E por falar em mudanças…Seria tempo de pegar o embalo de Bento XVI e rever veto à ordenação de mulheres, diz socióloga
Enquanto 08 de Março, Dia Internacional da Mulher, convocava felicitações de todas as partes, mensagens edificantes de políticos, peças publicitárias vendedoras, presentes, flores e múltiplos gestos de apreço às filhas de Eva, num auditório fechado em Roma uma centena de homens, só homens, prosseguia na missão de decidir o futuro do grande edifício católico. Edifício sob cujo teto abriga-se 1,1 bilhão de fiéis pelo mundo, a maioria mulheres.
Uma delas é Elfriede Harth, 64 anos, cinco filhos e oito netos, uma católica nascida em Bogotá, na Colômbia, porém há anos vivendo na Alemanha. Pois Elfriede passou o 8 de Março bem angustiada com o apagão tecnológico da sua casa. Há dias está sem telefone fixo, sem internet e sem alguma explicação plausível da operadora dos serviços. Ok, Frankfurt guarda alguma semelhança com outras partes do planeta. Assim sendo, conversamos por telefone móvel, na véspera e no grande “dia”.
Comunicação capenga é um problemaço para essa socióloga formada pela Sorbonne com doutorado no Institut d’Études Politiques de Paris, o renomado Sciences Po. Porque Elfriede está 100% conectada a um movimento global que justamente incomoda aqueles senhores de Roma, incluindo os 115 cardeais que a partir de terça-feira isolam-se para eleger o sucessor de Bento XVI. Trata-se do movimento católico pela ordenação de mulheres como sacerdotes.
“Não me venham com isso, numa hora dessas”, poderia bradar o camerlengo Tarcisio Bertone, à frente da Igreja Católica neste conturbado período de sede vacante. Mas a questão, cardeal, é que o movimento existe. Pequeno, abafado, constrangido muitas vezes, mas existe para cobrar a presença de sacerdotes mulheres tanto nas paróquias pelo mundo afora, como quem sabe um dia, nos salões engalanados do Vaticano.
A invisibilidade feminina na hierarquia católica é o tema central desta entrevista exclusiva de Elfriede Harth, ela que já foi catequista de bairro, ativista do movimento We Are Church, membro do Femmes et Hommes en Église, na França, presidente do European Women’s Synod, representante do Parlamento Europeu em grupo que se ocupa das relações entre religião e política, e ainda é associada às Católicas pelo Direito de Decidir na Europa. Elfriede, mesmo sem telefone nem internet, quer conversar. E muito.
Acha que a renúncia de Bento XVI, gesto que qualifica como “excelente”, “extraordinário”, poderá introduzir no pensamento oficial da Igreja brechas para outras rupturas. “Outras inovações”, insiste. Acredita que, ao dizer-se incapaz de conduzir o ministério petrino, pela idade e pelo cansaço, sem falar nos escândalos inconfessáveis, o papa renunciante inescapavelmente apontou para a necessidade de distribuição de poder na Igreja – algo que Elfriede batizaria como “dar maior autonomia aos bispos, eles é que estão mais perto das pessoas”. E nesse embalo a socióloga vai centralizando sua longa reflexão sobre o que seria uma dívida milenar da instituição para com as mulheres. No centro de todos os problemas, do veto permanente à ordenação feminina aos casos da pedofilia no clero, Elfriede divisa a mesma dificuldade da Igreja: lidar com tudo o que, direta ou indiretamente, tem a ver com a sexualidade humana.
Doutora Harth, esse momento de transição de comando no Vaticano e de instabilidade na Cúria Romana seria propício para discutir a ampliação da presença das mulheres na Igreja Católica?
Sim. Atravessamos um momento único pelo fato de haver um papa que renunciou. Isso representa uma ruptura com a tradição. Tinha-se como algo natural, inquestionável, que papas morreriam sendo papas e só então poderiam ser substituídos. Bento XVI inovou ao renunciar, abrindo caminho para que outras rupturas sejam possíveis. É inegável. Acrescente-se o fato de a Igreja, como instituição, andar debilitada frente à opinião pública pelos diferentes tipos de escândalos. Então, espero que na cúpula haja gente disposta a refletir “bom, isso não pode seguir assim, do contrário vamos enterrar a instituição”.
