Dólar não se traduz ainda em maior competitividade da indústria
Esperança do governo para inverter o saldo negativo da balança comercial acumulado neste ano e para turbinar o desempenho da indústria, o dólar valorizado não mostrou ainda impacto nos números do setor industrial até julho, segundo o IBGE.
Nenhum setor que potencialmente poderia se beneficiar e ganhar competitividade ao vender seus produtos no exterior com preço, em dólar, menor mostrou melhor desempenho em julho.
Dentre os que poderiam ter um empurrão, estão a indústria automobilística, que teve a queda de maior impacto no índice geral, a de alimentos, alguns ramos de máquinas e equipamentos (como os agrícolas), papel e celulose e metalurgia (siderurgia).
Todos registraram retração na comparação com maio.
Segundo André Macedo, gerente da Coordenação de Indústria do IBGE, a desvalorização do real tem potencialmente o poder de ampliar a competitividade da indústria do país, mas tal situação não se configurou ainda.
Outros fatores, diz, podem atrapalhar, como o piora do cenário externo e o excesso de produção de alguns setores em escala global como a siderurgia, por exemplo.
Ou seja, há uma sobra de produtos no mundo que não encontram mercado em seus países de origem e são destinados à exportação, com preços reduzidos.
Macedo diz ainda que o impacto do câmbio ainda deve demorar a aparecer. É que os contratos da indústria como fornecedores e clientes têm prazo e muitos empresários esperam uma estabilização do patamar da moeda norte-americana antes de tomar uma decisão e rever os parâmetros do acordos comerciais.
De todo modo, se há o benefício da indústria de vender a preço reduzido, existe, por outro lado, um possível aumento de custo de produção de ramos que usam insumos, peças e matérias-primas importadas.
Um possível primeiro sinal desse efeito negativo da alta do dólar pode ser a queda de 10,7% de junho para julho da indústria farmacêutica. Trata-se de um ramo que depende muito de matérias-primas e insumos importados, acima da necessidade média da indústria.
DESEMPENHO DE SETORES DESTACADOS PELO IBGE
Setores | Variação julho/junho, em % |
---|---|
Refino de petróleo e álcool | 3,3 |
Alimentos | -1,4 |
Máquinas e equipamentos | -1,6 |
Metalurgia básica | -1,8 |
Indústria Geral | -2 |
Outros equipamentos transporte | -3,3 |
Celulose e papel | -3,6 |
Borracha e plástico | -4,5 |
Veículos automotores | -5,4 |
Máquinas para escritório e informática | -9,4 |
Farmacêutica | -10,7 |
“O setor pode estar repensando seu mix de produção e buscando alternativas. Por isso, talvez tenha reduzido a produção para replanejar. Mas é uma hipótese ainda.”
Em 12 meses encerrados em julho (alta de 0,6% para a indústria geral), a única categoria de produtos com resultado negativo (0,1%, o que indica algo próximo à estabilidade, segundo o critério adotado pelo IBGE) é a de bens intermediários, insumos e matérias-primas usadas na produção de produtos destinados ao consumidor final.
Para Macedo, é a subdivisão da indústria que mais sofre com a concorrência de importados.
PROJEÇÕES
A julgar pelas projeções da LCA, o câmbio não terá ainda papel relevante para impulsionar a indústria. A consultoria prevê uma nova queda de grande magnitude (-2,2% ante agosto de 2012 e -0,8% em relação a julho).
Entre os fatores negativos para o setor, estão a piora do crédito diante da política de alta dos juros do governo, a confiança reduzida dos empresários e estoques elevados _o que já afetou a indústria em julho.
Fonte: Folha de São Paulo