Bahia lança roteiro por fazendas de cacau na Estrada do Chocolate

Um totem em forma de barra de chocolate fincado na BA-262 marca o começo de uma nova rota turística: a Estrada do Chocolate, rodovia estreita que liga Ilhéus ao município de Uruçuca, na Bahia.

O lançamento está previsto para 18 de julho, dia da abertura do Chocolat Festival –10º Festival Internacional do Chocolate e Cacau, realizado todos os anos em Ilhéus. 

Na primeira fase, 20 propriedades, na estrada principal e em vicinais, abrirão suas porteiras aos turistas. A ideia é que o circuito cresça e englobe até 50 fazendas.

O Sebrae está dando consultoria aos fazendeiros e capacitando pessoal, informa Marco Lessa, empresário, organizador do festival e principal articulador da rota turística.

O governo do estado investiu R$ 400 mil até agora. Os recursos, segundo Lessa, foram aplicados na sinalização da estrada e na criação de um site e de um aplicativo.

Agora, o objetivo é conquistar parceiros na iniciativa privada para melhorar o acesso a fazendas mais afastadas, onde o asfalto não chega.

Também falta levar sinal de celular à região. “Quero que o turista venha a Ilhéus, mas não fique apenas na praia todos os dias”, afirma Lessa.

O turismo pode ser uma alternativa para salvar a economia da cidade, que desmoronou na década de 1990, depois de as lavouras terem sido dizimadas pela praga conhecida como vassoura-de-bruxa.

De lá para cá, alguns produtores recuperaram as plantações e estão obtendo resultados no mercado de cacau fino, destinado à fabricação de chocolates especiais. Mas o crescimento é lento. 

Lessa diz que muita gente “está batendo o pó da calça e se mexendo para mostrar os atrativos das suas fazendas”.

Não são poucos. Casarões centenários impregnados de história, muitos dos quais já serviram de cenário para filme e novela, agora podem ser vistos por dentro. Em alguns, o turista poderá provar pratos da roça, típicos da região —diferentes da culinária baiana dominante no litoral.

As visitas incluem experiências no campo. Será possível acompanhar a colheita —feita há mais de um século manualmente, com facão— e, no meio da floresta, beber o mel do cacau, caldo doce que escorre da polpa da fruta. 

Depois, subir nas barcaças onde as amêndoas são secas ao sol, sob telhados que deslizam sobre trilhos, acompanhar as etapas da produção do chocolate e participar de degustações.

O passeio exige calça comprida e botas. Anda-se pelo meio de mata selvagem, já que os pés de cacau são plantados entre árvores nativas, algumas com dezenas de metros de altura. O sistema, conhecido como cabruca, garante a umidade e o sombreamento necessários ao cacaueiro e contribui para a preservação da mata atlântica.

Para acolher a nova demanda turística, a cidade de Ilhéus conta com aeroporto e 10 mil leitos em 60 hotéis, de pequenas pousadas a resorts. 

As colheitas anuais de cacau, em maio e novembro, são boas épocas para o passeio.

Quem quiser conhecer todas as fazendas da Estrada do Chocolate deve reservar ao menos dois dias —de Ilhéus a Uruçuca, a rodovia tem 40 quilômetros. Vale a pena esticar o roteiro por mais um dia para conferir também as propriedades na BR-415, estrada que liga Ilhéus a Itabuna.

O agendamento das visitas pode ser feito diretamente com cada fazenda —o escritório da Estrada do Chocolate, no centro de Ilhéus, vai funcionar apenas como central de informações.

Tataraneto do coronel Domingos Adami de Sá, primeiro intendente de Ilhéus, Roberto Novaes recebe os visitantes na propriedade de 300 hectares, na família desde 1815.

Ele assume o papel de guia e mostra todas as instalações, começando pela capela de Nossa Senhora da Conceição, que fica ao lado da porteira.

As barcaças para secagem do cacau podem ser vistas do casarão, mas há a opção de acompanhar os trabalhadores na tarefa de pisar as amêndoas com os pés descalços.

Após percorrer a plantação e degustar o fruto, o turista conhece o interior da casa e se refresca com suco de cacau.

Não é preciso agendar: as visitas acontecem diariamente, das 8h às 16h (R$ 30 por pessoa). O almoço com cardápio baiano pode ser contratado à parte (R$ 60 por pessoa).

