Seca faz até produção parar no interior de São Paulo

A seca no Sudeste do país já atinge a indústria. Empresas relatam aumento nos custos, provocado pela necessidade de tratar a água cada vez mais poluída e de aprofundar os poços artesianos.

Em casos extremos e, por enquanto, isolados, algumas companhias tiveram que recorrer a caminhões-pipa e outras paralisaram a produção.

A prioridade das companhias de abastecimento de água estabelecida em lei é atender à população. Para garantir o insumo e reduzir custos, muitas empresas já captavam direto dos rios ou furavam seus próprios poços. Mesmo assim, são afetadas.

Segundo consulta feita pela Folha com as associações empresariais, alguns setores que consomem muita água já estão sendo atingidos: têxtil, tintas, papel e celulose, e químico e petroquímico.

Em Americana, a Saltorelli Tinturaria Têxtil foi obrigada a acabar com o turno de fim de semana e demitiu 30 pessoas.

“Estamos como no Nordeste antigamente: rezando para chover”, diz Pedro Saltorelli, dono da empresa.

Ele conta que o reservatório da tinturaria chega na sexta-feira praticamente vazio, tornando impossível operar sem interrupção. A captação de água nos poços artesianos caiu pela metade.

A Saltorelli está situada na região onde foram identificados os casos mais graves. Os locais mais afetados pela seca são Guarulhos, Campinas, Paulínia e Americana.

RIOS POLUÍDOS

As empresas do polo industrial localizado a noroeste da capital paulista estão sofrendo com os rios mais poluídos e menos caudalosos.

A Rhodia, que capta água do rio Atibaia na altura da cidade de Paulínia, teve que adotar um “revezamento” de produção em quatro de suas 22 unidades de fabricação de produtos químicos.

Segundo a assessoria da empresa, a situação se normalizou, mas o “gerenciamento” pode ser retomado se as chuvas de verão decepcionarem. A companhia não divulga a queda da produção.

A Petrobras, dona da Replan (Refinaria de Paulínia), está gastando mais para tratar a água que capta nos rios Piracicaba, Capivari e Jundiaí, informou a estatal.

Esses rios costumavam receber o “excesso” de água do sistema Cantareira. Sem isso, estão mais poluídos.

Os fabricantes de papel e celulose situados no Estado de São Paulo não reduziram sua produção, mas estão enfrentando cada vez mais dificuldade para tratar a água.

“Para manter a qualidade da água, algumas fábricas têm que utilizar mais produtos químicos, principalmente sulfato de alumínio e carvão ativado”, diz Jonas Vitti, membro da comissão de ambiente da ABTCP (Associação Brasileira Técnica de Celulose e Papel) e funcionário da Suzano, em Limeira.

Nas regiões de Salto e Itu, duas fabricantes de tintas recorreram a caminhões-pipa para não interromper a produção, conta Narciso Preto, presidente do Sitivesp (sindicato das indústrias do setor).

Ele relata também que uma empresa teve que aprofundar seus poços artesianos e outra criou um sistema para captar água da chuva. As fabricantes de tintas afetadas não quiseram dar entrevista.
esgoto reaproveitado

A situação da indústria em geral ainda não é crítica por causa dos programas de reutilização da água.

A petroquímica Braskem não foi afetada pela seca em sua unidade do ABC paulista graças a um projeto de reaproveitando do esgoto.

Chamado de Acquapolo, o projeto abastece 95% da necessidade de água dessa fábrica.

Maurílio Fontes

Proprietário, jornalista, diretor e responsável pelo Portal Alagoinhas Hoje

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