Como os sites de apostas se tornaram o maior financiador do futebol brasileiro


As casas de apostas têm presença forte no futebol e se tornaram importantes fonte de receita da modalidade. Prova disso é que estão em 39 dos 40 clubes das Séries A e B do do Campeonato Brasileiro, dão nomes às principais competições, têm acordos comerciais com a CBF, aparecem nas transmissões da Globo e de outras emissoras e amarraram parcerias até com torcidas organizadas de alguns dos maiores times do País.

Hoje, dos 40 clubes das duas principais divisões nacionais, apenas o Cuiabá não é patrocinado por alguma plataforma de aposta. Mas o clube do Mato Grosso já manifestou publicamente o desejo de conseguir um patrocínio desta categoria de apoiador. Só ainda não encontrou uma oferta satisfatória.

São pelo menos 17 marcas diferentes estampando seus logos nos uniformes ou em propriedades dos clubes. A predominância é da Esportes da Sorte, que é a primeira em número de patrocinadores na Série A, com quatro equipes, e da Série B, com outras cinco agremiações – ainda detém mais um clube, o América-RN, na Série C do Campeonato Brasileiro.

Dos 20 times da Série A, 12 têm como patrocinador máster uma casa de aposta. Athletico-PR, Bahia, Goiás são patrocinados pela Esportes da Sorte. A Betano expõe sua marca no Atlético Mineiro e no Fluminense. A Pixbet investe no Vasco. A Novibet patrocina o Fortaleza, a Pari Match exibe sua marca no Botafogo, a EstrelaBet apoia comercialmente o América Mineiro, a Betfair está na camisa do Cruzeiro, a Sportsbet.io é o maior parceiro comercial do São Paulo e a Blaze injeta dinheiro de patrocínio no Santos.

Todos esses patrocinadores não pagam menos que R$ 10 milhões anuais para os clubes citados. O Botafogo é o que mais fatura com o patrocínio de empresas de apostas. Anualmente, recebe R$ 27,5 milhões. Cruzeiro e São Paulo aparecem na sequência, arrecadando R$ 25 milhões por temporada.

Os cassinos também têm acordos comerciais com jogadores conhecidos que são seus garotos-propaganda, como Dudu, do Palmeiras, e se fazem presentes até nas principais torcidas organizadas. A Galera.bet, por exemplo, exibe sua marca na Mancha Alvi Verde, do Palmeiras, Dragões da Real, do São Paulo, e Raça Rubro-Negra, do Flamengo.

Também estão em todas as principais competições nacionais de futebol. A Copa do Brasil, para a CBF, se chama Copa Betano do Brasil, já que a empresa comprou os naming Rights do torneio. Ela pode fazer ações na maior parte dos estádios do País, com inserções em painéis de led e placas estáticas, banner central e inflável pré-jogo, placa de substituição customizada da marca, ativações ao longo do torneio com ingressos e performances de jogadores por partida e hospitality na final do campeonato.

Especialistas apontam que o mercado das “bets” surgiu como um atrativo financeiro, em substituição às saídas dos bancos, por exemplo. “A indústria das apostas pode ajudar muito o futebol brasileiro. Infelizmente, viemos de um período de dois anos de escassez com a pandemia, e essas empresas chegaram para preencher o espaço que muitos clubes tiveram com perda de receitas”, afirma o especialista em marketing esportivo Renê Salviano, CEO da Heatmap.

A estimativa é de que o setor invista R$ 3,5 bilhões em patrocínios no futebol anualmente. O valor abarca clubes, competições e transmissões na televisão.

Não há dados oficiais sobre quanto o segmento movimenta no Brasil. Projeções variam de R$ 10 bilhões a R$ 100 bilhões em um único ano, de acordo com agentes das apostas. A H2 Gambling Capital estima que o mercado nacional de apostas esportivas tenha crescido 44,4% de 2021 a 2022, atingindo R$ 4,5 bilhões em receita bruta (GGR), e deve chegar a R$ 9,2 bilhões até 2027 (um aumento de 105%).

