Argentinos traçam estratégia da oposição para vencer Dilma

Dois personagens centrais para a construção da propaganda contra a presidente Dilma Rousseff nas eleições deste ano foram apresentados ao universo político brasileiro pelos homens que definiram a estratégia de comunicação do PT desde sua chegada ao poder, em 2002.

Diego Brandy, 51 anos, é quem analisa pesquisas, antecipa tendências e aconselha o ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos, pré-candidato do PSB. Guillermo Raffo, 49, é a principal aposta da equipe de criação da campanha do senador Aécio Neves (MG), nome do PSDB para o Planalto.

Ambos são argentinos e foram “importados” por Duda Mendonça e João Santana para o Brasil. Eles trabalharam em uma eleição com os marqueteiros pela primeira vez fora do país, em 1999. Na época, Duda era sócio de Santana. Anos depois, os dois romperam. Hoje, Santana comanda sozinho a campanha de Dilma à reeleição e vai enfrentar os “hermanos” que descobriu com o ex-sócio.

Brandy é chamado de “guru” de Campos. Raffo, que trabalhou diversas vezes para petistas no Brasil, é considerado um ativo valioso na conselho de comunicação montado por Aécio.
Os dois têm em comum o perfil discreto. São arredios a entrevistas e evitam exposição. Também são extremamente ansiosos. Diego fuma bastante, mas diferentemente do que a compulsão pelo cigarro poderia fazer supor, é sereno e de pouca fala.

Raffo perdeu quatro quilos desde que começou a trabalhar nesta campanha. Calcula que daqui até o fim da eleição perca dez. “Quando cria, o Guillermo tem uma imersão visceral, extremamente aguda e intensa”, descreve Paulo Vasconcelos, chefe de Raffo e de toda a equipe de comunicação de Aécio.

Amigos e integrantes do PSB são quase unânimes na descrição de Brandy, um sociólogo, casado com uma argentina e pai de quatro filhas. Ele é considerado um profissional capaz de antecipar de tendências. Tornou-se conselheiro de Campos, de quem é amigo desde 2005.

Ministro de Ciência e Tecnologia do governo Lula na época, Campos conheceu o argentino por intermédio do publicitário Edson Barbosa, que faz o marketing do PSB. Ele participou das duas vitórias de Campos ao governo de Pernambuco (2006 e 2010), e de seu candidato à Prefeitura do Recife, em 2012. Tem repulsa à palavra “marqueteiro”. Costuma dizer que ela pressupõe tratar o candidato como um sabonete à venda na prateleira.

Raffo também tem aversão ao rótulo. Ele nasceu em Los Toldos, cidade de 14 mil habitantes no interior da província de Buenos Aires, cuja melhor referência é ter sido a terra natal de Eva Perón.

Formado em Ciências Políticas, foi convidado por Duda e Santana a trabalhar em sua primeira campanha em 1999: a de Eduardo Duhalde, que acabou derrotado por Fernando de La Rua.

Foi o ano que mudou sua vida. E o ano em que seu caminho cruzou com o de Diego Brandy. Na Argentina, Brandy trabalhou em três campanhas presidenciais, as duas primeiras de Carlos Menem e na fracassada tentativa do peronista de fazer Duhalde seu sucessor.

A quem pergunta, Raffo diz que Santana e Duda foram “seus mestres”. Costuma descrevê-los como uma mistura perfeita: João, o estrategista; Duda, o criador. Com a crise econômica na Argentina, em 2001, Duda fechou seu escritório no país e importou Raffo para o Brasil.

Já Brandy fez sua estreia no país no ano 2000, numa campanha para a Prefeitura de Fortaleza, convidado por Edson Barbosa, que depois o levou a Campos. Raffo chegou aos tucanos por caminhos incomuns.

Fez a campanha que elegeu o petista Fernando Pimentel à Prefeitura de Belo Horizonte, em 2004. Depois, integrou o time que elegeu Márcio Lacerda (PSB) prefeito de BH. Lacerda tinha o apoio de Aécio e Pimentel, uma rara candidatura híbrida de PT e PSDB. Ali, Raffo conheceu Paulo Vasconcelos, o marqueteiro de Aécio.

Apesar das semelhanças, os argentinos têm ao menos uma diferença irreconciliável: Brandy é Boca e Raffo é River. Mas as piadas futebolísticas são relevadas.

Brandy ganhou uma camisa da seleção brasileira em seu aniversário de 50 anos. “Ele é um gozador, um milongueiro portenho”, resume Edson Barbosa. Raffo tem até time no Brasil: Cruzeiro. O filho mais novo cresceu aqui. “Ele reúne o melhor dos dois países. É o que o Mercosul deveria ser”, costuma brincar.

GUILLERMO RAFFO

CANDIDATO Aécio Neves (PSDB)

O QUE FAZ É a principal aposta da equipe de criação da campanha do tucano

EXPERIÊNCIA NO PAÍS Elegeu os prefeitos de Belo Horizonte Fernando Pimentel (PT), em 2004, e Márcio Lacerda (PSB), em 2008

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DIEGO BRANDY

CANDIDATO Eduardo Campos (PSB)

O QUE FAZ Analisa pesquisas, antecipa tendências e aconselha o pré-candidato à Presidência

EXPERIÊNCIA NO PAÍS Campanhas de Campos ao governo de PE (2006 e 2010) e de Geraldo Júlio (PSB) à Prefeitura do Recife (2012)

Fonte: Folha de São Paulo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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