Barcelona: da cidade modelo à cidade de marca – Luis Alencar

Barcelona da cidade modelo à cidade de marca sobrepõe um mero título que o autor desse texto por inspiração resolveu dotar seu discurso.

Esse pedigree logrado pela capital catalana se deve a um planejamento efetivo que se desenvolveu e que lhe fez merecer o selo de cidade criativa. Mas, vocês devem estar me perguntando, que marca é essa? Para que eu não fique falando russo e agrade a gregos e troianos, um breve histórico sobre Barcelona não será nada mal.

Barcelona é a segunda principal cidade espanhola, localizada na Catalunha, que por sua vocação industrial chegou a ser comparada como uma pequena Manchester. Esse atributo também veio a lhe render uma postura vanguardista em relação ao resto da Espanha. Apesar disso, essa mesma conjetura que lhe singularizava vivia um largo período de ostracismo, devido à má situação econômica espanhola naquele período.

Então, os catalães empreendedores, como gostam de serem caracterizados, apostaram nesse evento esportivo para mudar a face da moeda que vinha incomodamente tangendo a realidade do país e da cidade. Industrial e vanguardista, assim poderíamos dizer que é o modelo Barcelona. E qual seria sua marca? Progressista, moderna e diferencialmente catalana, ou seja, Barcelona se apropriou do que é seu, colocando em miúdos, potencializou suas características inatas trazendo estas para um patamar de centralidade na sua política de Estado. Nesse caminhar se formulou o planejamento estratégico da cidade, priorizando a qualidade de vida, bem- estar, a cultura, geração e difusão do conhecimento e da criatividade e o capital humano.

Imerso nesse plano, Barcelona investe numa extraordinária ação museística aproveitando o valor artístico dos seus filhos pródigos, Salvador Dalí, Pablo Picasso e Joan Mirò; cria a Barcelona Platò Film, um polo audiovisual que irá promover os melhores atrativos da cidade; os festivais, ao produzir o principal encontro de música eletrônica da Europa, atualmente, com franquias por vários cantos do mundo, incluindo Brasil, na cidade de São Paulo; e por último, indo, na época, na contramão do turismo espanhol, na qual todos os destinos apostavam por ênfase nos atrativos naturais, Barcelona direciona seu projeto turístico para o segmento cultural.

Complementando esse rol de oportunidades, os serviços de telentrada, cuja ideia é a venda em rede de ingressos para uma variedade de espetáculos; e o bicing Barcelona, uma proposta inovadora para sua mobilidade em bicicletas publicas mediante o pagamento anual de uma taxa simbólica. Por essas e outras, Barcelona se tornou o que é. Uma marca de interculturalidade, empreendedorismo e qualidade de vida.

Agora, a pergunta que não quer calar: e o Brasil? E Salvador? Minha posição é que devemos pensar em alguns aspectos fundamentais para a transformação, como: a pertinência para e com a cidade através de significação do patrimônio cultural e uma reurbanização que convide o cidadão a viver o lugar, através da criação de vias que estimulem a caminhada; pensar o lugar e sua sustentabilidade, sob olhar econômico, social, cultural e ambiental utilizando a criatividade a favor da cidade com o fomento da inovação, estabelecendo conexões entre o público e o privado, e valorizando a cultura local; a infraestrutura para elevação da qualidade de vida, através da melhoria da mobilidade urbana, da descentralização e gestão autônoma com a criação de centros cívicos; a dinâmica populacional, na variante da diversidade e do diálogo intercultural, favorecendo a convivência entre o autóctone e o forâneo estimulado pelo intercâmbio e uma visão global que ao mesmo tempo valorize os aspectos locais; o estilo de vida desejado, no âmbito profissional e como esta pretende se organizar nos espaços de lazer e na produção de atividades relacionadas ao entretenimento, estimulando e atraindo a criatividade com a vinda de empresas cujo insumo central é o capital intelectual; e na maximização de suas potencialidades, ação que perpassa no alinhamento da cidade com sua verve vocacional.

LUIS ALENCAR

Bacharel em Turismo pela Fundação Visconde de Cairu com pós-graduação em Turismo Cultural e mestrado em gestão cultural (Universidade de Barcelona). Especialista em Produção Multimídia pela Universidade Aberta de Catalunha. Consultor associado à Cooperativa dos Profissionais Liberais da Bahia (COOLIBA).

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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