Faço aqui um parêntese: qual é a sua opinião pessoal sobre a renúncia de Bento XVI?
Pessoalmente, achei excelente. Mas ficar escavando as razões da renúncia talvez não seja tão importante para mim. Bento XVI chegou a uma decisão responsável, para ser coerente consigo mesmo e seguir mirando-se no espelho. Quero crer que lhe bateu aquela coragem de admitir: “Tenho a possibilidade da renúncia, então por que não usá-la?”. Não é de hoje que estou convencida de que a missão do papa é grande demais para um homem. Significa ser um monarca absoluto num mundo globalizado, cada dia mais complexo. É impossível que uma única pessoa chame para si todos os poderes de uma instituição como a Igreja Católica. Veja bem, o papa tem que ser o representante de Deus na terra, o guia espiritual da humanidade, o sumo executivo, o grande juiz. É demais! Daí a Cúria faz e desfaz, sem que o papa se inteire de muita coisa. Porque simplesmente é impossível saber de tudo. Então seria importante revisar esse ministério, livrando-o de muitos anacronismos. Vale lembrar: quando acabavam as monarquias absolutistas na Europa é que justamente se reforçou o papel do papa como monarca absolutista. Não há nem justificativa histórica para isso.
O que se vê agora seria uma contradição entre a falibilidade humana e a infalibilidade papal, por transferência divina?
Em termos teológicos, a infalibilidade papal está associada só a dois dogmas marianos, dogmas ex cathedra, a concepção imaculada e a assunção da Virgem. Isso foi estabelecido no Concílio Vaticano I, em 1870. Mas o Vaticano tratou de atrelar muitos outros temas à infalibilidade, temas sobre os quais o papa tem a última palavra, como a ordenação sacerdotal das mulheres. O que é falso, porque aqui não se trata de questão de fé, dogma ou mesmo doutrina. Tampouco a exclusão das mulheres da Igreja é uma questão moral, e sim uma questão disciplinar, de burocracia, de regulamentos. Não tem a ver com a fé. Mas agem como se tivesse, sobretudo afirmando que Jesus, ao fundar a Igreja, preferiu não ordenar mulheres. O que também não constituiria uma questão de fé.
Hoje até existem evidências históricas apontando uma relação mais próxima de Jesus com as mulheres, demonstrando a importância que ele lhes dava, inclusive iniciando-as nos ritos religiosos.
São Paulo fala em suas epístolas da apóstola Júnia e de mulheres que participavam do ministério. Não eram mulheres pobres e desprotegidas, ao contrário, eram mulheres que poderiam assumir tal participação. Líderes reconhecidas, o que fica patente em achados nas tumbas desses primeiros tempos da cristandade. Adiante na história, vimos que as abadessas tiveram imenso poder tal como os bispos, que havia ritos de iniciação a religiosas. Há quadros em que se vê Maria Madalena ordenando Jesus, e por quê? Porque ela o ungiu na hora da morte. Foi dela que Jesus recebeu a derradeira unção em sua breve vida. Enfim, são vários os estudos comprovando que não havia tanta discriminação às mulheres naqueles primeiros tempos, essa mesma discriminação que viria com a consolidação das religiões no patriarcado. Nascem aí muitos dos argumentos para negar às mulheres acesso à vida sacerdotal.
Existiria um marco histórico determinando o início do processo de exclusão das mulheres da hierarquia da Igreja?
