Ebal caminha para a privatização com prejuízo de R$ 381,8 mi
Com a promessa de ser privatizada nos próximos meses, a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal), que controla as lojas da Cesta do Povo, tem um rombo acumulado de pelo menos R$ 381,8 milhões no governo Wagner.
O valor corresponde à soma dos repasses feitos pelo estado entre os anos de 2007 e 2014 apenas para manter a Ebal em funcionamento. Os dados estão disponíveis em relatórios do Tribunal de Contas do Estado (TCE) e no Portal Transparência.
“Historicamente, o estado vinha aportando recursos a título de aumento de capital, só que a Ebal utilizou para se manter, e não para investir. A Ebal usa esse expediente há 10, 15 anos. Não resta dúvida de que ela não consegue autossuficiência financeira, não sobreviveria sem o aporte”, diz Gildásio Penedo, conselheiro do TCE e relator das contas de 2013 do Executivo.
O fato de a Ebal não ser autossuficiente foi justamente o argumento apresentado pelo governador eleito, Rui Costa (PT), ao anunciar a intenção de privatizar a empresa. Segundo o petista, não era mais possível tirar dinheiro “da saúde, educação, estradas e água para colocar em um supermercado”.
Há pelo menos 10 anos, a corte questiona, com base na Lei de Responsabilidade Fiscal, o fato de o governo não considerar a Ebal uma empresa estatal dependente, apesar dos sucessivos repasses para custeá-la.
Procurado para informar como ocorreria o processo de privatização, o governo disse que ainda não definiu o modelo e a forma de alienação de suas cotas na Ebal. Um grupo de trabalho será constituído para avaliar o assunto, conforme a equipe de transição.
“Nessa modelagem também serão observadas diretrizes como a manutenção do papel estratégico da empresa em alguns municípios, a continuidade da bandeira Ebal e a preservação do seu papel social, o que inclui a discussão sobre garantias a serem negociadas com relação ao seu quadro funcional”, diz a equipe, por meio de nota.
Também não foram informados os motivos para a situação deficitária da Ebal. A empresa, por meio de assessoria, afirmou que não se manifestaria sobre o assunto.
Plano de privatização
A intenção do governo de privatizar a Ebal já vem desde a gestão de Reub Celestino, que presidiu a empresa entre janeiro de 2007 e dezembro de 2012. “Queriam que eu fizesse um estudo de mercado. Eu disse que a Ebal não tinha patrimônio compatível com os interesses da iniciativa privada, só o nome”, diz o antigo dirigente.
Reub afirma que sua gestão recuperou a empresa, reabrindo 306 lojas da Cesta do Povo e reduzindo o número de funcionários de 4,2 mil para 2,3 mil. A maioria, conforme Reub, possuía cargos comissionados. “Quando assumi, todas as lojas estavam fechadas. Havia uma dívida de R$ 315 milhões e prejuízo acumulado de R$ 620 milhões”, afirma. Contrário à privatização, o ex-presidente diz que tinha três propostas alternativas à venda para a iniciativa privada.
Uma delas seria uma coparticipação com o setor privado. Outra opção seria formar uma cooperativa de consumo. “Os cooperados seriam os próprios consumidores, que ganhariam pontuação à medida que fossem comprando. Se a empresa tivesse sobra ao final do ano, cada consumidor teria o seu percentual, que seria recebido em produto”, explica.
A terceira alternativa seria a montagem de uma franquia. “A Ebal seria a grande central de distribuição, com quatro mil, cinco mil pontos. Haveria uma sessão da Cesta do Povo em cada pequeno estabelecimento. A ‘lojinha do Seu Antônio’ teria um setor com os nossos preços”, diz Reub.
O deputado Carlos Gaban (DEM), vice-líder da oposição na Assembleia, afirma que a Ebal cumpre o papel de regular o aumento do valor da cesta básica no interior do estado. Segundo ele, a privatização traria prejuízos à população.
“Na capital, há concorrência, mas em muitos municípios há poucos supermercados e eles cobram o que querem da população. Querem acabar com a Ebal porque foi criada por Antonio Carlos (Magalhães). Deveriam reestruturar a Ebal, não extingui-la”, diz o deputado.
Histórico da Ebal
1979
Criado o Programa de Abastecimento de Alimentos Básicos pelo então governador Antonio Carlos Magalhães. Em 1980 foi criada a Empresa Baiana de Alimentos (Ebal)
1991
Ebal é reaberta por ACM, depois de desativada por quatro anos do governo Waldir Pires/Nilo Coelho
Fevereiro de 2007
Logo após a posse do governador Jaques Wagner, o então secretário da Fazenda, Carlos Martins, afirma que a Ebal tinha um rombo financeiro de R$ 300 milhões
Março de 2007
Assembleia instala CPI da Ebal, requerida pela bancada do PT
Março a dezembro de 2007
CPI encontra supostas irregularidades, sobretudo no setor de engenharia, obras e serviços contratados junto à Organização do Auxílio Fraterno (OAF)
Fevereiro de 2008
CPI chega ao fim e pede ao Ministério Público indiciamento de 14 pessoas
Julho de 2010
O vice-governador Otto Alencar, em entrevista ao A TARDE, diz que R$ 200 milhões do total de prejuízo da Ebal se referiam a passivo trabalhista
Janeiro de 2012
MP propõe seis ações públicas por improbidade administrativa contra mais de 100 pessoas físicas e jurídicas. Responsável pelo caso, o juiz Ícaro Matos não foi localizado na 1ª Vara Criminal para comentar o assunto
Dezembro de 2014
Após ser eleito, Rui Costa anuncia que irá privatizar a Ebal
REPASSES PARA A EBAL
2007
R$ 86,496 milhões
2008
R$ 94,425 milhões
2009
R$ 67,187 milhões
2010
R$ 66,973 milhões
2011
R$ 37,499 milhões
2012
R$ 191,5 mil
2013/2014
R$ 29,1 milhões
Fonte: A Tarde