78% dos brasileiros acreditam que a corrupção aumentou em 2016, diz pesquisa

A ONG Transparência Internacional divulgou nesta segunda-feira, 9, uma pesquisa realizada entre maio e junho de 2016, que revela a opinião popular sobre corrupção nos países da América Latina e Caribe. Segundo o relatório, 78% dos brasileiros acreditam que o nível de corrupção aumentou no período de um ano até a data da pesquisa.

O Brasil está em quarto lugar dos 20 países participantes, atrás apenas da Venezuela (87%), Chile (80%) e Peru (79%). O momento que a ONG questionou sobre o assunto para os brasileiros coincidiu com o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) que afastou a presidente do cargo ano passado, e que rendeu o posto ao seu vice, Michel Temer (PMDB).

“A coincidência do período de entrevistas com o momento de fortes turbulências na política nacional e mobilização popular nas ruas pode, sim, ter influenciado nas respostas dos brasileiros”, disse Bruno Brandão, representante no Brasil da ONG, em conversa com jornalistas.

No total, 1.204 pessoas foram entrevistadas no país. Outro questionamento levantado no relatório foi como os governos combatem a corrupção. Para 56% dos brasileiros, o governo tem comportamento negativo nesse quesito.

“Como parte dos esforços, os governos deveriam envolver a sociedade civil na luta contra a corrupção. Isto aumentaria sua credibilidade,” afirma Brandão.

Para 52% dos brasileiros entrevistados, a presidente da República, na época Dilma Roussef e seu gabinete, estavam envolvidos em casos de corrupção. 36% acreditam que só alguns integrantes participavam de esquemas ilícitos e 12% não souberam responder. Apesar de a pesquisa ter sido realizada antes de Michel Temer (PMDB) ser presidente, a ONG da Transparência Internacional cita brevemente a Lava Jato e as denúncias contra ele na Procuradoria-Geral da República (PGR).

Corrupção em instituições e grupos sociais

Além do âmbito geral de corrupção, o relatório também abordou quais instituições governamentais são vistas como mais corruptas na América Latina. Na maioria dos países, a polícia e os políticos (como integrantes do Parlamento ou senadores) foram avaliados como os mais corruptos.

“Duas instituições-chave que têm papel vital em uma boa governança foram percebidas pelos cidadãos como as mais corruptas – a polícia e os representantes eleitos”, afirma a ONG. “Quase metade dos respondentes disse que a maioria ou toda a polícia e a maioria ou todos os políticos são corruptos (47%), o que foi mais alto do que qualquer outra instituição sobre as quais questionamos.”

Referente ao policiamento, o destaque foi para Venezuela (73%), seguido por Trinidad e Tobago, Bolívia, México e Paraguai (de 61% a 64%). Já na política, Paraguai (69%), Peru e Chile (64% e 62%, respectivamente) chamaram a atenção.

Surpreendentemente, a polícia brasileira está entre as menos corruptas na percepção dos brasileiros. Foi questionado aos entrevistados “quantas das pessoas nessa instituição você acha que estão envolvidas em corrupção, ou não ouviu o suficiente sobre ela para dizer?”. As respostas foram: 5% nenhuma, 55% algumas, 23% a maioria, 8% todas e 95 não sei/não ouvi falar.

Desta forma, 60% afirmaram que nenhum ou alguns integrantes da polícia são corruptos, enquanto 31% disseram que a maioria ou todos são corruptos.

Suborno pago pela população

A pesquisa também apontou um dado crítico: quase um terço dos latino-americanos pagou suborno para ter acesso a serviços públicos como Saúde e Justiça. A organização calcula que foram cerca de 90 milhões de pessoas, sem diferenças significativas entre gênero, idade e classe social. Porém, a ONG acrescenta que o número pode ser desproporcionalmente maior para os mais pobres.

“O suborno representa um modo de enriquecimento para uns poucos e um grande obstáculo para se ter acesso a serviços públicos fundamentais, em especial para os setores mais vulneráveis da sociedade”, disse o presidente da Transparência Internacional, José Ugaz, no comunicado divulgado à imprensa.

O México lidera com 51% dos entrevistados relatando o pagamento de algum tipo de suborno; no Brasil, o número é de 11%. “Para muitas vítimas de suborno, os benefícios de fazer com que funcionários corruptos expliquem suas ações criminosas não superam os riscos”, explica Ugaz. Apesar dos números alarmantes, pelo menos 83% dos brasileiros acreditam que a população pode fazer a diferença, e 71% passaria o dia no tribunal para denunciar casos de corrupção. Nesse quesito, o Brasil está em maior número da América Latina e o Caribe.

A pesquisa e a ONG

Considerado a pesquisa de opinião mais importante do mundo sobre comportamentos relacionados à corrupção pela Transparência Internacional, o barômetro é baseado em pesquisas com 22,3 mil pessoas em 20 países da América Latina e do Caribe. A ONG pede que “os governos da região reduzam a corrupção na força policial e fortaleçam os sistemas judiciais, assim as investigações poderão ser conduzidas de acordo com os mais altos padrões, os juízes são independentes e profissionais, e o sistema de tribunais terá recursos adequados para lidar com as queixas de corrupção.”

“As leis de proteção a denunciantes devem ser rigorosamente aplicadas, e mecanismos seguros para efetuar as denúncias precisam ser criados para que as pessoas não se coloquem em risco. Somente desta forma os cidadãos terão a confiança para denunciar um incidente de corrupção, sabendo que o perpetrador enfrentará a justiça”, finaliza.

 

Fonte: A Tarde

 

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

Menu de Topo