Esse marco é o século 4, sob o império de Constantino, quando se converteu o cristianismo em religião de Estado. Ali o cristianismo deixa de ser a religião dos pobres, subversiva, clandestina, vivida nas catacumbas. Há pesquisas apontando que nesse tempo muitas mulheres chegaram a se rebelar contra a imposição do casamento, preferindo viver sozinhas, longe de pais e maridos, o que comprovaria a tese de que o cristianismo original funcionou como meio de liberação feminina. Isso também se viu em comunidades judaicas, pré-cristãs. Havia judias ricas, poderosas, não dependiam dos homens porque tinham seus próprios recursos. Judite, por exemplo, é um caso clássico. E até no mundo islâmico, no tempo de Maomé, a religião significou para muitas a liberação. Mas morre Jesus, morre Maomé e os homens assumem o controle. Tertuliano, no século 3, já tratava de dizer que mulheres eram a porta do demônio. Começou-se a martelar o mito de Eva como símbolo de tentação, quando Eva foi exemplar, audaciosa, Adão não se atrevia a nada. Claro, há diferentes maneiras de interpretar tudo isso, porém o que vigorou foram as versões patriarcais, só elas. Felizmente graças à teologia moderna, e dentro dela a teologia feminista, muito tem se revisado, inclusive as noções de culpa e sacrifício.
Mas tem sido um processo longo…
Só que ele acontece. Hoje estive visitando uma curiosa exposição de pôsteres sobre mulheres em campanhas eleitorais, a propósito do 8 de Março. É impressionante como os partidos políticos alemães mudaram sua visão sobre a presença e a condição femininas nos últimos 60 anos. Só por uma coleção de pôsteres é possível constatar isso. Ora, as mudanças podem ser mais lentas do que desejaríamos, mas estão se processando. Em 1962 teve início o Concílio Vaticano 2 e, já no ano seguinte, João XXIII publicou a encíclica Pacem in Terris, em que trata dos três “signos do tempo”: o processo de descolonização, a emergência da classe trabalhadora, reclamando direitos, e a mulher entrando no espaço público, reivindicando dignidade. Veja como é importante olhar para trás e ver os passos que foram dados até aqui. Assim, vamos preparando a terra, semeando, semeando, até que um dia brote a primavera.
Há uma contradição estatística na Igreja: enquanto é bloqueado às mulheres o caminho da hierarquia católica, por outro lado, elas constituem maioria na base da instituição. São centenas de milhares as de vida consagrada no mundo.
Somando o total de religiosos homens, ordenados ou não, ou seja, acrescentando aí frades, diáconos e padres diocesanos, há mais mulheres. Eu diria que temos propensão à religião e espiritualidade. Sim, sim, aí tem alguma coisa que nos diferencia. Também dá para supor que, por muito tempo, e ainda hoje, em países onde as mulheres não encontram alternativas fora da vida matrimonial, a vocação religiosa feminina se mantém como alternativa. Isso se vê em certos lugares da África. Pense que no passado, de modo geral, o clero recrutava entre as classes abastadas. Hoje é o contrário. Para gente pobre, a vida religiosa pode significar uma ascensão social, porque se garantem os estudos e se tem uma vida mais cômoda, segura, com efeitos benéficos para toda a família.
O número de religiosas na África cresce, entretanto em certos lugares deste continente tudo parece conspirar para que a mulher fique confinada ao espaço privado. Corre-se o risco de fazer retroceder ainda mais a condição feminina?
Risco? Em termos… porque são as mulheres que estão dando duro na vida religiosa. Fora dela, também são elas que cultivam, colhem, alimentam os filhos, é impressionante a exposição dessas mulheres ao mundo árduo do trabalho e da sobrevivência. Esse é um dos fatores pelos quais a figura da mãe é tão importante nessas sociedades. Falando com feministas africanas, já as ouvi dizerem algo como “é importante que vocês não nos mirem com olhos de feministas ocidentais, europeias, porque há coisas de vocês que não se enquadram em nossos esquemas de vida”. Mulheres islâmicas já me disseram que terão de desenvolver seu próprio feminismo. E que não repetirão nossos passos porque não compartilham da mesma visão de mundo. Estão certas. Elas têm outra relação com o homem, assim como têm outro peso no seio da família. Como mulher e católica, admito que temos visões muito europeizantes.
Comente mais, por favor.
