As vozes das ruas – Maurílio Fontes
Diz um velho adágio popular “que quem tem ouvido é para ouvir”. As vozes das ruas nestes últimos dias foram eloquentes e não deixaram dúvidas quanto aos desejos de mudanças na condução dos recursos públicos e no relacionamento entre a sociedade e os políticos.
Perplexos, os políticos demonstraram um mal estar evidente e titubearam em demasia, até tomarem atitudes meramente circunstanciais para aplacar situações momentâneas.
Não perceberam nas primeiras horas que um tsunami se aproximava.
Declarações formais de nada resolveram. Pura baboseira dos consultores de marketing e comunicação.
Ontem, mais de um milhão de pessoas nas ruas. Vozes que querem ser ouvidas e não aceitam mais os descalabros com os recursos públicos, os investimentos que não geram bem estar social e a teatralização da política, que se transformou há muito tempo em espaço privilegiado para bufões de quinta categoria, escroques e marginais de várias e péssimas espécies.
A crise da democracia representativa é evidente.
Se nos anos posteriores à Revolução Francesa de 1789 ela foi uma grande inovação, em nosso tempo já não consegue ser o elemento intermediador entre a sociedade e o estado, que carcomido por interesses de grupos, está com olhos fechados para as demandas do povo.
Assim é no Brasil e em boa parte do mundo. A crise, mais evidente aqui e ali, camuflada pela letargia em muitos lugares, é um momento privilegiado para rearrumar o modus operandi dos políticos e estabelecer novos nexos entre aquilo que deseja de fato a sociedade e a capacidade de resposta do estado em suas três esferas.
Em Alagoinhas, vivia-se em estado de êxtase aparente por conta das fábricas que chegam e do discurso desenvolvimentista do governo municipal, tão pródigo em ressaltar suas conquistas, como também em camuflar as péssimas condições da educação municipal, da saúde e da infraestrutura do município.
Desenvolvimento só deve ser ressaltado quando grande parte da comunidade se beneficia dele, quando aponta para um futuro melhor e quando ações estruturantes de longo prazo são colocadas em prática.
Discursos fáceis e fartos não constroem o futuro que a juventude deseja para suas vidas e para o povo brasileiro.
As vozes das ruas estão aí e continuarão ecoando nos próximos dias aqui e alhures.
Quem tem ouvidos que as ouça.
E quem tem juízo e responsabilidade que tome as atitudes demandadas pelos que ocupam as ruas deste imenso e até então adormecido Brasil.