Grupos podem ainda optar pelo day use. Por R$ 400, o pacote para seis pessoas inclui trilhas pela mata e passeio de canoa pelo rio Almada. 

Já a diária com pensão completa sai R$ 190 por pessoa —os hóspedes dormem no casarão ou em um imóvel anexo.

Chegar à fazenda já é uma experiência —depois de cruzar a porteira e estacionar o carro, o visitante atravessa o rio Almada, em pé, em uma balsa de tração manual.

Na outra margem, aguarda o agrônomo mineiro Marcelo Abrantes, que adquiriu a propriedade há quatro anos e decidiu revolucionar. Em vez de destinar seus frutos à fabricação de chocolate, inventou um método para produzir cachaça a partir do mel do cacau.  

A destilaria deve ficar pronta em dezembro, mas os primeiros lotes experimentais já podem ser provados, além dos outros produtos da Porto Esperança: mel de cacau in natura e amêndoas caramelizadas com açúcar demerara.

Além da degustação, a visita —que deve ser agendada e custa R$ 100 por pessoa— inclui caminhada de um quilômetro, roça adentro, para conhecer a cascata da fazenda. Vale negociar um pulo até uma bonita ponte ferroviária, construída em 1910.

  • Fazenda Riachuelo

A propriedade fabrica o chocolate Mendoá —produz 300 quilos por dia, distribuídos para 17 estados. É o único endereço da nova rota onde se conhece o processo todo: da lavoura de cacau à barra.

O visitante começa pela fábrica —é preciso usar roupas especiais para ver de perto, através de vidros, como as amêndoas viram chocolate.

Em seguida, uma caminhonete leva o turista pelos dois quilômetros de estradinhas de terra que cortam a plantação. Quem estiver disposto a sujar os sapatos pode ir a pé ao local onde os trabalhadores quebram a casca do cacau e separam as amêndoas.

Em setembro, a fazenda ganhará um lojinha. A visita deve ser agendada por email e custa a partir de R$ 50 por pessoa.

Estrada Ilhéus-Uruçuca, km 20


  • Fazenda Capela Velha

A fazenda estava em ruínas quando foi comprada, em 2011, pelo casal mineiro Tais e Carlos Tomich. Eles conduziram uma restauração e, pela primeira vez, estão recebendo visitantes.

A construção onde funcionava o antigo secador de cacau foi transformada em um salão com cozinha, onde os dois recebem grupos a partir de dez pessoas.

Ao redor das mesas ficam antigos equipamentos da fazenda, como o bodogo (facão para cortar cacau), o bicador (instrumento pontudo para pegar o cacau no chão) e o caçuá (cesto de palha para transporte da fruta).

O roteiro é montado a gosto: pode ser uma caminhada rápida pela lavoura, seguida de almoço típico, ou durar o dia todo, incluindo uma trilha e participação na colheita. As visitas devem ser agendadas e custam a partir de R$ 45 por pessoa.

Estrada Ilhéus-Uruçuca, km 32, vicinal de acesso a Mucambo; tel. (73) 99916-2181


  • Fazenda Independência

A propriedade com 500 hectares, colada à cidade de Uruçuca, mudou de mãos em 1982 e foi inteiramente recuperada.

A lavoura de cacau ocupa 250 hectares em terreno bastante acidentado —o passeio pela plantação, que começa em novembro, será feito em trator ou caminhonete 4×4.

O ponto alto do roteiro promete ser o café da manhã (ou da tarde), servido na varanda do casarão: trata-se de uma mesa forrada de quitutes baianos, como cuscuz de milho fumegante regado com leite de coco e bolo de mandioca. As visitas devem ser agendadas (R$ 50 por pessoa).

Estrada Ilhéus-Uruçuca, nº 200; tels.(73) 99983-2518 e (73) 99110-0213


  • Fazenda Primavera

Há sete gerações na mesma família, a fazenda já não produz cacau em larga escala e funciona basicamente em função do turismo. Quem recebe os visitantes é o proprietário, o falante Virgílio Amorim, 74. O passeio leva duas horas.

Depois de passear de charrete e percorrer a plantação, é hora de conhecer o museu, onde Amorim expõe suas relíquias.Lá  estão louças, utensílios de cozinha e moedas do século 19 e documentos assinados pelo marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892).