Ah, o catolicismo é muito europeu. Lembremos que os jesuítas tentaram submeter os chineses e não conseguiram, nunca se conseguiu consolidar o cristianismo na Ásia. Porque houve rejeição a esse imperialismo cultural, digamos assim. Existem catolicismos, no plural, e o da Europa não é o mesmo da América Latina, por exemplo. O desejo de reforma da Igreja também não é único, ele se apresenta de distintas formas em distintos lugares. Latino-americanos falam tanto em separar Igreja de Estado, mas frequentemente estão reclamando a presença desta mesma Igreja no campo social. Isso não acontece na Europa. Por isso, acredito que o tema da ordenação de mulheres é menos importante em outras partes do mundo do que é na Europa. O mesmo vale para o fim do celibato. Aqui se luta por algo que os latino-americanos tratam com maior flexibilidade, basta ver quantos padres latinos têm filhos e assim vivem.
A senhora está dizendo que se luta mais pelo fim do celibato religioso na Europa do que na América Latina?
Veja bem, a América Latina, como de resto o mundo, está reclamando o celibato opcional para os religiosos. Ponto. Sabe-se que, durante o Concílio Vaticano II, foram bispos brasileiros que formalmente advogaram em prol do celibato opcional, para que os padres não seguissem vivendo clandestinos, com as famílias que construíam. Isso é sabido. Agora, discutir o fim do celibato na Europa, mormente na Alemanha, Áustria e Suíça, ganha um peso incrível porque a Igreja é o segundo empregador desses países. Muita gente estuda teologia nesses lugares não para seguir a vida religiosa, mas para arrumar emprego na Igreja e em suas instituições. Podem trabalhar em universidades, escolas, hospitais, orfanatos, enfim, há amplos setores da economia nas mãos da Igreja. Também não foi por acaso que, ainda tratando do Vaticano II, justamente foram as teólogas alemãs que encaminharam petições pela ordenação das mulheres.
Esse movimento perdeu força?
Não, esse movimento continuou, apesar de todas as dificuldades. Vou dar um exemplo: em 2002, houve ordenações de mulheres, à revelia do Vaticano evidentemente, numa cerimônia feita num barco no rio Danúbio, bem entre Alemanha e Áustria. A escolha do local foi de propósito, seria uma espécie de terra de ninguém… Ali se ordenaram sete mulheres. Ida Raming, teóloga especialista em direito canônico e pioneira do movimento pela ordenação de mulheres, com atuação no Vaticano II, foi uma das ordenadas. Hoje é bispa e se ocupa da formação de outras religiosas. Ida vive em Stuttgart, trabalha com muitos grupos, ministra sacramentos. Assim se deu com a doutora em teologia Patricia Fresen, uma freira dominicana que viveu na África do Sul por muitos anos, combateu o apartheid, foi presa, correu risco de vida, etc. Em 2003 Patricia foi ordenada (por um bispo em Barcelona, ato invalidado pelo Vaticano). Acabou sendo expulsa da ordem, mas tem sido uma brava combatente pela ordenação das mulheres.
O que será mais difícil para a igreja: instituir o celibato opcional no seu clero ou aceitar a ordenação de mulheres?
A ordenação de mulheres será mais difícil. Porém, tanto uma coisa quanto outra têm a ver com sexualidade. Para ser sacerdote é preciso ser varão, estabelece a Igreja Católica. E hoje em dia, com o crescimento do movimento queer, que abrange gays, lésbicas, bissexuais e transexuais, os doutrinadores ainda cravam: ser varão é ter os órgãos sexuais masculinos. O critério é este. No entanto, essas pessoas, ao se ordenarem, prometem solenemente que jamais poderão ter vida sexual. Assim a Igreja continua banindo o sexo fora do matrimônio heterossexual, monogâmico e exclusivamente para fins de procriação. Então, ponto final, religiosos não podem se casar, e nós, mulheres, não somos aceitas nem como esposas de sacerdote. Somos excluídas do clero até neste quesito!(ri). Agora, há casos excepcionais. Diáconos podem ser casados. Em igrejas orientais se encontram padres casados. E mesmo um pastor protestante, convertido ao catolicismo, poderá seguir casado e manter sua família. São situações já aceitáveis. Daí imaginar que custará menos à Igreja flexibilizar o celibato religioso.
