Com Aécio em 3º, candidatos a deputado colam em governadores

Candidatos do PSDB que disputam uma vaga na Câmara dos Deputados têm usado a popularidade de governadores bem avaliados para evitar que o desempenho do tucano Aécio Neves nas pesquisas prejudique seus esforços. Embora relativizem o prejuízo que pode ser provocado pela performance de Aécio nos levantamentos de intenção de votos, estados em que governadores tucanos são bem avaliados e lideram pesquisas são o alicerce de sustentação dos concorrentes na disputa proporcional enquanto o senador mineiro patina da corrida presidencial. Correligionários admitem também que a situação de Aécio tem tido impacto na arrecadação.

Com base nesse argumento, tucanos de estados como Paraná, São Paulo e Bahia, por exemplo, têm dito que as variações de Aécio nas pesquisas de intenção de voto não têm gerado grandes problemas.

Além disso, alguns candidatos contam com um eleitorado bem específico que blinda suas candidaturas de eventuais variações provocadas por mudanças nas intenções de votos presidenciais.“Não tem influenciado em minha campanha. Meu eleitor é todo Aécio, é um eleitor de São Paulo, de classe média, que vota no Aécio”, diz o vereador paulistano Floriano Pesaro, que disputa uma vaga em Brasília e conta com forte apoio da comunidade judaica de São Paulo.

“Onde isso pode afetar é o eleitor que eventualmente pega um material de campanha da Marina (Silva) e tem lá o número de um candidato do partido dela. Às vezes é alguém que quer votar na Marina, mas pensa em votar na legenda do PSDB e acaba votando naquele candidato da propaganda, mas isso é a exceção”, garante o tucano, que diz que o grande parceiro dos candidatos proporcionais é o governador e não o candidato a presidência. “Do ponto de vista da legenda, dependemos mais do governador. Estou em São Paulo, o governador (Geraldo) Alckmin, do jeito que está (liderando com folga as pesquisas) é uma tranquilidade. O principal puxador de votos de legenda é o governador”, afirma ele.

Outro que confirma a tese do candidato ao governo como grande puxador de votos de legenda é o líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy (BA). “Com toda honestidade, a minha (campanha) não tem influenciado”, diz Imbassahy. Na Bahia, o PSDB está coligado com o PMDB, que no estado se rebelou contra o PT e Dilma Rousseff (PT) sob a liderança Geddel Vieira Lima (PMDB) e do atual líder nas pesquisas, Paulo Souto (DEM). Graças, portanto, à liderança de Souto, tucanos tem conseguido passar pelo momento difícil de Aécio sem maiores traumas.

Estados problema

Se a situação vai bem para os candidatos da disputa proporcional em estados em que o PSDB tem governadores bem avaliados ou está aliado com postulantes populares entre os eleitores, a coisa parece ser bem diferente naqueles em que o partido vai mal. O Distrito Federal é um desses exemplos. O nome tucano que concorre pela chefia do executivo local, Luiz Pitiman, não consegue superar a marca dos 5% nas pesquisas de intenção de votos, bem distante dos três primeiros colocados (Rodrigo Rollemberg (PSB), 28%, Agnelo Queiroz (PT) e Jofran Frejat (PR), ambos com 21%).

“Um candidato a governador forte, viável, participa de muitas reuniões com eleitores e isso ajuda”, diz o deputado Izalci (DF), que concorre à reeleição. Segundo ele, o fraco desempenho do governador atrapalha mais Aécio e os proporcionais do que o contrário. Por isso Izalci diz crer que a baixa de Aécio pouco influencia nesse aspecto. “Quando você não tem uma candidatura majoritária local viável, prejudica. Fomos muito prejudicados em função de uma candidatura pífia de nosso majoritário aqui”, critica Izalci, sem medo do fogo amigo sobre o correligionário Pitiman.

Em Minas Gerais, terra de Aécio, a situação do PSDB não é das melhores. O PT lidera a disputa local com o ex-ministro Fernando Pimentel na liderança, com 43% das intenções de voto e chances altas de vitória no primeiro turno. O tucano Pimenta da Veiga vem em segundo, com 23%. O deputado Marcus Pestana, que busca sua reeleição evita jogar na conta de Aécio qualquer responsabilidade por eventuais problemas. Os dois são aliados muito próximos.

“O Aécio é muito querido, revolucionou Minas. Ele nunca atrapalha”, defende Pestana, que faz questão de ressaltar que todo seu material de campanha faz menção a Aécio. Ele argumenta que houve um deslocamento de votos de Aécio para Marina em função do voto útil de um eleitor que não quer o PT no poder e acredita que a ex-ministra tem mais condições de vencer Dilma do que Aécio poderia ter. “Mas não existe uma hostilidade desse eleitor que agora faz esse voto útil na Marina em relação ao Aécio”, avalia o tucano.

Apesar de abertamente tucanos evitarem responsabilizar Aécio por possíveis prejuízos em suas candidaturas, reservadamente, alguns revelam que existe sim alguma influência do candidato a presidente sobre os postulantes a uma vaga no parlamento federal. Argumentam, entretanto, que isso não se aplica a Aécio por causa do baixo índice de rejeição do senador mineiro. Segundo mais recente levantamento do Datafolha, Aécio tem 21% de rejeição, menor índice verificado entre os três primeiros na corrida presidencial (Dilma tem 33% e Marina 22%).

Outro aspecto que supostamente livraria Aécio de se tornar um lastro para seus correligionários diz respeito ao desejo de mudança do eleitor. Reservadamente, alguns tucanos dizem que, em 2010, associar seu nome com de José Serra, então candidato do partido a presidente, era um perigo e tirava votos. Naquele momento, argumentam tucanos, havia um desejo do eleitor em continuar a gestão petista, algo que, segundo eles, não se verifica nesta eleição.

Financiamento

Além de eventuais dificuldades na conquista dos votos, um candidato a presidente com baixo desempenho pode ter outro efeito destrutivo para seus correligionários em disputa: dificultar a captação de recursos para se fazer a campanha. “Se o Aécio tivesse melhor nas pesquisas poderia melhorar o fluxo financeiro da campanha. Prejudica pelo lado financeiro e de alguma forma afeta a campanha, mas não excluo o Aécio de nada da minha campanha”, reconhece Pesaro.

“Esse tipo de coisa está muito ligada à expectativa que o empresário tem em relação ao candidato. Se não tem perspectiva, não tem financiamento. Não deveria ser assim, mas é. Ninguém financia sem pensar num retorno, em alguma forma de participar dessa gestão vitoriosa”, diz Izalci. Pestana relativiza e declara que isso pode ou não ser verificado, mas diz que a tese não é 100% confiável. “Pode até influenciar (na captação financeira da campanha), mas não dá dizer com total certeza”, afirma o mineiro.

Fonte: iG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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