A rotatividade no poder – Ricardo Guedes

A rotatividade do poder é algo que historicamente ocorre nas democracias eleitorais modernas e ocorrerá no Brasil.

As vitórias de Lula em 2002 e em 2006 marcam no Brasil a formação um pacto do tipo social democrata europeu, em escrutínios eleitorais sucessivos entre o PT e o PSDB.

O pacto social democrata tem a seguinte lógica: todo partido de esquerda para chegar ao poder por via eleitoral tem que abrir mão da representação única da classe dos trabalhadores, flexibilizando os seus objetivos.

O número de trabalhadores manuais veio crescendo continuamente no século XIX, até se estabilizar a partir de 1920 em 25% da população economicamente ativa em todos os países.

Para se fazer maioria em eleições de 2º turno, todo partido de esquerda tem que ampliar o espectro de sua representação, para que possa alcançar mais de 50% dos votos.

Na formação do pacto, a esquerda passa a se institucionalizar, e a direita cede espaço para programas sociais, com tendência de formação bipartidária e rotatividade de poder.

Assim funcionam republicanos e democratas nos Estados Unidos, conservadores e trabalhistas na Inglaterra, e assim por diante, na Alemanha, na Suécia, e no Japão.

Nos Estados Unidos, quando os democratas saturam a sociedade com programas sociais, vêm então os republicanos que aumentam a lucratividade social.

Quando a lucratividade gera maiores disparidades de renda na sociedade, retornam os democratas e seus programas sociais.

É nítida a melhora do Brasil nas últimas décadas. A expectativa de vida aumentou em 11 anos nos últimos 30 anos, e o IDH passou de 0,49 para 0,72 nos últimos 20 anos.

A desigualdade diminuiu em 80% dos municípios brasileiros nos últimos 10 anos.

De 2002 a 2010, o Brasil experimentou notável desenvolvimento econômico baseado na exportação de commodities, e na política de expansão do crédito para o maior desenvolvimento do mercado interno.

Com o esgotamento do atual modelo de crescimento, nos últimos dois anos tivemos o aumento de 1% do PIB e inflação de 6% anuais, o que significa a erosão de 10% do poder de compra da população, mesmo que se obtenha sucesso no controle da inflação atual.

Os salários nominais em reais continuam acima da linha de pobreza, mas na paridade do poder de compra muitos milhões de brasileiros já retornaram à pobreza efetiva, tal qual conceituada.

A popularidade de Dilma Rousseff apresenta relativa recuperação na casa de 35%, estando, entretanto, muito abaixo dos índices de 65% garantidores da reeleição.

Lula e Dilma venderam ao país a continuidade do crescimento e distribuição de renda, mas os últimos dois anos foram contra o seu próprio objeto social.

Hoje, nas pesquisas, 60% optam pela prioridade do crescimento do país, contra 20% que priorizam a distribuição de renda.

A rotatividade de poder ocorrerá e será benéfica para o Brasil.

Ricardo Guedes, Ph.D. em Ciências Políticas pela Universidade de Chicago, é Diretor-Presidente do Instituto de Pesquisa Sensus.

 

Fonte: Blog do Noblat

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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