Crise sem fim: Setor petrolífero baiano começa o ano com muitas dificuldades e trabalhadores da região de Alagoinhas pagarão a conta

BARRIL DE PETRÓLEO 1

A crise do setor petrolífero avança e 2016 poderá ser um dos piores anos da história para os trabalhadores do segmento. Se 2015 já foi ruim, com centenas de demissões na microrregião de Alagoinhas, a queda do preço do barril de petróleo para menos de US$ 30 dólares, com possibilidade de cair ainda mais, engessa os investimentos da Petrobras e impacta diretamente no fluxo de caixa das empresas contratadas pela estatal.

As variações do mercado internacional, que é globalizado, impõem reflexos em nível de Brasil. O alto endividamento da estatal, a incapacidade de a empresa fazer frente aos investimentos necessários no pré-sal e a crise política, com Petrobras no centro do  furacão, são elementos que agregam mais dificuldades ao setor, transformando o momento atual na maior crise desde a sua criação no segundo governo getulista.

O Irã, a partir desta segunda-feira (18), começa a ofertar cerca de 500 mil barris de petróleo/dia, reforçando a curva descendente do preço internacional do barril, inviabilizando investimentos e comprometendo o planejamento das empresas que atuam neste segmento. O país dos aiatolás tem capacidade para duplicar sua disponibilidade petrolífera imediatamente.

O valor de US$ 28 dólares por barril, registrado na semana passada, é o menor dos últimos 12 anos. E o pior: nova queda poderá se tornar realidade nos próximos meses.

Bahia

Na Bahia, estado com tradição petrolífera, os reflexos são extremamente negativos. A extração de um barril de petróleo nos campos maduros baianos, em média, é realizada com custo de US$ de 35 dólares.

Ou seja, a estatal já teria um déficit entre o custo e a receita auferida com a venda de um barril: a Petrobras vende o petróleo pesado no mercado internacional e compra o leve, mais adequado para suas refinarias.

Com objetivo de reduzir custos em todas as áreas, a Petrobras está incentivando as aposentadorias dos trabalhadores que cumpriram o tempo necessário para deixar a ativa e reduzindo custos dos contratos com as empresas terceirizadas.

Duas sondas da Lupatech (HK 06 e 08), que estão perfurando poços de petróleo em Araçás e Taquipe, em no máximo dez dias, assim que o trabalho for concluído, serão desmobilizadas. O contrato vence em março e não será renovado.

O fim das atividades da Lupatech na Bahia é questão de tempo. Morte anunciada e demissão de aproximadamente 140 trabalhadores da prestadora de serviço que atuam nas duas sondas. Sem o contrato, a empresa demitirá o total de 350 funcionários, grande parte de Catu e Alagoinhas.

A Perbras, proprietária duas sondas SPT, com atuação em municípios do recôncavo baiano, ainda não foi comunicada sobre a renovação ou não de seu contrato. Caso haja a descontinuidade, 40 trabalhadores da empresa serão demitidos.

Três unidades de desparafinação da CONTERP serão desmobilizadas, com previsão de oito demitidos.

Até o mês de junho, a sonda 105 de Petrobras encerrará suas atividades e 70 postos de trabalho diretos e indiretos do segmento petrolífero serão perdidos, inflando ainda mais as estatísticas de demitidos na região de Alagoinhas.

Municípios

A arrecadação dos municípios produtores de petróleo, com a diminuição das atividades da estatal e contratadas, registrará curvas descendentes.

As atividades das sondas são geradoras de ISS. Com a paralisação, não haverá imposto a recolher.

A extração de petróleo também agrega royalties aos cofres municipais. A queda do preço do barril e a diminuição da produção terão reflexos diretos na redução da arrecadação.

Radiolvado Costa, diretor do Sindicato dos Petroleiros da Bahia, afirma que a crise é de grandes proporções. “A garantia dos investimentos da Petrobras na Bahia e manutenção dos empregos são as nossas principais reivindicações”, salienta.

Ele admite que em 30 anos de Petrobras nunca vivenciou uma crise de tal magnitude, com agravantes externos e questões nacionais que impactam diretamente no segmento petrolífero.

Para o sindicalista, as demissões de trabalhadores especializados têm alguns agravantes: quase impossibilidade de recolocação no mercado petrolífero; perda da formação profissional conseguida ao longo dos anos; rebaixamento da qualidade de vida das famílias; menos dinheiro circulando na economia dos municípios produtores de petróleo.

“A demissão de um trabalhador é sempre dramática, mais ainda quando a possibilidade de reingresso no setor é praticamente nenhuma neste momento de grave crise”, salienta Radiovaldo, acrescentando “que o problema ganha contornos sociais e econômicos nunca vistos na região de Alagoinhas”.

Na primeira quinzena de janeiro, no rastro das dificuldades do setor petrolífero, a Lupatech demitiu 40 trabalhadores.

Estatísticas não oficias indicam que no ano passado entre 3.000 e 3.500 trabalhadores foram demitidos das empresas que compõem a cadeia produtiva do petróleo na Bahia. 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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