Conclusão de plataforma deve deixar rastro de demissões em cidade gaúcha
Quando a presidente Dilma Rousseff celebrar hoje em Rio Grande a conclusão da plataforma P-58, o ato marcará o fim de um ciclo para a cidade gaúcha. A perspectiva será então de demissões e efeitos sociais adversos.
Ao menos por ora, a conclusão das obras em plataformas de petróleo deixará de 5.000 a 9.000 operários sem trabalho no polo naval do município, afirmam o governo estadual e sindicatos.
A cidade de 200 mil habitantes do litoral sul gaúcho passou por um boom nos últimos anos graças à instalação do complexo, empreendimento que se tornou uma das principais bandeiras do governo federal no Sul.
Como haverá um intervalo de vários meses entre o fim da atual construção e o início das próximas plataformas, milhares de operários terão os contratos rescindidos.
Uma força-tarefa, com guichês da Caixa para rescisões e representantes da Justiça do Trabalho, já está na cidade.
Em hotéis do centro, transformados em redutos dos demitidos, trabalhadores que já tiveram os vínculos encerrados aguardam a regularização dos papeis e a viagem de volta às cidades de origem –a maioria, no Nordeste.
Como não atuam mais no polo, eles não podem ficar nos alojamentos construídos pelas empresas construtoras. A estada, ainda nessa fase, é bancada pelas companhias.
PLANEJAMENTO
O montador de andaimes Anderson Silva, 32, vindo da Bahia, passou os últimos dias em um desses hotéis.
“A plataforma foi embora e não tem mais nada para a gente fazer”, disse ele, para quem o salário, que pode chegar a R$ 2.400, compensa.
Para o secretário do Trabalho do Rio Grande do Sul, Luís Augusto Lara, é preciso planejamento para evitar situações como a atual. O Estado se articula para oferecer esses operários a polos navais no Rio e no Nordeste.
“As pessoas ficam desempregadas e alguns acabam esperando novas obras. Esse período pode ser nocivo do ponto de vista do inchaço da assistência social e do avanço da criminalidade”, diz.
O presidente do sindicato local dos metalúrgicos, Benito Gonçalves, afirma que a situação deve ser amenizada pelo seguro-desemprego.
“[Mas] haverá um impacto que não deveria ocorrer. Por que não colar [a fabricação de] uma plataforma na outra para dar sequência ao emprego?”, questionou.
A Petrobras, que contratou a construção das plataformas em Rio Grande, afirma que está agindo com outras empresas para que o máximo de mão de obra seja aproveitado em outros projetos no país.
Segundo a estatal, as plataformas P-75 e P-77 terão módulos montados na cidade do sul gaúcho no primeiro e no segundo semestre de 2014.
A Quip, empresa responsável pela construção das plataformas já concluídas, informou apenas que participa do “plano de desmobilização” dos operários e que há cooperação entre as companhias do polo sobre a questão.
Também disse que contratos para duas novas plataformas garantem a continuidade da atividade no complexo.
Em setembro, Dilma dissera que o Rio Grande do Sul se tornara “em definitivo” um polo naval e estimara que 18 mil operários trabalhariam ali em 2014. Anteontem, ela afirmou ter “relação emocional” com as plataformas feitas em Rio Grande.
Fonte: Folha de São Paulo