Alceu Valença diz não ligar para dinheiro nem para direito autoral
Alceu Valença foi atropelado –e mudou de nome. “Aqui quem fala é Alceu Tipoia”, se apresenta à reportagem da Folha, antes de soltar uma gargalhada.
Com o braço direito imobilizado há duas semanas, desde que foi atingido por um ciclista na orla do Rio (“Foi uma dor da porra, fiquei urrando na calçada”), o cantor teve de adaptar para os shows arranjos de canções como “Tropicana” e “Tesoura do Desejo”, pérolas de seu repertório.
“Não posso tocar violão, então chamei sanfoneiro, encorpei mais o negócio, ninguém vai sentir nem falta”, diz o pernambucano, que a partir do dia 7, faz em São Paulo sete shows, seis deles (no Circuito Sesc) dedicados ao cancioneiro nordestino.
Leia trechos da entrevista.
Direitos autorais
Não me interesso por essas coisas porque eu não ligo para dinheiro. Não faço ideia do que ganho, do quanto tenho. Tem lá um advogado contratado para cuidar dessas burocracias, Deus me livre! Minha mulher é quem sabe.
Quando quero comprar uma coisa, peço um dinheirinho a ela. No Leblon, como todo mundo me conhece, faço pendura em banca de revista, lanchonete, taxi…
Redes Sociais
Adoro o Facebook. Escrevo sobre política, literatura, compartilho músicas. Esses dias publiquei um vídeo cantando nas ruas de Paris, cheias de neve. Os fãs adoram, é outra relação.
Música
Não faço download, nada disso. Para dizer a verdade, mal ouço música. Gosto mais de ler, tenho uma vasta biblioteca em casa.
Inéditas
Tenho um monte de música aqui, mas eu pergunto: lançar um disco para quem? Para quê? Não existe mais mercado, não vale a pena. É mais futuro eu pegar um punhado delas e jogar no Facebook, né?
Novo forró
Não existe novo forró! Isso [o forró eletrônico, que domina as paradas no Nordeste] que cantam por aí é outra coisa, é apelativo, é musicalmente pobre.
O forró de verdade tem métrica, rima, harmonia e melodia típicas, ora!
Você pode misturar com qualquer outra coisa –como eu misturo–, mas aí não vai poder chamar de forró.
Novos nomes
Não acompanho músicos da nova geração. A oferta é muito grande e falta curadoria. Nesse ponto, as gravadoras fazem falta, pois havia algum tipo de filtro, de recorte, mas hoje em dia é um mar de coisas, é muito difícil lidar com tanta informação.
Manifestações de junho
Observei tudo com muita atenção e acho que foi um levante fantástico. Discordo do quebra-quebra, mas é bonito ver o povo nas ruas. Deixou os políticos todos apavorados. Quem é político e é corrupto deve estar em pânico pensando nas próximas eleições e em como vai se apresentar.
Posicionamento
Desde o começo das manifestações eu me pronunciei a respeito, em apoio ou com críticas, nos shows, no meu blog. Mas entendo que é muito difícil artistas brasileiros se posicionarem publicamente. Há um medo danado de desagradar. Ainda mais em se tratando de uma coisa tão difusa como essas marchas.
Eleições 2014
Conheço [o governador de Pernambuco] Eduardo Campos [PSB] desde criança. É um sujeito decente, capacitado, muito inteligente e fez um governo fantástico. Capacitado ele é, mas se vai entrar na disputa é outra coisa –ele ainda não firmou isso.
Fonte: Folha de São Paulo