E por que a ordenação de mulheres continuaria sendo o tabu?
Voltemos ao cânone de que só um varão, batizado, poderá receber a ordenação. Isso tem a ver com o seguinte: quando se controla a sexualidade dos indivíduos, mais poder se terá sobre eles. Em muitas sociedades, como entre os astecas e mesmo em certas comunidades indianas, a homossexualidade e a transexualidade conviveram com a heterossexualidade. Era uma convivência aceitável, a Igreja presenciou isso. Por outro lado, vem dos maniqueus e passa por Santo Agostinho todo um rígido controle sobre a sexualidade humana, particularmente sobre o corpo da mulher. Contra esse corpo opõem estranhas noções de pureza. Padres, que poderiam se casar até o século 11, foram proibidos de ter relação sexual com suas esposas na véspera de rezar missas e consagrar hóstias. Porque seria impuro… Então, ascender mulheres nas estruturas da instituição obrigaria esse mundo tão cerrado, tão machista e tão opressor a lidar mais de perto com as pulsões humanas, o que se torna algo complicado numa instituição governada por homens simbolicamente castrados.
Os recentes escândalos de pedofilia dentro da Igreja poderão flexibilizar certas visões?
Seria importante rever o que a Igreja pensa oficialmente sobre sexualidade. Não dá para continuar pensando que só podem ser sacerdotes os têm órgãos masculinos, enquanto mulheres são vetadas porque inspiram a impureza, exalam sexo. Enquanto isso, religiosos continuam violando jovens, crianças… A meu ver, um padre que desenvolve um vínculo amoroso com uma criança, ou um jovem, é antes de tudo um indivíduo profundamente imaturo, alguém a quem se interdita a possibilidade de viver uma relação plena entre iguais, um indivíduo condenado a uma existência de privação emocional. Tudo começa por aí. Daí vêm as violações, não só de jovens e crianças, mas de mulheres também. São abusos sexuais e abusos de poder. Há escândalos graves envolvendo monjas, um deles terrível, no Quênia, denunciado por uma religiosa de origem inglesa.
O que se descobriu?
Padres que por lá trabalhavam, preocupados em não contrair o vírus da aids, buscavam as monjas nos conventos para satisfazer suas necessidades sexuais. Era isso. Houve um caso em que a metade do convento era de monjas grávidas. Muitas foram postas na rua sem qualquer amparo, outras fizeram abortos precários, outras foram viver na prostituição. Isso foi relatado no National Catholic Reporter, publicação católica americana de alta credibilidade. E mais: abusos de monjas não aconteceram só na África. O próprio jornal abriu uma investigação, com levantamento de casos pelo mundo, e constatou-se que o problema ocorria em 23 países, vários europeus, entre eles a própria Itália. Ou seja, o tema da sexualidade está onipresente na Igreja.
Situações terríveis como esta colocam em xeque o celibato religioso, ao mesmo tempo em que expõem a subalternidade das mulheres na instituição. Podemos entender assim?
A mulher continua sendo o lado mais depreciado dessa história. É aquele ser humano a quem se acusa de ser “contra a vida” em situações de aborto, quando, na verdade, são elas que majoritariamente se encarregam da criação dos filhos, dos cuidados com os enfermos, dos anciãos e dos inválidos nesse mundo. Qualquer sacerdote que se insurja contra esse estado de coisas, em defesa delas, já sabe: nunca chegará a bispo. Se se manifestar sobre temas como aborto e contracepção, favoravelmente às mulheres, terá que assinar documento público dando conta de sua obediência ao pensamento oficial da Igreja. Isso, apesar de a doutrina católica afirmar que a suprema instância moral é a consciência do indivíduo. A mesma consciência que Bento XVI invocou ao renunciar.
ELFRIEDE HARTH. SOCIÓLOGA, ATUA NO PARLAMENTO EUROPEU E NA ONG CATÓLICAS PELO DIREITO DE DECIDIR, NA EUROPA
Fonte: O Estado de São Paulo