Com criogenia e uso de bactérias, cientistas procuram meios de driblar a morte
Com 30 anos, Vinícius Vilela gosta quando as pessoas dizem que ele aparenta ser mais jovem do que é. “Eu me cuido bastante”, diz ele, acrescentando que preza muito pela vida. Esse apreço é tanto que o desenvolvedor de software terá seu corpo congelado após sua morte na esperança de ser reanimado um dia.
Vilela, que mora no Canadá, mas nasceu em São Paulo, é um dos membros da Alcor, uma organização com sede nos Estados Unidos que utiliza a criogenia em corpos de pessoas que faleceram. Talvez um dia seja possível reanimá-las. Mas, por enquanto, tudo é só ficção científica, reconhece Vilela. “Hoje em dia, é impossível.”
Carla Regina Alves, coordenadora do Laboratório Multiusuário de Criogenia da UFF (Universidade Federal Fluminense) e sem relações com a Alcor, explica que a técnica de congelar matéria orgânica começa com a produção de nitrogênio líquido, área em que ela atua na universidade.
O nitrogênio líquido é feito a partir do nitrogênio encontrado no ar. Depois de captada por máquinas específicas, a substância é transformada na forma líquida, que fica em -196ºC. É esse líquido que possibilita resfriar materiais biológicos, algo que não é feito no laboratório coordenado por Alves, já que o trabalho dela é só fornecer o elemento para outras instituições.
No Brasil, não há conhecimento de um laboratório que ofereça um serviço de congelamento de corpo com a promessa de reanimá-lo no futuro. Essa técnica, porém, é usada para outros fins, como preservar óvulos e espermatozoides. “O sucesso do congelamento já é um fato”, diz Alves.
O problema maior no caso da criogenia de corpos ou órgãos humanos é o descongelamento. Para materiais mais simples, como células, é mais fácil descongelar sem causar estragos substanciais. O mesmo não pode ser dito do corpo humano.
“Em um organismo tão complexo, […] se esse descongelamento não for feito de forma a preservar o material, isso pode trazer algum tipo de dano que ainda é desconhecido”, diz a pesquisadora da UFF.
Esse também é um ponto que inquieta James Arrowold, copresidente da Alcor. Ele confirma que ainda não se sabe como fazer o descongelamento sem criar problemas em órgãos mais complexos. Mas isso não o desanima –a Alcor financia pesquisas para tentar solucionar o imbróglio.
“A tecnologia de reanimação deve ser desenvolvida primeiro em escalas menores, como para órgãos como rins, o que a Alcor entende que deve ocorrer primeiro e, portanto, apoia a pesquisa sobre as etapas incrementais”, afirma.
Com esse desenvolvimento, talvez seja possível solucionar como descongelar o cérebro, que é a meta mais ambiciosa, pela dificuldade de não causar estragos ao órgão, mas também muito importante no objetivo de trazer alguém de volta à vida. “A meta é acessar o cérebro, as memórias, a personalidade”, diz Arrowold.
E o preço para pagar por esse serviço, mesmo sem garantia do que ocorrerá no futuro, é alto. Na Alcor, passa de R$ 1 milhão.
No caso de Vilela, o desenvolvedor de software, ele diz ter feito um seguro de vida que assegura o pagamento dos custos da criogenia do seu corpo.