Alckmin: “Os problemas do país não serão resolvidos à bala”

O pré-candidato à presidência da República e presidente nacional do PSDB, Geraldo Alckmin, esteve em Salvador para receber título de cidadão baiano e buscar votos no Nordeste, tradicional reduto eleitoral do PT. Patinando nas pesquisas eleitorais, nas quais chega a 6% ou 7%, sendo ultrapassado por Jair Bolsonaro (PSL), que pontua 21%, o presidenciável tucano diz que sondagens nesta etapa da pré-campanha são mero recall. Parte do PSDB coloca em xeque sua candidatura. Em entrevista coletiva, pouco antes de falar com A Tarde, Alckmin negou desconfiança no PSDB e revelou que já tem o apoio de quatro legendas. O prefeito ACM Neto, presidente nacional do DEM, seu principal cabo eleitoral na Bahia, não o recepcionou na capital baiana, alegando incompatibilidade de agenda – o que mostra algum ruído no diálogo para a suposta composição. O DEM ainda mantém Rodrigo Maia como pré-candidato à presidência mas, na Bahia, Alckmin terá o palanque de José Ronaldo (DEM). Alckmin não quis polemizar sobre o impacto da não-candidatura de Neto em sua campanha no estado. Também não comentou suposta aproximação com Marina Silva (Rede). Para A Tarde, o tucano disse não crer no avanço de Bolsonaro e defendeu taxar os mais ricos em benefício do Nordeste.

Os votos anti-petistas que tradicionalmente estão com o PSDB estão migrando para Jair Bolsonaro. Qual é sua análise?

A eleição não começou. Então, se você for verificar, 50% praticamente do eleitorado não tem candidato. E dos que dizem que tem, 60% diz que podem mudar de voto. Então, a eleição de 2018, juridicamente só começa depois de 20 de julho. Politicamente só começa depois de 31 de agosto, porque é quando começa a televisão e o rádio. Aí você tem grande atenção da população, acabou a Copa do Mundo, mudou o horário da novela. E aí você vai ter uma grande atenção. A população… o que as eleições têm mostrado é que as grandes mudanças acontecem no final. O eleitor reflete, reflete reflete…e aí decide no finzinho, ele não decide antes. Essas pesquisas de hoje são mero recall, elas não têm maior valor.

Ele não preocupa?

Nenhuma preocupação. Acho que ele não vai… Eu acho que ele vai para o segundo turno.

O senhor e Bolsonaro têm trocado farpas públicas. Por outro lado, o senhor até chamou para o seu programa de governo de Segurança Pública um general [General Campos] e admitiu que a arma deve ser facilitada para o homem do campo. Soa como tentativa de buscar voto do eleitorado que tem o fetiche do militar…

Não. É o tema Segurança Pública. Nós fizemos em São Paulo case mundial. Você sair de 13 mil homicídios para 3 mil homicídios, 10 mil assassinatos a menos quando o Brasil inteiro está subindo. No Brasil inteiro você tem uma píora nos indicadores de Segurança e São Paulo uma melhora espetacular (mostra gráfico em uma folha de papel). Então, nós estamos com os melhores quadros do Brasil. Nós queremos ter o melhor programa de governo para o Brasil. Na área econômica fomos buscar o Pérsio Arida, José Roberto Mendonça de Barros (fez parte da equipe econômica de FHC). Na área de Segurança, o Leandro Piquet Carneiro (professor de Relações Internacionais da USP), um dos grande experts da academia. General Campos (ex-comandante da Escola Maior do Exército) e o Coronel José Vicente (ex-secretário nacional de Segurança Pública na era FHC), dos melhores estudiosos de segurança nacional. A Raquel Lyra, prefeita de (município de) Caruaru e delegada da Polícia Federal. O tema é que é importante. E nós fizemos e vamos apresentar também um grande projeto para saúde. Se você fizer uma pesquisa hoje, uma cidade pequena, média e grande, a primeira preocupação é a Saúde, a população sofre muito com isso. Nós vamos reunir os melhores quadros para poder apresentar as melhores propostas para a população. Quando vamos apresentar? Desde já através da internet, através das redes sociais e, depois, através da televisão e do rádio. Não tem relação com estratégia para arregimentar votos (de Bolsonaro).

A XP investimento divulgou pesquisa com investidores indicando que este setor prefere o senhor, mas acredita que Bolsonaro vence as eleições. Esta é a crença. Como o senhor responde a isso?

O que importa mesmo é a crença do eleitor, e essa só vai se consolidar lá na frente, depois que começarem os programas eleitorais na TV e no rádio. Minha estratégia será uma só, e muito simples: falar a verdade. As reformas de que o Brasil precisa exigem coragem. Os problemas do país não serão resolvidos à bala, no grito. É preciso conteúdo, preparo, conhecimento.

A principal liderança de seu campo político aqui na Bahia, o prefeito ACM Neto (DEM), não será candidato. Isso não impacta na sua candidatura aqui?

Eu entendo o prefeito e respeito a sua decisão. Ele foi eleito e quer ficar prefeito. Já fui prefeito e governador e sei o que é querer entregar as obras, mostrar o seu trabalho. Fica dividido mesmo, é natural. Ele tomou a decisão correta.

O senhor ainda acredita na união dos partidos de centro em apoio à uma candidatura, como o próprio Fernando Henrique está buscando?

