Uma em cada 5 escolas financiadas com fundo a que pastores tinham acesso está com obras paradas

Enquanto o Ministério da Educação (MEC) está sob suspeita de definir as prioridades de liberação de verbas por indicação de pastores evangélicos que não têm vínculo oficial com a pasta, o Brasil tem mais de 3,5 mil obras escolares atrasadas. Isso significa que um a cada cinco contratos firmados entre 2008 e 2021 já passou da data de entrega sem que o trabalho tenha sido concluído. Juntas, essas obras consumiram R$ 1,3 bilhão. Entre elas, estão construções, ampliações e reformas de creches, escolas e quadras esportivas.

Dessas 3.513 obras, 155 já foram declaradas canceladas, com R$ 21 milhões desperdiçados. Outras 1.831 estão inacabadas, termo usado quando a vigência do contrato se encerra sem a entrega do trabalho completo. Além disso, 348 estão paralisadas e 564 seguem em execução. Os dados são do Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE).

O ministro Milton Ribeiro tem sido acusado de definir a destinação de verbas de acordo com a intermediação dos pastores Gilmar dos Santos e Arilton Moura. Em áudio divulgado pelo jornal “Folha de S. Paulo”, Ribeiro afirmou que “a minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar (…) Por que ele? Porque foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim”.

Dados do portal do FNDE também mostram que pelo menos uma das cidades que teriam sido beneficiadas pela influência dos pastores tem obras paradas. Anajatuba (MA), de 27 mil habitantes, tem três construções interrompidas e, segundo a “Folha de S. Paulo”, ganhou seis novas obras empenhadas no começo deste ano.

Em Orós, no Ceará, uma creche que poderia atender até 224 crianças em dois turnos está abandonada sem nunca ter funcionado. O prédio já está 86% pronto e foram gastos R$ 1,3 milhão. No entanto, a empresa responsável abandonou o projeto e agora já são quatro anos de atraso. Em janeiro, fiscais do FNDE constataram que o telhado precisa de reparos, a caixa d’água não foi feita da forma como o projeto previa, assim como a colocação de vigas nas salas de aulas, e o local onde teria um parquinho está tomado pelo mato.

Até questões climáticas foram responsáveis por atrasarem obras, em cinco casos. Em Cândido Mendes, no Maranhão, um colégio de quatro salas começou a ser erguido na zona rural em 2014. Depois de 30% concluído e R$ 137 mil gastos, os fiscais do FNDE registraram, em 2018, que a obra não poderia continuar por dificuldade de acesso ao local onde era erguida. Uma imagem de uma motocicleta passando por uma rua de barro, no meio da mata, alagada, foi anexada ao relatório de fiscalização.

 

Fonte: O Globo

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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