“A gente está com medo de ter uma gripe, a verdade é essa”, diz epidemiologista sobre coronavírus
O cenário epidemiológico do novo coronavírus foi apresentado nesta terça-feira, 10, em coletiva de imprensa na Câmara Municipal de Salvador. Na ocasião, o secretário municipal de saúde, Léo Prates, e a epidemiologista e gerente do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs) de Salvador, Cristiane Wanderley, falaram sobre o tema.
“O que é impressionante é a quantidade de casos e a velocidade de transmissão da doença, e é interessante a gente observar que quase 90% dos casos são concentrados na China. Fora da China são cerca de 25 mil casos em 101 países e cerca de 500 mortes, ou seja, uma taxa de mortalidade de mais ou menos 2%”, explicou a epidemiologista.
“Não é aquela coisa de ‘pegou, vai morrer’. A gente está com medo de ter uma gripe, a verdade é essa, porque 80% dos casos são um síndrome leve, característica de gripe, e apenas 20% pode evoluir para um agravamento e também já se sabe que uma boa parte desses casos pertence a faixa etária dos idosos”, acrescentou ela.
Durante o evento, o secretário também afirmou que mesmo não existindo a vacina, estão sendo seguidos protocolos epidemiológicos para conter o vírus. “Se chega uma pessoa com sintomas de gripe de determinados países a vigilância epidemiológica faz o teste para o coronavírus e isso é chamado de caso suspeito. Trago esse esclarecimento, porque o caso suspeito demonstra que os protocolos epidemiológicos estão funcionando muito bem. Caso suspeito não é motivo para pânico, pelo contrário”, ressaltou ele.
Léo Prates também explicou que as secretarias municipal e estadual estão se preparando desde que tiveram notícias do surgimento do vírus na China. “Como não temos vacina, identificado o coronavírus, é recomendado o isolamento em casa ou nos hospitais dependendo do estado de saúde do paciente. Com isso, Salvador e Bahia fizeram um plano de contingência que foi submetido a secretaria de vigilância do governo federal para se preparar para o coronavírus e esse plano foi elogiado com um dos melhores”, disse.
“Além disso, o estado conseguiu centralizar os exames. E para facilitar, no final do mês vamos comprar um equipamento que pode descartar até 23 tipos de vírus respiratório”, acrescentou o secretário. Após a fala de Léo Prates, Cristiane Wanderley foi chamada para esclarecer fatos mais técnicos sobre o coronavírus. “Nesse momento, a gente pede clareza com o que a gente está lidando e, sobretudo, trocar o pânico pela informação”, destacou a epidemiologista.
Ao falar sobre o cenário atual, a especialista também fez alguma comparações com outra epidemias. “Não podemos deixar de lembrar que no período de 2002 e 2003 tivemos uma doença muito parecida que foi a SARS, onde o próprio coronavírus era o agente causador e esse novo vírus é uma mutação dele. Tem um similidade de 80%”, explicou.
“A outra epidemia durou mais ou menos 9 meses em apenas 26 países, com 8 mil casos, diferente de agora que são mais de 100 mil casos no mundo. Por fim, o que há de diferente e mais importante nesse momento é que a SARS tinha uma letalidade alta de 10% e o COVID tá em torno de 3%, então isso já é uma vantagem enorme”, completou ela.
“É importante entender o que de fato promove e favorece a ocorrência de uma emergência de saúde pública, que depende de vários fatores, como o ambiente, o hospedeiro, o patógeno e o vetor. Se observarmos a epidemia do H1N1, a gente vê que as regiões mais afetadas foram Sul e Sudeste. Temos que entender também como é a dinâmica do vírus, se é possível em regiões tropicais, onde o calor é mais intenso. E aí vem o caso do H1N1, em que o Nordeste não foi tão afetado”, destacou Cristiane.
Para finalizar, a epidemiologista frisou a importância de lavar as mãos como prevenção da doença. “Lavar as mãos é muito mais importante que usar máscara, porque a máscara, inclusive, vai induzir que toda hora seja colocada a mão no rosto e precisa estar limpa”.