Candidatos de oposição usam discurso semelhante para enfraquecer Dilma

A primeira fase da disputa presidencial evidenciou que os principais candidatos de oposição a Dilma Rousseff (PT) têm muito em comum. Ocupando a segunda e a terceira colocação na disputa, respectivamente, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) apresentaram nesta primeira etapa algumas propostas parecidas como forma de convencer o eleitor. Mais atrás na corrida, Pastor Everaldo (PSC) também alinhou várias de suas posições às dos rivais de oposição.

Algumas delas são idênticas. Por isso, o eleitor mais atento poderá sentir que escolher um candidato de oposição pode ser uma tarefa mais ligada a características pessoais do que propriamente em propostas. Por meio dessas semelhanças, do ponto de vista programático, é possível traçar um esboço do candidato de oposição padrão.

Essa similaridade de ideias para o Brasil já fica bem evidente naquele que é o tema chave das eleições: economia. Nesse sentido, os três principais candidatos da oposição falam, a sua maneira, em direções muito parecidas. Aécio alardeia a necessidade de independência do Banco Central, implantação de política de câmbio flutuante sem intervenções, redução na taxa de juros e redução paulatina da meta inflacionária. “A meta será reduzida gradualmente, assim como a banda de flutuação, atualmente em mais ou menos 2%”, diz sua diretriz de plano de governo.

Marina também defende a independência do Banco Central. Ela chegou a destacar a importância disso depois da primeira reunião com sua equipe de coordenação após o anúncio oficial de sua candidatura em substituição a Eduardo Campos. Ela defendeu ainda juros mais baixos, controle da inflação e estímulo ao crescimento para que o país possa fazer investimentos. Suas diretrizes de plano do governo na área econômica criticam a “apreciação cambial”, sinalizando mudanças na relação dólar/real.

Dentro desse tema, Everaldo difere ligeiramente de seus adversários oposicionistas, mas também tem propostas em comum com eles na maioria dos assuntos relacionados. O conflito diz respeito à independência do Banco Central. Everaldo é contra, embora diga que vai respeitar a autonomia do órgão. No mais, o candidato do PSC defende adoção do câmbio flutuante (sem intervenções) nos moldes de Aécio, redução da meta inflacionária e estimulo de poupança interna para reduzir a taxa de juros.

Reforma política

As semelhanças dos oposicionistas não se restringem, entretanto, ao cronograma econômico. Aécio, Marina e Everaldo defendem em uníssono a necessidade de realização de uma reforma política – embora o tema também seja parte do programa de Dilma. Marina inclusive trata esse tema como “a reforma das reformas”, sem a qual seria impossível realizar outras reformas que defende.

Um dos principais pontos das reformas propostas por cada um é a convergência de raciocínio no que diz respeito ao fim da reeleição. Aécio e Marina defendem o fim desse mecanismo e propõem que os mandatos sejam de cinco anos. Everaldo vai noutra direção e embora defenda também a realização de uma reforma política, com o fim do voto obrigatório e o fim das coligações proporcionais, por exemplo, diz ser favorável à reeleição e a mandatos de quatro anos. PSB e PSDB já se posicionaram contra as coligações proporcionais.

Agronegócio e Infraestrutura

Os três candidatos de oposição mais bem colocados na disputa presidencial de acordo com as pesquisas têm feito uma defesa ferrenha da necessidade de incentivos ao agronegócio. Antes do trágico acidente que o vitimou, Eduardo Campos chegou a defender o fortalecimento do ministério da Agricultura e falou em busca pela liderança de produtividade. A fala vai ao encontro do que prega Marina agora, ao rejeitar a ideia de que seja contra o agronegócio, defendendo que a atividade seja feita de forma a zelar pela sustentabilidade econômica e social e aumento de produtividade dentro da estrutura existente. 

O fortalecimento do ministério da agricultura, defendido por Campos, foi seguida de perto por Aécio, que chegou a propagar a ideia de uma “superministério da Agricultura” para fortalecer o setor. Ambos criticaram o que classificaram como transformação da Pasta num “balcão político”. Everaldo também tem feito uma vigorosa defesa da necessidade de fomento do agronegócio. Os três oposicionistas falam na necessidade de aumentar os investimentos em infraestrutura para ajudar o agronegócio, reduzir o custo Brasil e aumentar a competitividade da indústria.

Governança

Na área de gestão, os três oposicionistas convergem ao propor redução dos ministérios existentes, são 39 atualmente. Os representantes de PSC e PSB já chegaram a falar numa redução de 50% no número de pastas na Esplanada dos Ministérios. Aécio ainda faz mistério e diz que sua equipe de programa de governo trabalha no desenho do que considera ideal para a redução no número de ministérios. Os três também defendem redução no número de cargos na administração federal. Aécio e Marina têm defendido meritocracia como critério para o preenchimento de cargos de livre provimento, aqueles que são ocupados por nomeação, sem a necessidade de realização de concurso.

O discurso da reforma tributária também é encapado pelos três opositores do governo que tentam superar Dilma na corrida presidencial. Campos chegou a prometer que enviaria ao Congresso Nacional na primeira semana uma proposta de reforma tributária. Garantiu que essa reforma não promoveria aumento da carga tributária.

A promessa foi potencializada por Aécio pouco depois. O tucano chegou a dizer que sua proposta de reforma tributária será enviada ao Congresso Nacional no primeiro dia de governo, para reduzir e simplificar os tributos. Everaldo também diz defender a realização de reforma nos mesmos moldes. Aécio, Marina e Everaldo tem em comum ainda sua proposta realizar um novo pacto federativo, os três defendem a discussão sobre mudanças nas fatias do bolo de recursos que hoje são divididas entre municípios, estados e a União.

A questão da melhora da qualidade dos serviços públicos, pauta que surgiu com mais vigor a partir das manifestações de junho de 2013, virou item obrigatório no discurso da oposição. Ainda que esses candidatos estejam envolvidos direta ou indiretamente em administrações estaduais e municipais, também responsáveis por parte dos serviços públicos, as críticas são frequentes ao governo federal. Everaldo repete o mantra que os serviços públicos no Brasil são dignos de “submundo”.

Relações Internacionais

As posições do Brasil no espectro internacional tem sido alvo de críticas dos opositores. As três candidaturas têm defendido até aqui mudanças na filosofia diplomática do Brasil para que, nas palavras deles, torne-se menos ideológica e mais preocupada com o fomento ao comércio. Campos chegou a criticar a pouca atuação da presidente Dilma na política externa com parceiros fora do eixo de cooperação entre países do Hemisfério Sul e da América Latina. “O Brasil precisa agir sem preconceito na política externa. Essas políticas não são excludentes”, criticou a época.

Durante palestra para empresários do setor agrícola, Aécio criticou a política externa do Brasil e prometeu que a prioridade será o comércio. Além disso, declarou que, caso seja eleito, dará “prioridade zero” ao combate do chamado “custo Brasil”, termo que descreve os entraves para o investimento no País e para a competitividade da indústria nacional, para “resgatar a capacidade competitiva” do setor agropecuário. Everaldo também tem defendido mudanças na agenda internacional para priorizar o comércio internacional do Brasil.

Fonte: iG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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