No final, é servido lanche com bolo e suco de frutas locais como cacau e cupuaçu. A fazenda funciona de segunda a sexta, a partir das 9h. É preciso agendar a visita, que custa R$ 25 por pessoa.

Estrada Ilhéus-Itabuna, km 20; tel. (73) 98818-3207


  • Fazenda Yrerê

O agrônomo Gerson Marques, 55, é proprietário e anfitrião. Depois de receber os visitantes com suco de cacau gelado, ele dá uma aula sobre a produção de chocolate.

Chega, então, o momento de caminhar pela plantação, conhecer as barcaças, os tanques de fermentação das amêndoas e, em seguida, provar os chocolates especiais produzidos na fazenda.

A  sala da casa serve de lojinha, onde o turista encontra chocolates, amêndoas caramelizadas, nibs de cacau (amêndoas torradas e picadas) e geleia de mel de cacau.

Não  é preciso agendar —os visitantes são recebidos de segunda a sábado, das 9h às 16h, e aos domingos, das 9h às 12h. A visita, de duas horas, custa R$ 30 por pessoa.

Estrada Ilhéus-Itabuna, km 11


  • Instituto Biofábrica de Cacau

A entidade sem fins lucrativos visa desenvolver a cultura cacaueira. Em uma área de 60 hectares são produzidas 3 milhões de mudas por ano, incluindo outras espécies, como mandioca e abacaxi.

Ao longo de 30 minutos, os visitantes percorrem os viveiros acompanhados de um dos biólogos da equipe e, ao final, podem comprar mudas —cada uma sai por R$ 1,70. A visita é gratuita e deve ser agendada

Rodovia Ilhéus-Uruçuca, km 32

  • Estação  Rio do Braço

O povoado que se formou ao redor desta antiga estação ferroviária, inaugurada em 1911 e desativada em 1954, parece um cenário esquecido no meio da floresta. 

Ao longo de uma rua há uma fileira de ruínas de casarões erguidos na década de 1920— vários foram usados como locação para a novela “Renascer”, da Globo.

A estação passou por uma tentativa recente de revitalização, mas está fechada. Lá dentro, permanecem preciosidades como um livro de prestação de contas, escrito à mão, datado de 1929.

Estrada Ilhéus-Uruçuca, acesso pelo km 25


  • Haras Ilha Bela

Desde janeiro, a propriedade recebe visitantes aos sábados e aos domingos, das 9h às 17h, em sistema de day use. O turista paga R$ 40 para ter direito a todas as atividades: trilha, passeio a cavalo, piscina, pescaria, pedalinho, tirolesa e futebol na areia. 

Para as crianças, há touro mecânico, plantio na horta, futebol com sabão, passeio de charrete e ordenha. O almoço, que inclui pratos típicos preparados no fogão a lenha, é servido no esquema bufê e pago à parte: R$ 55 o quilo, sem bebidas.

Quem se hospeda em um dos seis chalés pode jantar em torno de uma fogueira. O pernoite sai R$ 180 para o casal.

Distrito Rio do Braço, estrada Ilhéus-Uruçuca, acesso pelo km 23; tel. (73) 99981-4829


Pacotes de viagem

R$ 834 
4 noites em Ilhéus, na Flot Viagens  
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui city tour. Sem aéreo

R$ 877 
5 noites em Ilhéus, na Submarino Viagens 
Pacote por pessoa, em quarto duplo. Inclui café da manhã e passagem aérea a partir de São Paulo

R$ 1.216 
4 noites em Ilhéus, na Ahoba Viagens
Pacote para agosto. Inclui café da manhã, traslados e seguro-viagem. Sem aéreo

R$ 1.278 
3 noites em Ilhéus, na CVC  
Hospedagem em quarto duplo, com café da manhã. Inclui aéreo a partir de São Paulo e traslados

R$ 1.873 
7 noites em Ilhéus, na RCA Turismo  
Valor para saída em 25 de julho. Inclui aéreo e seguro

R$ 2.860 
4 noites em Ilhéus, na Expedia  
Pacote por pessoa, em quarto triplo, no sistema all inclusive. Preço válido para o período de 3 a 7 de agosto. Inclui passagem aérea a partir de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo