Após ano de chacinas, cenário de violência policial deve se agravar em 2016

moleques mortos

Carlos Eduardo, Roberto, Cleiton, Wilton e Wesley. Cinco amigos de infância que tiveram suas vidas abreviadas ao cruzarem seus caminhos com o de uma equipe da Polícia Militar do Rio de Janeiro. As mortes se deram na noite de 28 de novembro de 2015 – um ano marcado por chacinas, episódios de repressão e flagrantes de desvios de conduta por parte de policiais em vários Estados do País.

Os cinco jovens da comunidade de Costa Barros retornavam do Parque de Madureira, onde haviam passado a tarde, no momento em que foram assassinados. O carro que transportava o grupo foi atingido por 81 disparos feitos pela PM. Desse total, 30 tiros acertaram os jovens, com idades entre 16 e 25 anos.

Em depoimento, os quatro policiais responsáveis pela ação alegaram ter revidado supostos disparos feitos pelo grupo de amigos, versão contestada pelo Ministério Público. A promotoria denunciou os agentes acusando os policiais de terem manipulado a cena do crime para tentar sustentar a versão de que houve um confronto.

“Esse episódio, em que houve a alteração da cena, foi o caso de violência policial mais impactante para mim. Ficou muito claro que houve um julgamento prévio por parte da polícia, que considerou aqueles jovens bandidos sem razão”, avalia o diretor de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Roberto Dutra Torres Junior.

A execução dos jovens em Costa Barros foi um dos muitos casos noticiados este ano de policiais modificando cenas de crimes. Ainda no Rio de Janeiro, onde PMs inclusive dispararam contra inocentes ao confundirem com armas um macaco hidráulico e um skate, cinco policiais foram flagrados em vídeo colocando um revólver na mão de um jovem morto no Morro da Providência, na zona norte da capital fluminense.

“Fica claro nessas situações de alteração de cena que os policiais agem errado várias vezes tentando consertar um primeiro erro”, comenta o ouvidor da Polícia de São Paulo, Julio Cesar Neves.

Para o consultor e ex-secretário nacional de Segurança Pública coronel José Vicente Filho, condutas criminosas por parte de policiais podem ser expressões de uma formação deficiente. “O treinamento de policiais no Rio de Janeiro é feito em até quatro meses e em péssimas condições. Então a tendência é de que a situação vá piorando por lá, como já está acontecendo.”

Chacinas

Mas o Rio de Janeiro não foi o único cenário de crimes e excessos cometidos por policiais em 2015. Um dos casos mais sangrentos deste ano ocorreu nas cidades de Osasco e Barueri, na Grande São Paulo, onde 19 pessoas foram assassinadas na noite de 13 de agosto.

A chacina pressionou o governo paulista a montar uma força-tarefa para esclarecer os crimes. Passados quatro meses, a principal linha de investigação indica que as execuções foram obra de policiais e guardas civis em represália à morte de dois agentes naquela mesma região.

Oito suspeitos foram presos – sete policiais militares e um guarda civil municipal. O processo corre em segredo de Justiça e a Corregedoria da Polícia Militar pediu à Justiça um prazo maior para concluir o inquérito.

“Ficou claro que houve a participação de policiais nesse caso. E em Carapicuíba também”, comenta o ouvidor da polícia paulista, mencionando ainda a ação que deixou quatro mortos em frente a uma pizzaria na região metropolitana de SP, em setembro.

“Essas ocasiões infelizes são uma exceção rara. A PM paulista faz cerca de 30 mil atendimentos por dia. Se houvesse um despreparo ou falta de comando, isso daria um massacre”, pondera o coronel Vicente Filho.

Reprodução/TwitterAtaques que deixaram 19 mortos em Osasco e em Barueri ocorreram em raio de 10 quilômetros
Antes mesmo das chacinas em São Paulo, Estado que somou 17 mortes em série no ano, a população de Manaus vivenciou noites de tensão ao ver seus agentes de segurança ignorando as leis que eles próprios deveriam defender.

Num período de apenas três dias em julho, 34 pessoas foram assassinadas na capital amazonense. Os crimes seguiram roteiros parecidos, quase sempre executados por dois suspeitos em uma moto, com o auxílio de comparsas a bordo de um carro.

Somente em 27 de novembro, mais de quatro meses após os crimes, os primeiros suspeitos foram presos. Uma operação envolvendo diversas forças de segurança prendeu 15 pessoas – entre elas 12 policiais – acusadas de envolvimento na morte de oito vítimas naquele episódio.

“A atuação da polícia em 2015 tem avaliação negativa. O surgimento de tantos casos de violência policial provocou um aprofundamento da desconfiança da população. As pessoas não confiam que a policia possa cumprir o seu papel, que é o de proteger o cidadão”, avalia Roberto Dutra.

Fonte: iG

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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