Dia da Indústria: empresas adaptam produção por conta da pandemia

A pandemia do novo coronavírus (Sars-CoV-2), as medidas de isolamento social e o fechamento do comércio em diversas regiões do país poderiam significar um fim catastrófico de diversas empresas e um clima de luto na comemoração do Dia da Indústria, nesta segunda-feira, 25.

Contudo, provando que são capazes de se adaptar às adversidades, várias indústrias estão adequando sua linha de produção para atender às novas demandas que surgiram a partir da pandemia. Empresas que antes produziam cosméticos ou roupas, por exemplo, mudaram sua linha de produção e passaram a fabricar produtos como álcool gel, máscaras, aventais descartáveis, luvas, protetores faciais, entre outros.

As empresas baianas não ficaram de fora dessa mudança e também adequaram sua linha de produção. Como aconteceu com a empresária Patrícia Brito, sócia da Trihair Cosméticos. Sua empresa, que originalmente produzia produtos de beleza, passou a fabricar álcool em gel após a recomendação do isolamento social.

“No mês de março nós precisamos fechar toda a produção da Trihair. Não tínhamos mais demandas porque cosmético deixou de ser uma prioridade da população. A partir daí juntamos a equipe da empresa para pensar em uma solução”, explicou Patrícia.

Com dois químicos na equipe, a Trihair montou do zero sua linha de álcool gel e passou a vender para empresas e população. “Analisamos as novas demandas que o mercado estava exigindo e vimos que seríamos perfeitamente capazes de produzir álcool gel e ainda ajudar que este produto não esgotasse facilmente no estoque”, salientou.

Com isso, a Trihair parou temporariamente de fabricar produtos de beleza, se dedicando exclusivamente ao álcool gel. A produção atual da empresa é de cerca de 120 mil unidades, que variam entre 180ml, 500ml e 5 litros.

Além do álcool gel, cinco empresas soteropolitanas do ramo têxtil se juntaram para a criação da Central das Máscaras. A Polo Salvador, Camisa da Latinha, Loygus, Nação Bahia e Expresso se uniram inicialmente para produção de máscaras de pano e hoje produzem, além das máscaras, jalecos em TNT, protetor facial e escudo protetor de mesa.

Segundo Hari Hartmann, dono da Polo Salvador, foi necessário que a concorrência se juntasse para mudar a lógica de produção do negócio para não correr o risco de fecharem as portas.

“Imagina se fechássemos as portas em um momento tão delicado como este? Conseguimos converter as demissões que poderiam acontecer em uma nova produção e ainda ajudar a sociedade a sobreviver durante a pandemia”, comentou Hari.

“Tive que reinventar nossa produção, e o que poderia, no momento, manter os empregos e nossas empresas funcionando seria a fabricação de máscaras e produtos direcionados ao controle da Covid-19”, completou João Neto, dono da Camisa de Latinha e integrante da Central das Máscaras.

Com a adaptação da produção durante a pandemia, as empresas não só conseguiram manter as portas abertas como evitar a demissão de seus funcionários. Somente as cinco indústrias que compõem a Central das Máscaras mantiveram, sem demitir, quase 250 funcionários.

Atualmente a Central das Máscaras produz, em média, 20 mil unidades de máscaras por dia e já atendeu a Polícia Militar da Bahia, Corpo de Bombeiros, Polícia Civil, Embasa, condomínios, construtoras, além de doações em comunidades da capital baiana, como Uruguai, onde atua a Polo Salvador.

Hari, dono da Polo Salvador, se uniu a Central das Máscaras para produção durante a pandemia | Foto: Matheus Campos | Divulgação

Pedido emergencial

Além de produzir para atender as demandas do mercado, estas indústrias que adaptaram sua produção também podem atender as demandas dos órgãos públicos, através dos pedidos emergenciais que substituem as licitações.

De acordo com a diretora da SIQ Consultoria e Gestão, Quércia Naiane, os pedidos emergenciais estão surgindo por conta da pandemia do novo coronavírus e são medidas de imediatismo tomadas pelos órgãos públicos para atender as demandas relacionadas a pandemia.

“Essa medida é chamada de emergencial porque não precisa de um processo licitatório tão longo, como acontece geralmente. O processo licitatório tem fases que podem demorar 30, 60 e até 90 dias ou mais. Então, para seja feito um atendimento imediatista, o setor público, que não pode comprar nada sem licitação, pode usar a medida emergencial”, explicou Quércia.

Quércia alerta que pedidos emergenciais são medidas tomadas por órgãos públicos para evitar demora das licitações | Foto: Divulgação

E foi aproveitando esta oportunidade de produzir para o setor público que a proprietária da Singolar, loja de produtos pós-operatórios em cirurgia plástica, Vera Lucia Santos, passou a focar o seu negócio na venda de luvas e máscaras para os municípios baianos.

Atualmente a Singolar produz produz máscaras descartáveis para clínicas e hospitais e máscaras de algodão (reutilizáveis) para uso particular dos clientes, além de roupas descartáveis para enfermeiros.

Impacto social

A mudança da produção das indústrias não gera apenas impacto financeiro para a empresa e para os funcionários que não foram demitidos, mas também gera um impacto social para as pessoas que moram nas regiões onde elas atuam.

Elas conseguem garantir que não faltem estes produtos nos locais, tanto com a venda quanto com as doações dos produtos.

O Martagão Gesteira, hospital exclusivamente pediátrico que atua na Bahia, por exemplo, recebeu cerca de mil máscaras doadas por indústrias baianas através de uma parceria com a Instituto Euvaldo Lodi (IEL).

Segundo o gerente de Captação de Recursos do hospital, Felipe Feitosa, doações como essas ajudam que o Martagão consiga lidar com cerca de 80 mil pacientes e mais de 500 atendimentos por ano.

 

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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