As 18 vezes que ACM Neto e Rui Costa entraram em confronto

Com a eleição para o governo da Bahia cada vez mais perto, o clima entre o governador Rui Costa (PT) e o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), tem azedado nos últimos meses.

Se antes evitavam trocar chumbos na imprensa, agora, sempre que podem, os prováveis adversários no pleito deste ano entram em confronto direto na tentativa de demonstrar a superioridade de suas administrações. O clima entre os gestores, que começou a ficar acirrado em 2015 quando Rui assumiu o Palácio de Ondina, esquentou de vez a partir de 2016, quando ACM Neto disputou à reeleição.

No Carnaval daquele ano, o petista quase ficou de fora da folia, pois, a prefeitura não havia, até o final de janeiro, enviado um convite oficial. Depois de uma repercussão negativa na imprensa, ACM Neto anunciou que ligaria para convidar o governador. Rui participou da entrega das chaves ao Rei Momo, ao lado do gestor soteropolitano.

A relação entre os chefes do Palácio de Ondina e do Thomé de Souza é tão complicada que os dois evitam até se cumprimentar em eventos oficiais. Neto diz que Rui tem “cintura dura” e já chamou o governador de “invejoso” e “incompetente”. Já o petista nomeou o democrata de “mentiroso” e “mimado”.

Confira os embates:

1) Fora do Carnaval – O governador quase ficou de fora da entrega das chaves ao Rei Momo no Carnaval de 2016, porque a prefeitura decidiu antecipar o dia da festa e não enviou o convite oficial para o chefe do Palácio de Ondina. Após a polêmica na imprensa, ACM Neto fez questão de anunciar publicamente que ligaria para Rui Costa para convidá-lo.

2) Exclusividade da cervejaria no Carnaval – Na mesma folia, o governador se manifestou contra o sistema de exclusividade da cervejaria, que permite apenas as bebidas patrocinadoras do evento vender nos circuitos da festa. O prefeito ACM Neto ficou irritado com a declaração do petista e reagiu: “Não é assunto para governador tratar. Antes de opinar sobre isso ele devia então retirar a exclusividade de vendas da Itaipava na Arena Fonte Nova”.

3) Minha Casa, Minha Vida – Em junho de 2016, Rui não gostou de ficar de fora de um evento dos ministros do então presidente interino Michel Temer (PMDB) para a entrega de imóveis do “Minha Casa, Minha Vida”, na Estrada do Bom Sucesso, no CIA-Aeroporto, e criticou: “Meu orgulho é ter construído, junto com Dilma [Rousseff, presidente afastada] e Lula, este programa maravilhoso, extraordinário. Cada um se realiza com a obra que quer. Então, eu me realizo com aquilo que fiz, que ajudei a fazer”. Neto retrucou: “Ele é um invejoso. É o que tenho a dizer”.

4) Licitações de obras – O governador imputou ao prefeito o atraso de algumas obras em Salvador. No lançamento da candidatura de Alice Portugal (PCdoB) à prefeitura na eleição de 2016, voltou a repetir o discurso: “Eu preciso de uma prefeita que não atrase uma licitação minha por seis meses. Que não atrase obras da Embasa”, afirmou, ressaltando que “quem é filhinho de papai não gosta nem que fale do cabelo, quanto mais ouvir crítica”. Em resposta, o democrata acusou o governador de “querer criar falsas polêmicas”. “Talvez ele não tenha muita coisa para fazer e quer criar polêmica onde não existe”, frisou.

5) Reeleição – No mesmo dia em que foi reeleito prefeito, ACM Neto não perdeu a chance de mandar recado para Rui. “O governador foi o grande derrotado desta eleição”. Segundo ele, o governador, que apoio três candidatos (Alice Portugal, Pastor Isidório e Claudio Silva), o escolheu como adversário. Tempos depois, o mandatário do Palácio de Ondina respondeu a provocação. Disse que o democrata foi “beneficiado” pela gestão anterior e afirmou que Neto está cercado por “Menudos”, que “enriqueceram rapidamente”.

Foto: Max Haack/Agecom

6) A eleição da UPB – Mesmo após a derrota de seu candidato para comandar a União dos Municípios da Bahia (UPB), o prefeito quis alfinetar o seu adversário. O democrata afirmou que foi “extraordinário” o desempenho de seu aliado Luciano Pinheiro (PDT), gestor de Euclides da Cunha, que perdeu o pleito para Eures Ribeiro (PSD). “Luciano teve mais do que apenas os votos da oposição, sendo que muitos prefeitos da oposição não puderam estar aqui presentes, o que mostra que a base do governo está fraturada”, provocou.

7) Vitória de Coronel – Logo depois de o deputado estadual Ângelo Coronel (PSD) ser eleito presidente da Assembleia Legislativa da Bahia (AL-BA), o governador parabenizou o vencedor e desejou “sabedoria” para manter a base aliada unida. O prefeito aproveitou para alfinetar Rui. Afirmou que o petista sempre apoiou o parlamentar Marcelo Nilo (PSL), que desistiu da eleição, e pontuou que Coronel era o candidato da oposição. “O governador Rui Costa vê a realidade de acordo com as conveniências do momento. Essa distorção faz com que ele agora ande a comemorar até derrotas políticas. Perto da derrota acachapante, Rui Costa agiu como um torcedor que, vendo o seu time ser rebaixado, trocou de camisa para evitar o vexame. Ficou feio”, afirmou Neto.

