Técnica de eleição em dois turnos: Brasil 2014

1. Em 1999, o Instituto Friedrich Naumann, do Partido Liberal-Democrata da Alemanha, realizou em Montevidéu um seminário com especialistas internacionais em técnicas de eleição com “ballotage”, expressão francesa para eleições com segundo turno.  O prefeito na época, Cesar Maia, convidado, participou do seminário. Venceu a eleição de 2000 para prefeito do Rio, no segundo turno, e atribuiu a esse seminário a sua vitória.
       
2. Uma eleição com segundo turno e, portanto, com 3 partidos ou mais, tem duas hipóteses gerais. Numa delas há um franco favorito para o segundo turno e os outros dois competitivos. Em outra há três candidatos competitivos sem favorito.
        
3. Na primeira hipótese os dois partidos que competem para ir ao segundo turno devem ter paciência e autocontrole para apenas atirar no favorito, tratando seu competidor com suavidade. Dessa forma se procura atrair o eleitorado do competidor para o segundo turno. Na medida em que os dois competidores atuem da mesma forma, atacando o favorito e sinalizando as suas relações, a probabilidade de conquistar a maioria do eleitorado do outro é muito grande.
        
4. Na segunda hipótese, quando os três são competitivos, a técnica indica que cada um deles deve focalizar apenas naquele que suas análises e pesquisas mostram que tem maior probabilidade de ir para o segundo turno. E, naturalmente, suavizar a relação com o outro. Na medida em que a projeção do segundo turno acerte, a probabilidade de contar com o eleitorado do terceiro, que não passou, é muito grande.
        
5. No caso da eleição presidencial de 2014 no Brasil, as duas hipóteses são possíveis. A campanha de Dilma escolheu Aécio como adversário. Com isso, pretende atrair o eleitor de Eduardo Campos-Marina no caso de um segundo turno.
        
6. A campanha de Aécio usa o primeiro modelo. Partindo da ideia que Dilma é favorita, focaliza nela suas críticas e suaviza as relações com Eduardo Campos para atrair seu eleitor no segundo turno.
        
7. Já a campanha de Eduardo Campos -muito influenciada por Marina- ataca ao mesmo tempo Aécio e Dilma, adotando um caminho não recomendado. Mas não o faz isso por ingenuidade.  Parte da ideia que Dilma é favorita para o segundo turno e que pela origem de Campos e Marina na família política de Lula, se ocorrer -o improvável- de Dilma não ir ao segundo turno, contarão com o eleitorado de Dilma, anti-PSDB.
       
8. E se -o que imaginam- Aécio fique fora do segundo turno, seu eleitor optará compulsoriamente por eles, por ser anti-PT. Uma tática arriscada, sempre que a eleição no segundo turno ocorra num quadro de pequena diferença entre os dois, na medida em que parte do eleitorado de qualquer candidato é flutuante e eventualmente votou nesse ou naquele candidato.

Fonte: Ex-Blog de Cesar Maia

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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