Números e novas faces do Partido dos Trabalhadores – Maurílio Fontes

NÚMEROS

A imprensa registra hoje pesquisa realizada no Nordeste pelo PSDB que coloca Dilma Rousseff com 20% de intenção de votos, demonstrando a força do presidente da República na região.

Nascido das lutas dos operários do ABC paulista, o PT sempre teve um viés urbano, classe média, voltado para os interesses daqueles que se encontravam no meio da pirâmide social.

No governo, as políticas compensatórias e o carisma do presidente Lula, garantem, de pronto, a qualquer candidato oficial, uma significativa margem de votos, sem muito esforço, na região.

São milhões de famílias atendidas pelo Programa Bolsa Família e que se tornaram potenciais eleitores da candidata do PT e dos partidos coligados.

Romper isso não será fácil e não bastará apenas ao PSDB, DEM, PPS e outras siglas afirmarem que manterão o programa.

Será preciso ser crível, apresentando diferenciais discursivos em relação à campanha de 2006, quando o PSDB, no segundo turno, não reagiu às acusações do PT em uma série de situações, a exemplo da possível privatização do Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal.

Se ficar encurralado, a derrota será iminente. Mexer em um programa tão caro aos menos favorecidos é loucura e certamente os opositores não farão isso.

Falar bem do Bolsa Família não será viável porque este discurso cabe ao governo.

Afirmar e reafirmar o programa como algo nascido na era FHC não resultará em nada porque o nível de lembrança daqueles que recebem o benefício não retroage aos anos anteriores do atual governo.

Tal qual um boxer no canto do ringue, os oposicionistas não terão muitas alternativas: não cair na lona logo nos “rounds” iniciais é uma alternativa inarredável para não perder a disputa e ficarem mais oito anos fora do poder.

O PT mudou. Já não carrega o charme de uma esquerda contestadora e modelo de virtudes. O poder tem esse condão.

Se mudou qualitativamente, agregou ao seu possível espectro eleitoral milhões de pessoas que percebem no presidente Lula o defensor dos pobres.

Os intelectuais que ajudaram a dar forma e conteúdo ao partido no passado foram importantes para a história da legenda, mas o voto de milhões de nordestinos poderá selar a continuidade do governo.

Mesmo que para isso o partido tenha que mudar um pouquinho mais.

Agora, o charme não importa. Mais importa a manutenção do poder. Encontrar um caminho discursivo que estabeleça uma conexão direta com os nordestinos menos favorecidos é o grande desafio para os oposicionistas.

Conseguido isso, em parte pelo menos, a campanha será menos árida e com mais chances de vitória.

O PT mudou.

A oposição também precisa mudar, transformando o discurso político em propostas que atendam à média da população do Nordeste, principalmente àqueles que fazem dos reais recebidos do Bolsa Família sua única alternativa de renda.

Não será fácil. Mas cabe à oposição e somente a ela este grande desafio.

Artigo publicado originalmente no blog Política, Poder & Negócios em 13 de maio de 2010

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo