Dívidas, calotes e crises marcam fim de governos derrotados nas urnas

Derrotados nas urnas nas eleições de outubro, governadores de Estados como Distrito Federal, Maranhão, Rio Grande do Norte e Tocantins chegam ao final do mandato de forma melancólica, sob crises administrativas e falhas graves de gestão. Há casos de suspensão de pagamento de fornecedores, de funcionários, demissão em massa. No Maranhão, por exemplo, há até a perspectiva de a governadora Roseana Sarney (PMDB) renunciar antes mesmo de terminar o seu mandato.

A situação é mais crítica no Distrito Federal (DF), comandado pelo petista Agnelo Queiroz. Agnelo ficou fora até mesmo do segundo turno na disputa pelo Palácio do Buriti. Rodrigo Rollemberg (PSB) conseguiu ser eleito após vencer na segunda etapa de votação Jofran Frejat (PR), aliado de José Roberto Arruda (PR).

Reprovado no voto, Agnelo exonerou dois mil funcionários e vem atrasando pagamentos de fornecedores, de servidores e até das empresas de ônibus. No último final de semana, por exemplo, os rodoviários paralisaram suas atividades para reivindicar pagamento de salários atrasados. Pelo menos 700 mil pessoas ficaram sem ônibus em todo o Distrito Federal. Essa não foi a primeira paralisação da categoria para reivindicar pagamento de salários, cujo parte do repasse é feito pelo governo do DF. Na segunda semana de novembro, uma empresa de ônibus ficou uma semana passada, tirando 640 coletivos das ruas e prejudicando 200 mil pessoas.

Além disso, desde o final de novembro, o GDF já atrasou pagamento de fornecedores de alimentos a hospitais e a proprietários de creches comunitárias que são conveniadas com o governo. O resultado foi a suspensão, ainda que momentânea, da entrega de refeições aos hospitais do Distrito Federal e a paralisação das atividades de creches comunitárias. O salário de professores e profissionais da saúde também atrasou. A dívida, somente com funcionalismo destas duas áreas, chega a cerca de R$ 700 milhões.

O governo do Distrito Federal (GDF) tem afirmado que, apesar dos atrasos, mantém o pagamento de todos os compromissos e que não deixará dívidas para o próximo gestor. “Vou fazer cumprir rigorosamente (os contratos e pagamentos). Atrasos, é possível que tenha. É normal em uma fase como essa”, disse o governador Agnelo Queiroz, durante uma inauguração, em novembro.

No Maranhão, a governadora Roseana Sarney (PMDB) também se despede de forma melancólica. Nas últimas semanas, cerca de 320 servidores da Casa Civil foram exonerados e, na semana passada, a filha do senador José Sarney iniciou uma série de inaugurações de obras inacabadas com o intuito de não gerar um “bônus político” ao seu sucessor, o ex-presidente da Empresa Brasileira de Turismo (Embratur) Flávio Dino (PCdoB). Dino derrotou, em primeiro turno, o candidato da família Sarney, Edison Lobão Filho (PMDB).

Dois exemplos de obras inacabadas entregues por Roseana no apagar das luzes foram duas avenidas: uma batizada de Joãozinho Trinta e a outra a IV Centenário. Em ambas, existem problemas como falta de iluminação, falta de calçadas e algumas das pontes estão ainda com parte da ferragem exposta. As duas avenidas demoraram seis anos para ficarem prontas e deveriam ter sido entregues até o final do ano passado.

Além disso, a própria Roseana Sarney não quer entregar a faixa de governador a Dino e vai renunciar ao mandato ainda nesta semana, provavelmente nesta terça-feira. A pessoas próximas, Roseana tem classificado como “humilhante” o fato de ter que passar a faixa diretamente para alguém que tenha derrotado o grupo Sarney nas urnas. Oficialmente, o governo estadual admite que foram inauguradas apenas as vias públicas e que outras melhorias ocorreram futuramente.

No Tocantins, o governador atual Sandoval Cardoso (PSD) que não se reelegeu, demitiu 6,5 mil servidores de uma única vez. Na ocasião, foram extingas Funções de Confiança (FCA), Função de Confiança de Segurança Pública (FCSP), Função de Confiança do Magistério (FCM), Função de Confiança de Diretor Técnico de Hospital, entre outras. As exonerações, conforme o governo, têm como objetivo adequar as contas do Estado. Cardoso perdeu as eleições para o ex-governador Marcelo Miranda (PMDB).

Além disso, conforme integrantes da comissão de transição, ocorreu a suspensão de serviços públicos na área da saúde e segurança pública. A empresa que recolhe o lixo do Hospital Geral de Palmas, por exemplo, ficou três meses sem receber e deixou pelo menos 20 toneladas de lixo hospital acumulado. A dívida do governo com a empresa chegou a R$ 700 mil. Neste final de gestão, também foram registrados problemas no Hospital Regional do Gurupi, o terceiro maior do Estado, no qual houve falta de material como medicamentos e até os anestesistas que trabalham no local ficaram cinco meses sem receber salário.

“Em todas as áreas do serviço público você tem problemas na atual gestão. A situação econômica do Estado é muito complicada”, afirmou o deputado Marcello de Lima Lelis (PV), integrante da equipe de transição do governo de Tocantins. Segundo o governo, os problemas tanto no hospital de Palmas, quanto no Hospital Regional do Gurupi, já foram resolvidos.

Já no Rio Grande do Norte, as equipes de transição acreditam que o governo do Estado, na gestão Robinson Faria (PSD), teria um déficit fiscal de aproximadamente R$ 1 bilhão, o que comprometeria até mesmo o pagamento de servidores públicos estaduais. Conforme integrantes da equipe de transição, por conta deste déficit operacional, a próxima gestão teria dificuldades para conseguir pagar o funcionalismo durante o ano de 2015. Integrantes do governo do Rio Grande do Norte, no entanto, negam essa informação. Faria rompeu com a atual governadora Rosalba Ciarlini (DEM), no início do ano e derrotou o atual presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB), no segundo turno.

Fonte: iG

 

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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