Vamos trabalhar para unir o país. E o PSDB será protagonista nesse processo. Temos, é claro, que respeitar os partidos. Quem tiver candidato próprio, disputa. Mas trabalharemos para unir o país em torno de um projeto que recoloque o Brasil nos trilhos. A maior ameaça hoje ao país é a ascensão do populismo, do radicalismo – seja de esquerda ou de direita. O nacionalismo tacanho jogou o país na pior recessão de sua história.

Se por um lado o PT e suas principais lideranças estão na Lava Jato, nomes do PSDB como José Serra, Aécio Neves e Eduardo Azeredo também estão. Do ponto de vista do eleitor fatigado de corrupção é tudo igual. Se não, qual seria a diferença entre PT e PSDB, já que ambos estão na Lava Jato?

Há grandes diferenças. Primeiro que nós respeitamos decisão judicial. Nós não vamos acampar em frente à penitenciária e nem contestar decisões e colocar alguém acima da lei. Ninguém está acima da lei. A lei é para todos, todos, todos… não passamos a mão na cabeça de ninguém, quem errou, paga pelo erro. É isso que a sociedade espera. Nos grandes partidos do mundo você pode ter problema que alguém cometeu um erro. Cometeu um erro, paga por ele.

Em palestra na Ufba o senhor defendeu taxar os mais ricos. Como seria?

O que eu coloquei é que uma das reformas mais importantes para o Brasil voltar a crescer emprego e atrair investimento é a reforma tributária. Mas o modelo tributário nosso é primeiro um cipoal de complexidade, a quantidade de impostos, de alíquotas …não há nada tão burocrático, tão caro do que o modelo tributário brasileiro. Precisamos simplificar.

Então o senhor pode ter desconforto com as classes mais ricas, apoiadores…

Mas a gente tem que fazer o que é correto e o que é necessário e aquilo que a gente acredita. O Brasil chegou onde chegou, 13 milhões de desempregados, decadência econômica, falta de investimento exatamente porque ficou andando atrás de corporativismo. Beneficia uma corporação aqui, beneficia outra ali, o conjunto perece… Precisamos defender dona Maria, seu José, o interesse coletivo e enfrentar o corporativismo.

O Nordeste é o seu desafio maior. Qual é a estratégia de campanha?

Cada eleição tem uma história diferente. Cada eleição você tem um voto diferente. Primeiro vou percorrer a região, ouvir, ouvir, ouvir. Estive em São Luis do Maranhão, ouvindo a indústria, o agronegócios da região Matopiba (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia). Ouvir o setor de serviços, fui à universidade, ouvir os jovens, estudantes, a Federação das Indústrias, os pré-candidatos. Depois fui ao Piauí. Em Teresina, fui a um centro médico importante. Tivemos muitos encontros. Hoje (quinta-feira, 07/06), aqui na Bahia, fomos à região Oeste, região do agronegócio, fomos ao Rio São Francisco. Devo estar indo no domingo para Sergipe, vou ao interior, Itabaiana, capital do caminhão… um grande entroncamento rodoviário, e depois vamos à capital.

O senhor critica o que foi feito pelo governo na questão dos caminhoneiros? Qual solução daria em relação aos tributos?

Eu teria feito antes. Porque o que foi que aconteceu, três fatos conjuntos: primeiro que o governo ano passado mais do que dobrou o imposto sobre combustível PIS/Confins – ninguém fala muito isso. Mas o fato é que dobraram o imposto, só o federal. Segundo, o preço do barril do petróleo disparou no mundo inteiro, crise na Venezuela, embargo americano no Irã… geo-política. Terceiro, o câmbio: expectativa de aumentar juros dos EUA, as moedas se desvalorizaram, inclusive o real. Então, as três coisas aconteceram simultaneamente. O governo deveria ter agido antes. Não é possível a Petrobras dar aumento diário. Já teve onze reajustes em 15 dias. Então, o que é que tem que ser feito: uma média de 30 dias, você passa a ter previsibilidade o reajuste. A outra é o que se chama de colchão tributário ou impostos regulatórios. O próprio PIS/COFINS pode ser… a Cide, disparou o preço. Então, aquele que depende do insumo, vai ter impacto muito grande. Então, o que o governo faz para atenuar essa subida tão forte: baixa o imposto, pode até tirar. Depois o petróleo cai, volta o imposto. Não é que você vai tirar e nunca mais vai cobrar. Você sobe e desce de acordo com o preço, Então, essas medidas não deveriam ter sido feitas sob greve, deveria ser feito antes. E terceiro, precisa ter soluções definitiva. Não era possivel deixar a Petrobras corrigir todo dia. Tem que estabelecer regras. Não é que não vai dar reajuste, mas vai estabelecer previsibilidade e criar colchão tributário.

O que mudou do Alckmin de 2006 para o de 2018?

Estou mais maduro e mais bem preparado. Tenho percorrido o Brasil pregando a união. Quero ouvir a população, preparar um grande projeto de desenvolvimento para o país, de geração de emprego e renda. Um projeto para melhorar a vida de todos, reduzir o custo-Brasil, desburocratizar, destravar a economia. Certamente serei um presidente melhor agora do que se tivesse sido eleito naquele ano.

 

Fonte: A Tarde

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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