audiência não vem sozinha. A grande vantagem para as emissoras e seus empresários é que o faturamento aumenta com o avanço dos capítulos, enquanto as despesas diminuem. “Que argumento se pode usar com os diretores das emissoras para que deixem de ganhar dinheiro?”, questiona Marcílio.

Prós e contras

Esticar demais uma história requer subtramas, mais personagens e reviravoltas no enredo que podem acabar esgarçando a trama original. Do mesmo jeito que encurtar uma novela por causa dos baixos índices de audiência pode gerar um desfecho mal feito, além de uma tremenda decepção no telespectador e na própria equipe de produção e elenco.

Recentemente, Babilônia, de Gilberto Braga, terminou antes do esperado. Em Família, de Manoel Carlos, teria 150 capítulos, mas foi enxugada e acabou com 143 episódios. A principal preocupação de Vivian com os capítulos extras de Os Dez Mandamentos era que houvesse ritmo e coerência.

Marcílio acredita que depois que o espectador é capturado por uma trama, dificilmente a deixará antes do final, mesmo que esta ganhe 20 ou 50 capítulos. “Poderá se enraivecer, reclamar, falar mal da novela porque está se arrastando demais, mas continuará fiel a ela até saber o que vai acontecer com os personagens com quem se identifica”.

Para o crítico Mauro Trindade, bem ou mal, certas histórias chegam ao seu limite. “Não dá para inventar um décimo primeiro mandamento”, ironiza.

Fonte: Agência Estado

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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