8) Mais dias no Carnaval – A decisão de Neto de ampliar os dias do Carnaval de 2017, sem prévio comunicado à Secretaria de Segurança Pública, gerou novo embate. O governador falou que tomar tal medida, sem informar o governo, mostrava que faltava a prefeitura um “profissionalismo”. O gestor soteropolitano negou e disse que um vazamento da informação gerou a polêmica, sem que antes “tivesse chegado aos ‘finalmentes’ com o governo”.

9) Glauber Rocha – Um projeto do Executivo municipal que tentava retomar a região do Glauber Rocha, no Centro de Salvador, voltou a provocar atrito entre o governador e o prefeito. Rui afirmou que achava “esquisita” a proposta e se recusou devolver a área, sem haver acordo. Na época, o gestor estadual ameaçou ir à Justiça para permanecer com a região cedida pela prefeitura ao governo, em 1973. Para evitar mais confusão, Neto recuou e mandou a Câmara engavetar a matéria, que já estava para ir à votação.

10) Ovada em Dória – Depois de manifestantes jogarem ovos nos prefeitos de São Paulo e Salvador, João Doria (PSDB) e ACM Neto, o democrata acusou o governador de ser responsável pela ação. “Vandalismo. Atitude de gente bandida, criminosa, que não tem nenhum respeito e apreço pela democracia. Nós sabemos a serviço de quem está e eu não tenho medo de dizer que é, sobretudo, do governador Rui Costa”, disse. O chefe do Palácio de Ondina negou e atribuiu a declaração do adversário a “falta do que fazer”.

11) IPTU – A prefeitura divulgou, em julho de 2017, que passaria a cobrar IPTU de equipamentos públicos, como Arena Fonte Nova e estações do metrô, que pertencem ao governo. A decisão provocou uma reação do governador, que ameaçou judicializar o caso. “Nós vamos judicializar. Aliás, como tudo, na relação com a prefeitura, está virando uma relação judicializada”, afirmou. Neto recuou e disse que o martelo sobre a cobrança ainda não havia sido batido.

12) Demissão – Durante uma inauguração da Unidade de Saúde da Família (USF) do Bom Juá, o prefeito resolveu atacar a segurança pública e pediu a demissão do secretário de Segurança Pública, Mauricio Barbosa, e do comandante-geral da PM, coronel Anselmo Brandão. Segundo Neto, Rui não gostou da sua declaração e, no outro dia, mandou que PMs a serviço da prefeitura voltassem aos quartéis. Para o prefeito, foi uma “retaliação”. O governador negou e afirmou que o gestor soteropolitano estava “mentindo”.

13) Boicote – Em setembro do ano passado, o governador disse que ACM Neto pediu ao prefeito de Barreiras, Zito Barbosa (DEM), que recusasse uma parceria com o Executivo estadual. “Me causa, não preocupação, mas tristeza e indignação, ver alguns trabalhando contra o desenvolvimento da Bahia”, acusou Rui. O democrata negou e chamou o petista de “leviano”.

14) Centro de Convenções – O anúncio da prefeitura de que construiria um Centro de Convenções municipal abriu um novo confronto entre Neto e Rui. O prefeito mandou o governador investir o dinheiro, que seria usado para erguer um equipamento do estado, em “outra coisa”. Rui rebateu e afirmou o mandatário do Thomé de Souza deveria “utilizar o recurso e construir creches para as crianças, que estão precisando”.

15) Insegurança – Em entrevista à rádio Metrópole, o governador resolveu cutucar seu adversário. Disse que “não tinha dúvida nem insegurança” que seria candidato na eleição deste ano. Neto, até o momento, não confirmou sua candidatura. “Não estou preocupado. Talvez ele [Rui] tenha que antecipar, pois ele pode ter preocupação com o cenário político, talvez tenha pesquisas”, respondeu.

16) Briga por apoio – A briga por apoio de partidos rendeu alguns confrontos entre Rui Costa e ACM Neto, em 2017. Aliados do prefeito tentaram – e tentam – atrair siglas do petista para seu grupo. Há disputa para saber quem vai ficar com o PSD, o PP e o PR. A mais recente troca de farpas por esse motivo ocorreu no final do ano passado. O governador apostou R$ 10 que o PP continuaria na sua base. O prefeito não perdeu tempo e provocou: “Confiança está baixa demais”.

17) Integração metrô e ônibus – A integração do metrô com os ônibus da capital baiana rendeu muitas brigas entre o prefeito e o governador. O governo queria que a prefeitura cortasse as linhas de ônibus, que correm ao lado do metrô, e não cobrasse dos passageiros metropolitanos outra passagem para usar os veículos soteropolitano. Em face da resistência, Rui ameaçou licitarônibus exclusivos para atender o modal, com ar condicionado e o wi-fi. Neto afirmou que não ia “comer pilha do governador” nem se contentar com “integração ‘calça-curta’”. Em agosto do ano passado, o chefe do Palácio Thomé de Souza convocou a imprensa e decidiu acabar com a novela. Na ocasião, anunciou a integração plena.

18) Empréstimo do BB – Nenhuma novela na política da Bahia, no ano passado, teve mais capítulos do que a do empréstimo de R$ 600 milhões que o governo pediu ao Banco do Brasil. Rui acusou o grupo do prefeito de comandar um boicote para barrar a liberação do dinheiro a fim de impedir que obras fossem construídas no estado. “Tem gente que acha que vai ganhar a eleição assim”, afirmou. O democrata negou e respondeu que governador tinha “que parar de ver coisa onde não tem”. Disse ainda que o empréstimo não foi liberado por “incompetência”. A trama só encerrou no dia 28 de dezembro, quando o dinheiro foi depositado.

 

Fonte: bahia.ba

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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