No mundo, estima-se que o valor de apostas legais em esportes seja de US$ 40 bilhões. No entanto, o valor apostado ilegalmente é muito superior: entre US$ 340 bilhões e US$ 1.7 trilhão, de acordo com os cálculos da Unidade de Prevenção do Crime e Segurança Pública das Nações Unidas durante a 2ª Cúpula da Integridade Esportiva Brasileira, realizada em Brasília.

Os cartolas temem que o dinheiro que as casas de apostas pagam aos clubes despenque assim que o setor for regulamentado – o texto da Medida Provisória já foi concluído pelo governo, mas o presidente Lula ainda não assinou a MP, que, depois, terá de ser apreciada pelo Congresso.

Segundo o Ministério da Fazenda, as empresas serão taxadas em 16% sobre o Gross Gaming Revenue (GGR), a receita obtida com todos os jogos feitos, subtraídos os prêmios pagos aos jogadores. Sobre o prêmio recebido pelo apostador será tributado 30% de Imposto de Renda, respeitada a isenção de R$ 2.112,00. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, calcula que a medida irá gerar até R$ 15 bilhões de arrecadação por ano para os cofres públicos.

Regulamentadas, as empresas do setor passarão a não mais operar numa espécie de limbo regulatório, o que acontece desde 2018, quando as apostas foram legalizadas. Sem fiscalização, porém, as suspeitas de manipulação de resultados e de lavagem de dinheiro proliferam.

“A regulamentação trará segurança para as empresas e para os apostadores, uma vez que as entidades e empresas estejam habilitadas para compartilhar dados para detectar comportamentos suspeitos. Também vai ajudar a deixar mais transparente as relações com clubes, entidades, empresas e os próprios apostadores”, acredita Hans Schleier, diretor de marketing da Casa de Apostas.

Recentemente, companhias estrangeiras abriram diferentes associações no Brasil para fazer lobby pela regulamentação. “Nós achamos que tem de regular antes de proibir. A proibição leva ao jogo clandestino e o jogo clandestino leva à corrupção”, afirmou Wesley Cardia, CEO da Associação Nacional de Jogos e Loterias (ANJL).

A atividade está legalizada desde 2018, mas até agora funciona em um mercado cinzento cercado de ilegalidades e concentração de recursos em paraísos fiscais. A intenção da equipe econômica é cobrar impostos sobre as operações no Brasil e aumentar a arrecadação federal.

Clubes da Série A com patrocínio de casas de apostas
Palmeiras – Betfair
São Paulo – Sportsbet.io
Corinthians – Pixbet
Santos – Blaze
Bragantino – MrJack.bet
Internacional – EstrelaBet
Grêmio – Esportes da Sorte
Goiás – Esportes da Sorte
Bahia – Esportes da Sorte
Atlético-MG – Betano
Cruzeiro – Betfair
Flamengo – Pixbet
Vasco – Pixbet
Botafogo – Pari Match
Fluminense – Betano
Fortaleza – Novibet
Cuiabá – nenhum
Athletico – Esportes da Sorte
América-MG – EstrelaBet
Coritiba – Dafabet

Clubes da Série B com patrocínio de casas de apostas
ABC – Esportes da Sorte
Atlético-Go – Blaze
Avaí – Pixbet
Botafogo-SP – EstrelaBet
Ceará – EstrelaBet
Chapecoense – Brbet.com
CRB – EstrelaBet
Criciúma – EstrelaBet
Guarani – Esportes da Sorte
Ituano – Betfast.io
Juventude – Pixbet
Londrina – Esportes da Sorte
Mirassol – Bet7k
Novorizontino – Esportes da Sorte
Ponte Preta – EstrelaBet
Sampaio Corrêa – Pagbet
Sport – Betnacional
Tombense – Valsports
Vila Nova – Esportes da Sorte
Vitória – Betnacional

Patrocínios aos principais campeonatos de futebol em 2023 no Brasil:

Brasileirão – Galera.bet
Supercopa do Brasil – Betano
Copa do Brasil – Betano, Betnacional
Campeonato Paulista – Esportes da Sorte, Betano, Betnacional, Parimatch
Copinha – Esportes da Sorte
Carioca – Betnacional, Betano
Mineiro – EstrelaBet
Pernambucano – Betnacional
Gaúcho – MrJack
Catarinense – MrJack

Fonte: O Estado de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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